Guia da Semana

Como Mr. Macphisto, nem a Casa Branca escapou dos trotes de Bono


Deixar o nome gravado na história da música de uma maneira original é um privilégio para raros artistas. Muitos se valeram de álbuns seminais, apresentações memoráveis ou talento ímpar em composição de obras que fizeram gerações e ainda hoje são reverenciadas como marcos sagrados, que, por trazerem novas perspectivas ao cenário, se tornaram fundamentais para o entendimento de uma época.

Para alguns músicos, entretanto, é necessário descolar-se de suas próprias personalidades e conceber personagens capazes de exprimir uma fase, um conceito ou apenas de instigar sem expor a cara - de verdade - ao tapa. A idéia de encenar nos palcos um papel que muitas vezes não condiz com a imagem da banda foi explorada de maneiras distintas no decorrer do tempo. Certos artistas injetaram uma boa dose de humor e provocação em seus personagens, outros se aproveitaram deles como autênticas minas de ouro.

Sarcasmo e megalomania

A aura quase messiânica que sempre cercou o U2, e que alçou Bono à condição de uma das figuras mais influentes do planeta, provocou, no início da década de 90, certo descontentamento entre seus integrantes. Como resposta à grande mídia que insistia em ressaltar as manias de grandeza de seus shows e aparições, o quarteto se despojou do bom-mocismo e deu mais uma prova de genialidade ao empreender duas turnês, ZooTV e Popmart, de proporções realmente gigantescas, pautadas pelo sarcasmo à espetacularização do rock.

Mirrorball Man: verdadeiro megalômano
Bono não apenas disparou contra seu passado carola, como deu estocadas precisas em seus críticos, que o acusavam sem pelejar de magalomania. E como tais golpes foras desferidos? Com mais megalomania. Sim, o líder do U2 bancou três personagens que entraram para o imaginário da banda irlandesa. Com The Fly, um maluco de calças de vinil e gigantescos óculos escuros, gozou do culto histérico ao rock star e expôs ao ridículo a soberba de um gênero tomado pelas aparências. Na perna americana da turnê, Bono apresentou aos fãs o controverso Mirrorball Man, sátira aos conhecidos - inclusive por estas bandas - pregadores que se valem de TV para levantar uma grana preta. Como Mirrorball, e também como Mr. Macphisto, o frontman do U2 não deixava de divertir a platéia ao passar trotes telefônicos para lugares tão inusitados como uma pizzaria ou a Casa Branca.

Mr. MacPhisto, uma diatribe com McDonald´s e Mephisto, o diabo de Goethe, provavelmente seja o personagem mais conhecido dentre os três criados por Bono. Além de estrelar o clipe de Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me - trilha sonora do filme Batman Forever -, a figura maliciosamente arrogante consagrou-se pelos hilários trotes que passava durante a parte final dos concertos da ZooTV. No palco, instigava a platéia com insinuações sobre consumismo, luxúria e tentação, além de convidar personalidades polêmicas, como o escritor indiano Salman Rushdie, para participar de suas performances.

O marciano de Bowie

Stardust: sexo, drogas e um figurino ousado
Pedra fundamental na história do rock setentista, The Rise And The Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, do britânico David Bowie apresentou ao mundo sua criação mais célebre, o excêntrico Ziggy Stardust, alienígena que vagou pelos palcos terráqueos entre 1972 e 1973. Trajando uma variedade de acessórios e figurinos mais do que ousados, Bowie deu luz ao rock star pleno, símbolo de um comportamento marginal e criativo, embebido de sexo, drogas e toda espécie de experimentalismo.

Com morte e nascimento planejados, Ziggy Stardust viveu o suficiente para consolidar o estilo glam e pautar o comportamento de um sem número de artistas até os dias de hoje. Ainda que anos mais tarde Bowie tenha concebido outros personagens, como o obscuro The Thin White Duke, foi o marciano andrógino de cabeleira rubra que se tornou parte indissociável de seu rico histórico. (Confira o clássico clipe de Starman).

Os caras pintadas

A história não é nova, mas costuma acender discussões tão intermináveis quanto carentes de resposta. Afinal, os integrantes do Kiss plagiaram ou não a maquiagem dos Secos & Molhados para criar seus ilustres personagens? Ney Matogrosso jura de pés juntos que após recusar uma proposta de contrato nos Estados Unidos, se deparou com a recém-surgida banda de Gene Simmons e Paul Stanley lançando mão de pinturas semelhantes às usadas pelo grupo brasileiro.

Mais do que personagens, o Kiss se tornou uma marca milionária


Mais do que uma das bandas mais performáticas da história do rock, o Kiss fez de seus membros personagens lendários a entreter platéias de todos os cantos. Uma breve vasculhada na internet revelará o imenso leque de produtos aos quais a marca Kiss foi associada nas últimas décadas. De caixão à máquina de fliperama, o quarteto apostou pesado no conceito de marca, angariando cifras milionárias enquanto cuspia sangue no palco e disparava fogos de artifício pelas guitarras. É voz corrente que no momento em que o Kiss ousou se desvincular de seus personagens, abandonando a maquiagem e maneirando nos efeitos especiais, passaram a amargar sua pior fase.

Fotos: reprodução/divulgação Myspace

Atualizado em 6 Set 2011.