
O termo "snack culture" (cultura do aperitivo, em umatradução livre), difundido pela edição de março da revista americana Wired, define uma tendência do consumo cultural - obras em pequenos pedaços, em curtas doses (snacks), produzidos, consumidos e potencialmente descartados com a mesma velocidade pela qual os seus dados circulam pela internet.
Com a proposta de disponibilizar "só o que interessa" ao público, empresas bombardeiam a rede com versões enxutas de músicas, filmes, com a pretensão deapresentar apenas o essencial - nesse mundo da velocidade, as pessoas estariam sem tempo para consumir as obras inteiras. A fórmula para encontrar a essência de uma obra parece ser bem simples nesse caso: de um filme clássico podem ser apresentadas apenas as cenas "marcantes", de uma música, apenas o refrão ou um solo de guitarra.
![]() |
Interessadas em maximizar os ganhos obtidos com a venda de seus produtos - característica básica de uma sociedade de consumo - as empresas reduzem um trabalho ao "essencial" para facilitar a divulgação e caracterizar um novo tipo de consumidor - o que se contenta com o resumo, e que vai perder o interesse tão rápido quanto for a digestão, fazendo necessário que um novo "compacto" seja produzido. O material resultante dessa postura se caracteriza mais como umaação de marketing do que com uma produção cultural, e caminha para o superficial e o descartável. Porém, livre da influência de interesses corporativos, osartistas podem arriscar e fazer seus "snacks" íntegros - um exemplo bacana seria o dos autores de quadrinhos, que por muitas vezes conseguem produzir de maneira compacta (tiras) algo significativo e original.
Bons filmes em curta-metragem também servem para mostrar que é possível fazer um cinema bacana usando um curto espaço de tempo. Ramificações do rock como o punk e o speed metal trabalham com tempo reduzido e nem por isso deixam de ser significativas - isso para ficar só nos exemplos mais básicos.

Conceituar como produtos culturais ações de empresas interessadas apenas em ganhar um bom dinheiro pode criar a impressão de que só o refrão, os efeitos mais impressionantes de um filme e as cenas mais quentes de uma série são importantes - o produto se confunde com sua propaganda. Fica aos artistas o desafio de sempre: encontrar neste meio maneiras de desenvolver obras interessantes e significativas e que componham um prato principal - e não só um aperitivo.

Quem é o colunista: Diogo Silva
O que faz: é estudante de História e tocador de baixo elétrico.
Pecado gastronômico: café, bem ou mal passado.
Melhor lugar do Brasil: litoral da Bahia.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.