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Embrulho caprichado, Winehouse ecoa uma Motown mais do que desgastada |
Desde o declínio do grunge, em meados da década de 90, o pop rock sente-se órfão de um gênero predominante que norteie as novas gerações e sirva de alvo fixo para quem está sempre pronto a botar por terra os parâmetros artísticos vigentes. Ao marasmo que se estabeleceu nos anos seguintes, sucedeu-se uma aberração que costuma rondar o cenário musical em momentos de aflição: a tentação por requentar antigas fórmulas de sucesso.
É difícil esquecer a excitação patética que se sucedeu ao lançamento de Back To Black, o papa-Grammy de Amy "Rehab" Winehouse. Pelo que os valentes da mídia cacarejavam, logo cogitei uma nova Aretha Franklin, corei ao imaginar uma "Body And Soul" fresca a verter lamúrias tocantes pelo palco, tal qual Billie Holliday. Mas a britânica espertalhona foi servida como um insípido prato requentado da Motown, a saudosa Motown que tantas alegrias entregou aos amantes da boa música. Para quem ainda crê no frescor da Sra.Winehouse recomendo que pesquise o histórico irreparável de um sujeito chamado Mark Ronson, o homem por trás da ascensão da queridinha dos tablóides. Confira também o DVD I Told You Was In Trouble - Live In London, e veja como a donzela tangencia o medíocre em uma apresentação ao vivo.
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Capa de Jukebox, último disco de Cat Power |
Outro fenômeno que chama a atenção é o retorno nada triunfal da palavra folk. É o novo folk do Vanguart? É o anti-folk de Mallu Magalhães? Obrigado, dispenso o hype pseudo-caipira do violão tosco e deixo um bom e velho disco do Buffalo Springfield mostrar o que é folk de verdade. Se a sanha por ecos de country parece ser a tônica do momento, recomendo aos preguiçosos de plantão que voltem um pouco no tempo e tratem de resgatar o nome do genial Grant Lee Buffalo ou que deixem de atirar papel higiênico - como fizeram na primeira edição do Tim Festival, no Rio de Janeiro, em episódio lamentável - no palco do Lambchop, dois grandes artistas, que se não bebem exclusivamente do folk tradicional, sabem como rearranjá-lo de maneira honesta.
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Lambchop: alvejado por papéis higiênicos pelo público carioca |
Mais frustrante do que remendar um gênero soterrado pelo tempo é requentar seu próprio repertório. Noves fora o novo filme de Martin Scorsese, Shine A Light, o que os Rolling Stones têm mostrado de relevante nas últimas duas décadas? Espetáculos grandiosos, arrecadações de saltar aos olhos, sustentadas por apresentações competentes e clássicos inesgotáveis, são ótimos motivos para pagarmos tributos a Mick Jagger, mas quando o assunto carece de material novo, arrojado e que faça jus à história dos Stones resta um vazio angustiante.

Quem é o colunista: Bruno Lofreta
O que faz: jornalista
Pecado gastronômico: comida mexicana e cerveja irlandesa
Melhor lugar do Brasil: Embarque do Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica)
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.