Guia da Semana



Na última coluna, eu falei brevemente sobre o jazz fusion, um gênero musical que, apesar de ter produzido alguns nomes interessantes, é motivo de grandes controvérsias. Muitos apreciadores de jazz simplesmente ignoram o que foi produzido nas décadas de 1970 e 1980 e dão esse período por sepultado, mais ou menos como foram os anos 1980 para a economia brasileira, "a década perdida".

Esse descaso é fruto de um certo purismo, de um lado, e de certos exageros, do outro. O purismo é algo recorrente no jazz. Uma considerável parcela de ouvintes saudosistas tem o hábito de eleger seus intérpretes favoritos, delimitados a um determinado espaço de tempo, e ouvir apenas o que este punhado de eleitos produziu. Do outro lado, existem os experimentadores obsessivos, que, por conta desse ímpeto por inovações constantes, acabam protagonizando "vanguardas suicidas", cujo excesso de experimentação inviabiliza a própria realização artística.

Aí as coisas se complicam: onde começa a música e onde termina o experimentalismo? A outro gênero, o free jazz, também cabe essa pergunta, mas isso já é assunto para o futuro. O fusion padeceu desse questionamento fúnebre. Não havia mais como saber se aquilo que se estava fazendo era realmente jazz ou se estava mais para um laboratório frenético de criações sonoras. Alguns grupos remanescentes dessa época, como o Spyro Gyra, por exemplo, acabaram em um beco sem saída cercados de lugares comuns e clichês musicais.

Quando todos achavam que o futuro do jazz era a música eletrônica, uma nova geração de jazzistas surgiu apoiando-se sobre o passado dourado dos grandes mestres. Seria infrutífero procurar saber se isso aconteceu por causa da preocupação de não dar os mesmos tropeços de seus antecessores, ou se simplesmente foi o curso natural das coisas.

Um dos expoentes dessa nova geração, Wynton Marsalis, bebeu nas fontes mais tradicionais para se formar musicalmente. Marsalis é um daqueles "músicos anfíbios" que passeiam tranqüilamente por diferentes ambientações musicais. No seu caso específico, ele transita entre o jazz e o erudito com a maior desenvoltura.

Todavia, existem sempre os descontentes. A nova geração é acusada de repetir um passado glorioso, sem, no entanto, escrever um presente inovador e genuíno. Mas isso sinceramente não tem muita importância. Em música, não interessa "a", "z" ou "x"; interessa se a música é boa ou não.

Atualizado em 6 Set 2011.