Futebol no escuro

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"Olha a bola!". Essa frase é tão comum em partidas de futebol que é praticamente impossível pensar em jogar sem enxergar nada. Mas é possível, sim, ignorar a visão e, ainda por cima, fazer uma bela partida. Se você não consegue imaginar, confira a exposição Olhar com Outro Olhar, no Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu. Logo no começo, você é vendado - mas apenas se quiser. Na escuridão, você usa o tato e a audição para "enxergar" e se locomover dentro do recinto, sempre conduzido e auxiliado pelos guias. Os quadros, por exemplo, são pintados em alto relevo. Isso torna a exposição extremamente interativa. "Para aqueles que possuem o sentido da visão, a venda ajuda a ´mergulhar´ na experiência e faz com que o visitante teste novas percepções", conta Clara Azevedo, diretora executiva do Museu. O passeio é monitorado por guias que ajudam os visitantes a se localizar no escuro. Mas, se ele quiser, também pode ter um áudio-guia, que o orienta dentro do ambiente - enquanto isso, os outros sentidos estão funcionando a todo vapor. Acredite: é assiiim... uma Brastemp. "É como se descobrissem ali, durante a experiência, a importância e a riqueza de usar seus outros sentidos", diz.Na ponta dos dedos: é assim que os deficientes visuais enxergam o mundo - e o campo de futebol Uma das experiências mais inusitadas é o Futebol de Cinco. Uma caixa preta é o "estádio", e os visitantes vendados podem jogar uma partida. Mas não se desespere: pontos de emissão de áudio dentro do ambiente vão te ajudar a saber onde está a bola e para quem chutar - da mesma forma que os atletas com baixa ou nenhuma visão praticam o esporte, que é uma modalidade das paraolimpíadas. Mais do que ser uma experiência surpreendente, a exposição faz o público sentir na pele, literalmente, como é ver as coisas e pessoas sem usar os olhos. "Ela suscita uma reflexão sobre as diferentes possibilidades de percepção do mundo ao nosso redor e questiona o destaque que geralmente damos ao sentido da visão como via principal da compreensão", finaliza Clara. Fotos: Cauê Diniz