Guia da Semana

Foto: Marcus Oliveira


Guia da Semana: De onde tira inspirações para compor?
Erasmo: O compositor trabalha 24 horas por dia, está sempre pensando em alguma coisa que rende uma letra. Tudo na vida pode me inspirar, uma frase que alguém diga, um problema ou um drama que um amigo esteja vivendo. O que vejo em TV, filmes, jornal. O importante é estar ligado e captar a intensidade da informação.

Guia da Semana: Quando você percebeu que deu certo na carreira de músico?
Erasmo: Foi quando eu ouvi meu primeiro disco, O Terror dos Namorados. Eu estava no banheiro, lendo uma revista, e começou tocar no rádio. Eu ouvi aquilo e quase saí sem me limpar. Foi uma emoção muito grande, me arrepiei, chorei. E era um programa que tocava uma vez a música e, se o público gostasse, voltava. Foi muita emoção mesmo.

Guia da Semana: O Tremendão, com fama de galã, ainda faz jus ao título de garanhão com a mulherada?
Erasmo: Bixo, todo mundo fala isso, mas não é a intenção. Eu fui e sou um cara mulherengo mesmo, gosto de falar de mulher e procuro entender o universo feminino. Masnão é para me vangloriar. Fica aquele negócio da fama de garanhão, ma snão é bem assim. A mulher é maravilhosa. Uma me deu a vida, a outra me deu filhos, são as coisas mais lindas que podem existir, e a mulher, com certeza, é uma das coisas mais importantes da minha vida.

Guia da Semana: O rock'n'roll de hoje está muito diferente do que você costumava fazer e ainda faz?
Erasmo: A diferença, já que eu procuro me atualizar nas letras, é a tecnologia. Os acordes são os mesmos. O que as bandas atuais fazem é o mesmo. Elas até buscam simplificar mais em função da guitarra e comem muita harmonia. Como compositor geral, eu me pergunto se eles sabem fazer mesmo aquilo ou se fazem de propósito para ficar mais próximo do rock'n'roll clássico. A tecnologia é que fazem sonoridades novas.

Foto: Divulgação


Guia da Semana: Voltando um pouco atrás, na Jovem Guarda, como vocês encaravam a questão do preconceito, já que alguns intelectuais renegavam o estilo de vocês e se apegavam a outros cantores mais politizados?
Erasmo: O preconceito contra a Jovem Guarda existe até hoje. Por exemplo, se um crítico elogia, nas entrelinhas ele arrasa. Acho isso até engraçado. Roberto e Erasmo são muito marcados pelo preconceito. No início foi pior, claro. Tinha a linha dura do samba, pessoas que não admitiam instrumentos elétricos na música brasileira. Existia, também, a patrulha ideológica que cobrava uma posição sobre aquilo que estava acontecendo e eles nunca davam oportunidade para a gente se defender. Estavam mais ligados no que estava acontecendo, por serem universitários, por terem cultura diferenciada, diziam já ter lido Machado de Assis, José de Alencar e, até hoje, ninguém sabe quem leu realmente (risos). Era diferente da galera do subúrbio, da periferia, que começou a fazer música. Eles cobravam essa postura que, a meu ver, era ingrata. O movimento da Jovem Guarda pregava, de modo inconsciente, a liberdade. Mandava o jovem se libertar, dançar, cantar, se vestir do jeito que quisesse. Acho injustiça analisar por esse prisma. O próprio Caetano Veloso disse que Quero Que Vá Tudo pro Inferno tem uma força política muito maior do que umas quinze músicas de protesto que foram feitas na época.

Guia da Semana: No seu vasto acervo musical, existe alguma música que você não curte cantar ou escutar?
Erasmo: Um monte. Eu não ouço nada do que eu faço. Esse meu disco novo eu quero que todo mundo escute, mas eu já sei tudo que tem nele, então, não ouço. Já estou pensando em coisas novas. Têm muitas músicas que não fui tão feliz, às vezes falei demais ou falei de menos, às vezes o ritmo ficou errado e eu não gostei. Acredito que com os outros autores deva rolar isso também.

Guia da Semana: Vendo tudo que você já fez, como lida com o tempo?
Erasmo: Vou levando e empurrando, literalmente, com a barriga. Vou cozinhando em banho-maria. Não posso me importar com essa coisa de ficar mais velho, mas, por dentro, você acaba sentindo. Mesmo assim, você pode ter a idade que quiser. Eu converso com meu neto de quatro anos, por exemplo, na altura dele. Já o mais velho, eu preciso saber o que está rolando na rádio, do funk proibidão, para poder me entender com ele. A parte física não ajuda muito, é como uma roupa que vai ficando usada e velha. Mas, aí, quando você estiver se incomodando muito com essa roupa, vai lá e troca.



Atualizado em 6 Set 2011.