Guia da Semana

Fotos: Flávio Colker


Há sete anos, ninguém imaginava que a eliminada na quarta semana do programa Fama, da Rede Globo, se tornaria uma das principais representantes da atual MPB. Com muito trabalho, uma voz límpida e um sorriso fácil, Roberta Sá lançou dois álbuns com um repertório musical que vai de cantores consagrados - como Cartola, Ney Matogrosso e Chico Buarque - até artistas mais desconhecidos do grande público, como Roque Ferreira, Lula Queiroga e Teresa Cristina. O resultado foi a volta do samba ao popular nacional, conquistando grandes platéias e a aceitação da crítica.

Para comemorar o sucesso da carreira e buscar novos experimentos, a potiguar radicada carioca faz o lançamento do seu primeiro DVD e CD ao vivo - Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria - em 19 de novembro, no Citibank Hall, em São Paulo. Com 28 anos, seu terceiro trabalho é resultado do show produzido em abril deste ano, no Vivo Rio (Rio de Janeiro) e traz o melhor dos dois primeiros CDs, como Alô Fevereiro, Interesse?, Janeiro, junto a inédita Agora Sim, parceria da cantora com Carlos Renné e Pedro Luis.

Com a agenda lotada e a expectativa da nova turnê, o Guia da Semana entrevistou Roberta Sá para falar do mais novo trabalho, as parcerias musicais e do seu encontro com cantores da sua geração. Confira!

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de fazer o álbum ao vivo?
Roberta Sá:
Esse disco saiu com a intenção de fazer um registro do que aconteceu na minha carreira até hoje. Foi feito por causa do pedido dos fãs que freqüentavam o camarim ou mandavam e-mail, já que estou cantando as mesmas músicas desde o primeiro disco. A nossa ideia era fazer uma fotografia do meu trabalho.

Guia da Semana: No DVD o repertório é extenso, com mais de 20 músicas. Como foi feita essa seleção?
Roberta:
Como o nosso objetivo não era trazer muita novidade, não foi tão difícil assim. Fizemos um show completo, porque se a gente tirasse alguma música, os fãs reclamariam. Então pra esse momento, meu diretor musical, Rodrigo Campello, meus parceiros todos e eu optamos por deixar quase o repertório dos dois discos inteiros e colocamos duas músicas que não tinham sido gravadas ainda. Uma é Agora Sim, que surge de uma parceria minha com Pedro Luis e Carlos Rennó, e o Samba do Balanço, uma música que está desde o começo no repertório mais a gente nunca gravou.

Guia da Semana: Fale um pouco das participações especiais que aparecem no álbum, como Ney Matogrosso, Chico Buarque.
Roberta:
Esse é um outro momento do DVD, porque tem as participações especiais no show, com o Hamilton de Holanda, Marcelo D2 e Pedro Luis; e aquilo que a gente chama de encontro, com o Chico Buarque, o Ney Matogrosso, Antônio Zambujo e o Yamandú Costa. Estes últimos foram feitos no Rio, com um ensaio apenas e no mesmo dia. Com o Ney eu já tinha gravado no meu primeiro disco, é meu padrinho musical, uma pessoa que sempre me dá conselho e fala coisas muito importantes. O Chico foi outra grande referência e estar com ele foi maravilhoso, um momento inesquecível.



Guia da Semana: Muitos fãs e algumas pessoas do meio musical já a chamam de diva da MPB. Você gosta dessa alcunha ou acha que ainda está muito cedo pra isso?
Roberta:
Engraçado, porque acho que a minha postura é justamente contrária a essa (diva). Sou uma operária da canção, trabalho diariamente e me envolvo em todas as etapas da produção. Acho que essa coisa da diva tem haver com um certo distanciamento, o que nunca tive, nem com meus músicos, nem com o meu público. Mas a cantora sempre tem um pouco de diva, por causa da feminilidade, que é uma coisa bacana. Enfim, é um rótulo que não me incomodo se falarem, mas não tem muito haver comigo.

Guia da Semana: Tem alguma personalidade da MBP feminina que você gostaria de dividir uma canção ou fazer uma participação especial?
Roberta:
Não tenho esse orgulho de compositora. Componho muito de vez em quando e pra gravar mesmo. Esse ano a Mariana Aydar gravou uma música minha e fiquei super contente, nunca esperei que isso fosse acontecer na vida. Então é uma coisa que não está nos meus sonhos. Agora sempre gostei muito do trabalho de Maria Bethânia, e acho que ela está em uma fase de recriação divina. Se algum dia ela gravasse alguma coisa minha ou uma canção comigo, seria realmente maravilhoso.

Guia da Semana: Em meio à gravação do DVD, você estava participando do espetáculo Alô... alô? 100 anos de Carmen Miranda, em homenagem a artista. Como foi participar dessa comemoração? Isso influenciou esse novo projeto?
Roberta:
Acho que tudo que vem depois de uma artista como a Carmem Miranda, com a força e que lembre ela, por mais que você não queira, é uma inspiração. Acho a Carmem uma das maiores artistas brasileiras e acabo prestando uma homenagem a ela em alguns movimentos durante o show. Foi muito bacana até porque quando você está fazendo um trabalho tão grande como um DVD, é muito importante você ter alguma coisa pra te tirar um pouco daquele foco, para voltar com a cabeça mais fresca, mais limpa. Então, esses dois trabalhos ao mesmo tempo foi super importante e gostei muito.

Guia da Semana: Você disse que não se considera compositora, mas já fez algumas canções. Como e de onde vem a sua inspiração?
Roberta:
Eu não me planejo, é totalmente livre, natural e pretendo que continue dessa maneira. Tenho um descompromisso com a composição. Claro que não nego a inspiração, quando ela chega, a música tem que ser feita, mas não fico buscando-a. Até acho que em um próximo disco não precisa ter minha música, não tenho realmente essa vaidade. A minha vaidade está muito mais presente na hora de escolher o repertório todo.



Guia da Semana: Quando você decidiu ser cantora?
Roberta:
Eu acho que até hoje faço essa escolha todo os dias na minha vida, porque é uma profissão que requer além de talento e amor pela música, vocação. Decido isso todos os dias porque tenho um amor muito grande pela música brasileira. Compreendi o que era ser cantora brasileira no meu primeiro disco, em 2005, quando o meu trabalho passou a ser mais constante. Mesmo no meu primeiro disco, fiz poucos shows. A partir do segundo, comecei a ter o gosto pela estrada. Eu sempre estou procurando ser uma cantora melhor e acho que nunca vou chegar ao ponto de dizer que sou uma cantora que gostaria de ser. Por isso busco fazer jus e estar à altura da música brasileira.

Guia da Semana: Com esse terceiro trabalho, o que houve de amadurecimento em relação ao começo da sua carreira?
Roberta:
O amadurecimento vem do tempo de estrada. É só de fazer um produto como o DVD - muito diferente de fazer um disco - que já me deu outra visão do meu trabalho. Isso aconteceu de um disco pro outro, depois do disco pro DVD, agora para esse show que a gente está fazendo e certamente para os meus próximos trabalhos. É justamente em um projeto que se cresce artisticamente.

Guia da Semana: Qual a expectativa para esse DVD?
Roberta:
A expectativa maior é para que ele ficasse pronto e que as pessoas o vissem como um registro. Eu acho que a gente conseguiu conquistar isso, o público tem respondido de maneira muito positiva e agora é rodar o Brasil todo. Levar esse show para os lugares que nunca fui e me despedir dos que já passei, para deixar esse repertório pra traz e poder partir para o próximo. Está com um gostinho de despedida, vamos ver o que vem depois.

Guia da Semana: Você comenta de partir para o próximo projeto. Já tem algum em mente ou isso ainda está longe de acontecer?
Roberta:
O Vinícius de Moraes dizia que a vida é a arte do encontro, então quero colocar isso em prática. Encontrar mais meus contemporâneos, as outras maneiras de fazer músicas. Não sei se meu próximo projeto vai ser um disco ou DVD, mas vai ser encontrar músicos da minha geração, estar com eles, tocar com eles. O Hamilton de Holanda acabou de me ligar me chamando para cantar com ele no Rio e em Brasília. São coisas simples, não há nada de mais, simplesmente de encontrar e tocar um repertório que não tocaria no meu show, mas que ali vai caber. Vai ser lindo e isso me fará crescer muito. Estar com as pessoas é o meu maior projeto.

Atualizado em 26 Set 2011.