Guia da Semana

Fotos: Márcia Moreira


Com um público cativo e que sempre se renova, ele não precisou aderir aos modismos para fazer sucesso. Ao longo dos seus 35 anos de trabalho, nunca abandonou o violão, as composições e as parcerias, tão fundamentais quanto a própria necessidade de viver das canções. Seus shows são marcados pela alegria, alto astral e o agito do público, sempre numeroso e dependente da poesia multifacetada de Geraldo Azevedo, que vai da balada romântica ao xote nordestino em poucos minutos. Para presentear esse público, o artista se rendeu ao vídeo e resolveu registrar pela primeira vez em DVD uma de suas apresentações.

Captado no final de 2008, no Circo Voador, Rio de Janeiro, o novo projeto tem a co-produção do Canal Brasil e faz uma retrospectiva com os seus principais sucessos, como Dia Branco, Caravana, Tanto Querer e Taxi Lunar, além de duas canções inéditas: É o Frevo e É minha vida, criadas a partir da parceria com Geraldo Amaral e José Carlos Capinam (respectivamente). Confira a conversa que o Guia da Semana teve com o trovador nordestino, que faz uma apresentação de lançamento desse novo trabalho em 31 de outubro, no HSBC Brasil, São Paulo.

Guia da Semana: Apesar de tanto tempo em cima dos palcos, esse é o seu primeiro DVD. Porque demorou a entrar nesse projeto?
Geraldo:
Foi de certa forma surpreendente. Como trabalho com gravadora independente e tenho meu próprio selo, quem produz meus discos sou eu, então fazer um DVD era difícil e caro. Ele só foi possível graças a minha filha Gabriela, que manteve contato com o Canal Brasil e outros parceiros e fez dele algo possível.

Guia da Semana: O que esse trabalho traz para o público?
Geraldo:
Como era o meu primeiro DVD, quis fazer um balanço geral da minha carreira, por isso o nome no projeto se chama Uma geral do Azevedo. Valorizei as músicas prediletas do meu público, fiz dele uma coisa bem democrática e ainda lancei duas músicas, tudo em uma gravação ao vivo feita de uma vez só, em um show de 1h40. Tem canções na minha carreira que mesmo se lançar um trabalho novo, não poderia deixar de cantá-las. Esse trabalho é quase uma celebração da minha relação com a música e com as pessoas que fazem das minhas canções a trilha sonora da sua minha vida. É uma troca muito interessante.



Guia da Semana: Como foi a experiência de, junto com Alceu Valença, ser protagonista dos dois primeiros títulos da coleção Nomes do Nordeste, com entrevistas que narram a história e as suas vida artística?
Geraldo:
Aquele livro surgiu de um depoimento que fiz para um evento cultural promovido pelo Banco do Nordeste. Eles pegaram o registro que também era filmado e disponibilizaram em livro. O projeto busca valorizar algumas pessoas nordestinas e Alceu Valencia e eu fomos consagrados. Pra mim foi uma grande honra dar autógrafos lado a lado com Alceu.

Guia da Semana: Falando um pouco do seu repertório musical durante a sua carreira, você teve canções que te marcaram pessoalmente?
Geraldo:
Rapaz, as canções sempre marcam, mas são várias. Gosto de todas porque elas registram momentos importantes que ficam na memória e acredito que cada uma corresponde a essa interação com o público para cantar junto, ficar feliz, tocando a emoção de alguns deles. Cada uma tem uma dimensão de coisas que afeta as pessoas diretamente de uma maneira particular.

Guia da Semana: De onde vêm a sua inspiração para as composições?
Geraldo:
Antes de tudo, adoro o trabalho que faço e namoro com ele diariamente. Quando não estou fazendo shows, estou em casa com um violão na mão, tocando, cantando, aprendendo, criando. Dessa convivência, às vezes, vem uma ideia de fazer uma canção, mas também tem músicas que faço de encomenda, acho muito bom o desafio. Faze-las é realmente um grande prazer e mostrar para o público é ainda maior, porque você é a consagração da música.

Guia da Semana: Você tem algum parceiro predileto?
Geraldo:
Tenho tantos parceiros que gosto que fica até difícil citar. Adoro parceria, mas realmente tenho alguns especiais. Começa por Carlos Fernandes (primeiro), Alceu Valencia, Zé Ramalho, Fausto Nilo, Geraldo Amaral, José Carlos Capinam, são pessoas que tenho muitas obras junto. Gosto de parceria, às vezes até quando faço uma música sozinho chamo alguém para dar o aval e ter o apadrinhamento também.

Guia da Semana: Como você definiria a relação que tem com o seu público?
Geraldo:
Minhas músicas têm um lado romântico, mas também de forró, carnaval, frevo. Durante os momentos festivos eu também faço meu romantismo, 'forrozeando' também. Acontece que a canção, mesmo romanticamente ou 'suingadamente', tem o lado da poética e isso toca as pessoas. Acredito nisso, tanto que acaba passando de geração para geração e o público dos shows são em sua maioria muito jovens.

Guia da Semana: Isso é importante também, pois apesar de fazer 35 anos e trabalhar de forma independente, as pessoas não deixam de lembrar o seu nome. Como você encara esse reconhecimento?
Geraldo:
A verdade é a seguinte, não sou de gravadora, mas passei a ter uma vida independente e procurei dentro do meu selo apresentar para o público um trabalho tão profissional quanto o de uma gravadora. Esse trabalho é feito baseado nesse primor de sempre apresentar com maior qualidade o que a gente está fazendo.



Guia da Semana: É difícil viver de produção independente?
Geraldo:
Por um lado é difícil e por outro é até mais confortável, porque você tem uma liberdade. Não tenho uma pressão de fazer discos todo ano. Já passei três anos sem lançar, outras vezes lancei dois em um mesmo, como está acontecendo agora.

Guia da Semana: Em casa você escuta seus trabalhos?
Geraldo:
Eu gosto de tocar. Vou te contar uma coisa, tô todo feliz com o DVD porque tem muita gente ligando e dando os parabéns. Pô, nunca vi ele! Só se alguém chegar e colocar pra assistir comigo, porque eu mesmo não consigo colocar. Faço assim também com os meus CDs.

Guia da Semana: Qual sua opinião sobre os novos nomes da MPB?
Geraldo:
Olha, a MPB é sempre surpreendente porque ela mantém uma resistência incrível, mesmo a mídia não dando o valor devido. Às vezes a mídia fica reproduzindo o modismo, a 'onda', e nem sempre a onda é tão cultural quanto se pode propor na música popular brasileira, que tem raiz e diversidade. Mesmo sem valor, ela sempre se mantém acessa e apresentando novas chamas. Da década de 90 pra cá surgiram novos valores, como Lenini, Zeca Balero, Paulinho Mosca, Rodrigo Maranhão, então é tanta gente chegando na MPB que fico impressionado com essa diversidade e resistência sem apoio.

Guia da Semana: Eu queria que você definisse a música pra você?
Geraldo:
A música - antes de tudo - é uma marca divina, só existindo Deus pra criar uma marca tão bonita. Mas ao mesmo tempo é uma arte fantástica, um poder de comunicação muito grande. Eu sou suspeito pra falar, pois vivo arrodeando e arrodeado por ela. Eu me emociono ouvindo muitas partituras, como Edu Guedes, Caetano, Chico Buarque, Tom Jobin e até o rock and roll. Essa grandeza que vai da Orquestra Sinfônica, passando pelo frevo ao maracatu.

Guia da Semana: Você tem o novo projeto em mente?
Geraldo:
Estou terminando o próximo DVD, Salve São Francisco, que vou lançar em março. Ele é todo dedicado ao Rio São Francisco, com participações de artistas dos estados por onde ele passa. Cada faixa tem uma pessoa cantando comigo: na Bahia tem Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Márcia Porto, Vava Cunha e Moraes Moreira; de Pernambuco, Dominguinhos e Alceu Valença; Minas Gerais, Fernanda Takai; Alagoas, Djavan.

Guia da Semana: Pretende sair em turnê com esse projeto?
Geraldo:
Estamos pensando nisso. Não vai dar pra carregar todo mundo, mas garanto levar umas três pessoas, no mínimo.

Atualizado em 6 Set 2011.