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Demônios da Garoa: símbolo do samba paulista |
Em abril deste ano, o compositor Livio Tragtemberg e o jornalista Luiz Fernando Vianna se engalfinharam em uma rixa que parece jamais sepultada: a rivalidade entre o samba carioca e o samba paulista. Alvo de discussões históricas e estudos complexos, o emblemático ritmo encontrou nos morros do Rio seus principais expoentes e logo se espalhou por outras regiões do país, fundindo-se a gêneros locais. Na Terra da Garoa, foi inicialmente acolhido no interior e mais tarde chegou às ruas da capital, onde absorveu certas características da cultura metropolitana. Ainda que não tenha alcançado a repercussão de seu irmão mais célebre, o samba paulista tem muita história para contar.
O ritmo que veio do interior
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Pirapora do Bom Jesus |
Embora o tempo tenha tratado de esmaecer algumas características fundamentais do samba de Pirapora, muitos de seus filhos, emigrados para a zona urbana, conduziram os genes do samba de bumbo para a cidade, o que seria essencial para o surgimento dos primeiros cordões e escolas de samba paulistanas.
Sediados na região central de São Paulo, principalmente nos bairros do Glicério, Bexiga e Barra Funda, os blocos, agremiações e cordões pioneiros eram alimentados pelo samba trazido do interior. Maior campeã do carnaval paulistano, a Vai-Vai tomou corpo a partir do antigo bloco Saracura, da Bela Vista, assim como muitas outras escolas surgiram pautadas por descendentes africanos e imigrantes europeus residentes de bairros operários. Em cada velha guarda dessas agremiações é possível descobrir verdadeiras pérolas do samba paulista e do saudoso carnaval de rua, carinhosamente guardadas por antigos baluartes, personificações de uma história que perdura por décadas.
Adoniran paulista
Em seu texto publicado na Folha de São Paulo, o crítico Luiz Fernando Vianna tenta desconstruir a figura de Adoniran Barbosa colocando-o "no nível do segundo time dos sambistas cariocas" e assinalando que seu tino cômico, um dos principais chamarizes do sambista, eclipsa suas defasagens como compositor. O "superestimado" Adoniran de Vianna - defendido por Livio Tragtemberg - tem uma importância histórica incomensurável para o samba paulista, esmiuçada tantas vezes por estudiosos e amantes da música. Suas composições, calcadas no dia-dia suburbano, ainda que primem pela veia humorística e social, não se limitam a ressaltar o homem simples envolto em mazelas agridoces.
Como faz questão de enfatizar Tragtemberg, Adoniran não simboliza apenas um "ator social", excluído e marginalizado; sua música faz a população paulista - especialmente as camadas menos favorecidas, oriunda dos quatro cantos do país - se identificar com suas letras e aprender a se orgulhar de seu lirismo bonachão.
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Osvaldinho da Cuíca |
Fotos: www.demoniosdagaroa.com e Prefeitura Municipal de Pirapora do Bom Jesus
Atualizado em 6 Set 2011.