Guia da Semana



Não adianta choradeira. A entrada efetiva do Brasil no circuito dos grandes shows internacionais trouxe uma dor de cabeça a mais para os fãs - conseguir o tão sonhado ingresso para assistir seu astro preferido pode ser um tormento. As tristes experiências se acumulam: problemas na compra de tickets do U2 no início de 2006; abertura de um único ponto de vendas na loja de shopping center para o show do Jack Johnson em São Paulo e a confusão generalizada para assistir Madonna no ano passado. "É preciso tirar um dia apenas para a compra do show, senão você não consegue", atesta Denis Brasil Lopes, músico e gerente de logística de uma multinacional que ama todo e qualquer tipo de show. Mas, afinal de contas, por que tantos problemas?

Dificuldade de dimensionar os eventos e o público que eles irão atrair é a principal falha apontada por produtores e distribuidores ouvidos pela reportagem do Guia da Semana. "O maior problema que pode acontecer é ter um número de servidores abaixo da demanda e uma procura de público maior do que a estrutura comporta", comenta Maurício Aires, sócio-diretor da Live Pass, empresa responsável pela comercialização do show do Jonas Brothers, realizado em maio desse ano no Rio e São Paulo.

O mais comum é disponibilizar num único servidor tanto os ingressos das bilheterias físicas como das formas eletrônicas de compra: internet e teleatendimento. Segundo o empresário, essa é a forma mais democrática. "Assim damos ao cliente a chance de escolher o canal de compra sem medo de perder o ingresso", garante Aires. No entanto, a concentração aumenta a exigência do software e do servidor a qual está alocado, causando o transtorno por todos conhecido.

Parcerias e novas tecnologias


Pedro Guimarães, da Mondo Entretenimento, acredita que as parcerias são fundamentais para a execução de um grande concerto. "Os shows nacionais não sofrem desses problemas, mesmo quando têm grande demanda. Já os internacionais são mais evidentes, o que leva a maiores complicações" destaca o produtor. Em ambos casos, reforça Guimarães, o ponto primordial é o serviço. "É fundamental oferecer um ponto fixo de fácil acesso e uma rede de servidores que suporte a procura, garantindo assim conforto para a compra", A Mondo é responsável pela turnê do The Killers e a vinda de Sting para o evento Nós Natura, ambos em novembro.

É de responsabilidade da produtora a contratação da equipe de apoio e da distribuidora de ingressos. Segundo Guimarães, o melhor dos mundos acontece quando há integração entre as empresas na prestação do atendimento. O produtor destaca o caso da turnê do Iron Maiden em março de 2008. "Os ingressos foram postos à venda desde o final de 2007 e a demanda inicial foi muito grande". Mesmo com o excesso de pessoas no sistema, ele garante que a rede não caiu.

Em se tratando de venda de ingressos, a tecnologia consegue ser ao mesmo tempo aliada e inimiga do público. Atualmente, a internet representa cerca de 50% das vendas. Em 2003, não passava de 10%. Daí a dificuldade de carregar páginas e concluir as transações.

Esse aumento traz como consequência a cobrança da taxa de conveniência, tanto para aquisições na web como nas centrais de telemarketing. Em média, o custo do serviço é de 15% do valor do ingresso. "O valor recolhido da taxa de conveniência é investido nos canais de venda para garantir a infraestrutura", argumenta Aires, da Live Pass.



The Killers faz show em 21 de novembro.Os ingressos já estão à venda

Já para Walter Balsinelli, sócio-diretor da DWA, grupo proprietário da distribuidora Ingresso Fácil e da produtora de shows Unique, o cliente que foge da compra eletrônica não percebe os custos que envolvem a aquisição no local. "Para não pagar a taxa de entrega, ele prefere enfrentar a fila e, boa parte das vezes, recorre a cambistas e paga um ágio de 150% do valor do ingresso. O consumidor reclama, mas também não ajuda", questiona Balsinelli.

Para solucionar de uma vez as excessivas filas e os cambistas, a Ingresso Fácil está prestes a lançar um cartão eletrônico para eventos. Batizado provisoriamente como cartão-entretenimento, o dispositivo é recarregável em qualquer lotérica e poderá comportar entradas para vários programas, de shows a partidas de futebol. No entanto, o cartão é pessoal e intransferível, carregando apenas um único ingresso por vez.

Já a Live Pass investe nos celulares. "Os serviços móbile serão um importante canal de vendas. Através de acordos com as distribuidoras e operadoras de celulares, o cliente receberá o código de barras ou o seu sistema numérico e mostrará diretamente na entrada, dispensando filas e papel", aposta Aires. O serviço está em fase final de testes.



A procura pela turnê Sticky nd Sweet, de Madonna, sobrecarregou o sistema de venda de ingressos, causando confusão

Enquanto as novas tecnologias não chegam, o importante é se programar para os próximos shows. O Guia da Semana selecionou algumas dicas na hora de comprar as entradas para momentos mágicos que não têm preço.

Filinha básica: Mesmo com a disseminação da internet e dos sistemas de televendas, há fãs que curtem o clima do gargarejo desde a hora da compra. É o caso de Jorge Quintas, músico e professor de filosofia. "Ainda não confio totalmente na compra pela internet e estar na bilheteria dá mais sensação de confiança, além de ser quase um pré-show, pois você vai com amigos e conhece pessoas na fila. O problema é quando a organização não oferece infraestrutura necessária, como toldos em locais abertos em dia de chuva", comenta. Outra vantagem observada pelos usuários é não pagar a taxa de conveniência. Mas isso só é garantido no ponto oficial. Os demais, como lojas de conveniência ou quiosques em shoppings, também cobram pela taxa.

Page not found: A web revolucionou todas as relações humanas e comerciais. A venda de ingressos são seria diferente. "Os sites evoluíram e apresentam interfaces mais agradáveis. A resistência daqueles que evitam a internet é cultural e tende a acabar", destaca Maurício Aires, da Live Pass. No entanto, os usuários reclamam. "Os sites não têm o suporte necessário para grandes shows e não há uma tela de confirmação da compra", registra Denis Lopes. Para evitar problemas, Balsinelli, da Ingresso Fácil, destaca que o cliente comprar as entradas logo na primeira quinzena, quando a procura é menor. Ao entrar no site, só deve entrar na área de compra quando souber quantos e quais lugares quer. Segundo ele, não há diferença para o servidor entre ingressos numerados ou pista. O mais importante é ter o cartão de crédito em mãos para agilizar a compra.

Vou estar transferindo: Odiada pela maioria das pessoas, a compra por teleatendimento é mais prática do que parece, pois é menos utilizada pelos clientes do que a web. As instruções são as mesmas: saber o que quer comprar e estar com os documentos para facilitar o processo. E não desconte a raiva no operador. Ele não tem culpa do sistema travar ou ser lento. Já o excesso de gerúndios...

No dia D: Antes de vestir a camisa da banda e repassar todo o set list, estude a melhor forma de chegar e sair do local da apresentação. Priorize o transporte público ou junte os amigos para dividir um táxi ou irem em um único carro. Nas compras pela web e teleatendimento em que se pode retirar o ingresso na bilheteria, não se esqueça de levar documento com foto.

Atualizado em 6 Set 2011.