
Lotado. Assim estava o Morumbi quando, ao som de Ecstasy Of Gold, de Ennio Moricone, os telões começaram a passar cenas do filme Três Homens em Conflito (The Good, The Bad and the Ugly). Então um arrepio subiu pela espinha, pois, assim como no álbum S & M, a música anunciava o inicio do show do Metallica - algo inédito para mim.
Nascida em 1985, era a primeira vez em que eu iria ver, ouvir e vibrar junto com a banda, ao lado de cerca de 70 mil pessoas que fizeram do Morumbi um cenário incrível para a apresentação. Importante citar que, durante o show de abertura, o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser diz: "É um prazer estar aqui com vocês, no estádio do melhor time do mundo, o São Paulo Futebol Clube!" É verdade. Porque, assim como foi com AC/DC e com Aerosmith, quando o show é no Morumbi tudo tem um gostinho especial, com o escudo do São Paulo em destaque no meio da multidão que lota os rock concerts do estádio.
De volta ao Metallica... Eles subiram ao palco e quando começam a tocar Creeping Death, do álbum Ride the Lightning, a adrenalina passeou pelas minhas veias. A multidão pulou e cantou em uníssono, com o grupo servindo de combustível para a catarse coletiva.
Alguns podem até estranhar a presença de uma menina-moça-delicada, como eu, toda maquiada e empolgada no meio de milhares de cabeludos headbangers, gritando, pulando e ouvindo heavy metal. Mas quer saber? Essa é minha terapia.
Você há de convir que um bom show de rock é um grito de liberdade contra o chefe azedo; contra aquele ser irracional de que você insiste gostar, mas que só lhe faz sofrer; contra a amiga duas caras; contra o idiota que estaciona na sua vaga do prédio. Enfim, é a trilha sonora para você liberar a sua fúria contra o mundo, mesmo que isso seja só reflexo da TPM.
Muito mais do que uma banda que toca o fast and heavy metal, o Metallica traz em suas músicas questões éticas, políticas e sociais. Ou seja, os caras são muito mais do que cabelos compridos, roupas pretas e guitarras.
Como no livro Metallica e a Filosofia, de William Irwin, no qual filósofos e amantes da banda discutem e questionam teorias filosóficas a partir das letras das músicas - "de acordo com Platão, as artes imitativas (em especial as tragédias) podem ter um efeito saudável sobre a alma, purgando o indivíduo de emoções destrutivas". Aliás, as letras de Hietfield são verdadeiras poesias e não devem nada aos clássicos de grandes nomes do rock como The Doors, Beatles e U2.
O grupo largou as drogas e a bebedeira e depois de onze anos sem pisar em solo brasileiro, fez um espetáculo vigoroso, apresentando um disco muito bom, o Death Magnetic, depois de uma fase sem tantos louros. O repertório também contou com clássicos que consagraram o Metallica, como One - responsável pelo ápice do show.
Nesta hora o céu de São Paulo poderia desabar que nada pararia o Metallica. Com uma queima de fogos que levou aos fãs a sensação de estarem na frente de batalha, os versos de One rasgaram a garganta de cada um presente no estádio.
O show prosseguiu animado e eu já não sabia de onde vinha meu fôlego ao cantar Enter Sandman. Perfeito! Simpáticos, voltaram para o bis e, atendendo a pedidos, encerraram o show com Seek and Destroy. Depois de mais de duas horas, a sensação que tomou conta dos fãs foi a de que o Metallica voltou melhor, mais rápido e tocando com uma vitalidade invejável. Resumindo, este foi um dos melhores shows de heavy metal da minha vida.

O que faz: é jornalista.
Pecado gastronômico: chocolate e bacon. Em refeições separadas, obviamente.
Melhor lugar do mundo: aquele que reúne boa música, meus amores e meus amigos.
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Atualizado em 6 Set 2011.