Guia da Semana

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Nem Noites do Terror, nem festa de Halloween. Se você procura relatos tétricos - e reais - de casas mal-assombradas, cemitérios e prédios abandonados, você é sério candidato a participar do tour São Paulo Além dos Túmulos, realizado pela agência de viagens Graffit. "O passeio procura mostrar além da ideia de São Paulo ser somente uma metrópole, uma cidade de trabalho", conta o diretor da Graffit, Carlos Roberto Silvério, que montou o passeio há dez anos.

 

Tudo começa no Largo do Arouche: uma vez por mês, nos domingos à tarde, a partir das 14h. Mas existem grupos extras quando a procura aumenta. Logo no ponto de partida da expedição, os passageiros já entram no espírito inusitado da coisa. O ônibus é decorado com caveiras, morcegos e aranhas. Flores típicas de velórios "perfumam" o veículo e dão aquele clima fúnebre; as cortinas ficam fechadas e os guias, fantasiados, recebem os visitantes. Músicas assustadoras envolvem os participantes, que se servem de guloseimas temáticas como as balas "baba de bruxa" e doces em forma de órgãos. Ah, tem ainda o lanche que vem no "kit fúnebre": um sanduíche de presunto envolvido em um papel roxo e amarrado com uma fita preta, servido em uma cesta com aranhas.

 

"O roteiro procura despertar a sensibilidade humana por meio dos sentidos. Não somente ouvir histórias, mas mergulhar nelas, trazer lembranças memoráveis e perceber o local", conta Silvério. As expressões de susto e apreensão do começo do passeio, aos poucos vão se desfazendo; as pessoas ficam mais relaxadas quando conhecem as histórias. Durante o tour, alguns passageiros mais sensitivos relatam ter visto algo estranho em um dos locais visitados. "Tem pessoas que contam que sentiram energias negativas", afirma. Os locais incluídos no passeio foram descobertos através de pesquisas feitas pela equipe da Graffiti e o roteiro sempre recebe atualizações de novos locais. "Os passageiros podem sugerir lugares também", diz Silvério.




Era uma vez...

 

...a Casa da dona Yayá, na rua Major Diogo, no Bixiga. Diz a lenda que Yayá tinha uma doença mental que lhe causava crises de loucura. Os médicos, então, recomendaram que ela morasse longe do centro da cidade, para ficar afastada das pessoas. Por isso, ela foi para a tal casa e lá morou até a morte. Desde então, seus gritos podem ser ouvidos pelas imediações. O endereço abriga hoje o Centro de Preservação Cultural da USP.

 

Outro local assombrado que faz parte da programação é o Vale do Anhangabaú. Os índios que moravam na região, ainda na época da colonização do Brasil, acreditavam que lá era a morada do diabo. Não é à toa que eles deram o nome de Anhangabaú ao local: em tupi-guarani, significa rio dos malefícios do diabo. O castelinho da Rua Apa, hoje em ruínas, fica na rua de mesmo nome, no bairro de Santa Cecília. Esse local foi cenário de um crime bárbaro em 1932. Na época, lá morava uma família rica. O irmão mais velho matou o mais novo, depois a mãe e, em seguida, se suicidou com dois tiros. Pessoas que moram nas imediações e outras que já visitaram o local dizem que a presença do assassino ainda é muito forte.

 

O edifício Joelma é outra parada interessante do passeio. Chamado hoje de Edifício Praça da Bandeira, fica na praça de mesmo nome, no centro da cidade. O Joelma foi palco de uma das maiores tragédias de São Paulo. Em 1974, um grande incêndio matou 188 pessoas, das quais 13 ficaram presas no elevador e morreram carbonizadas. Barulhos, portas que batem, gavetas que se mexem e gemidos nos corredores, dizem, são rotineiros por ali. Aliás, histórico macabro é o que não falta nesse espaço. No terreno onde o prédio foi construído, antes havia uma casa, sobre a qual existe a lenda de que um professor teria assassinado suas duas irmãs e a mãe, em seguida jogando-as no poço nos fundos. Dessa história, nem o bombeiro teria escapado vivo.

 

Para encerrar a maratona mórbida, há ainda visitas a cemitérios como o da Consolação. A atividade tem como objetivo não somente a observação dos túmulos de personalidades e artistas, mas também promover a arte tumular, incentivando o conhecimento dos visitandes sobre as esculturas e construções do gênero.


Casa mal-assombrada

 

A inspiração para este roteiro fora do comum vem da infância de Silvério, de quando sua família se mudou para uma casa grande e antiga na Vila Carrão, na zona leste de São Paulo. Ele conta que todos os dias, a partir das 23h, todos ouviam ruídos estranhos, que iam madrugada adentro, até cerca de 1h. "Eram pessoas se arrastando no forro da casa, barulhos de correntes pelo chão e os jornais que levantavam voo sem vento perto", relata. Os vizinhos, mais tarde, disseram que o antigo dono havia morrido na casa e ela era mal-assombrada. Resultado: a família saiu de lá nove meses depois de ter se mudado. "E o contrato de aluguel era de dois anos", conta.

 

De acordo com Silvério, a maior parte dos visitantes que procuram o roteiro são jovens de 18 a 35 anos. "Mas tem também famílias inteiras, turistas brasileiros e de outros países que participam", diz. E o propósito do passeio não é assustar as pessoas, mas sim apresentar informações interessantes e históricas, fora do lugar-comum, sobre alguns pontos de São Paulo. "É uma forma lúdica de o paulistano preencher o domingo à tarde. O propósito é brincar um pouco, também: pensar como os mexicanos, que veem a morte como parte da vida", completa.


Foto: Divulgação/Graffit Viagens, Planejamento e Projetos Turísticos


 


Mapa do local

Passeio de outro mundo

Data 15 Set 2010-31 Dez 2011
Uma vez por mês aos domingos.

Preço(s) R$ 35.

Horário(s) Saídas às 14h.

Endereço
Rua Joaquim Távora, 128, Sul 04015-010

Telefone (11) 5549-9569