Guia da Semana

Gabriel Oliveira
Cena do musical Tom & Vinícius
Há 50 anos nascia um estilo que iria mudar a história da música brasileira. Uma mistura de jazz e samba, criado em reuniões na casa de músicos na zona sul da classe média carioca. Nesses encontros estavam nomes como Nara Leão, Carlos Lyra, Roberto Menescal, João Gilberto, Ronaldo Bôscoli, entre muitos outros. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba, depois, Bossa Nova se tornou um dos gêneros musicais mais conhecidos em todo o mundo, sendo Garota de Ipanema a segunda música mais tocada no planeta.

Hoje, mesmo com inúmeros ritmos que se ouve nas rádios, o ano de 2008 é marcado pelas homenagens que a Bossa Nova recebe por seu meio século de vida. Exposições como Bossa na Oca - que aconteceu no Pavilhão da Oca, no Parque do Ibirapuera, e resgatou as imagens e sons mais importantes destes 50 anos do movimento, ou o filme Os Desafinados, que mostra uma banda no início da década de 60 que tanta ganhar o mundo com o novo ritmo nacional, são alguns dos presentes que a cultura nacional ganha. O teatro também não fica atrás e faz a sua homenagem ao gênero. Porém, os grandes protagonistas são: Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, os maiores ícones desse período.

O musical Tom & Vinícius narra os 10 anos mais intensos da parceria entre o maestro e o poeta, que começou no ano de 56, com a realização da produção teatral Orfeu da Conceição (peça de Vinícius com músicas de Tom). O espetáculo, idealizado por Marcelo Serrado conta a história de uma amizade. "a dupla Tom e Vinicius é como o Yin e o Yang, um completa o outro. Enquanto um era tímido ao extremo, o outro era um poeta boêmio. A relação deles não prima pelo conflito, mas por uma intensa amizade", afirma Serrado.

O projeto existe na cabeça do ator há mais de quatro anos, mas ele queria dar uma outra visão da história dos compositores. "Quando a gente pensa em Tom e Vinícius sempre nos lembramos dos últimos anos de vida da dupla. Quis dar um foco diferente, mostrar quando eles eram jovens, o caminho que eles fizeram para conseguir colher os frutos que vemos hoje", completa.

Para realizar o sonho profissional, Marcelo teve que trilhar caminhos árduos, entre eles conseguir autorização das famílias dos músicos, dos colegas compositores, escolher a direção, elenco, dramaturgos e além de tudo se preparar para viver nos palcos (cantando e tocando ao vivo) o saudoso Tom Jobim. "A minha preparação foi intensa, ensaiava horas por dias. Já sabia tocar violão, mas tive dores nos dedos, na nuca, deixava de ir para a praia para aprender a tocar piano clássico e popular", relembra. Mas o ator garante que todo o esforço valeu a pena. "Sou um apaixonado pela música e percebi, quando vi o filho e a neta de Tom Jobim na platéia, me assistindo no ensaio, que cada segundo de ensaio valeu a pena".

O papel de Vinícius de Moraes fica a cargo de Thelmo Fernandes, escolha de Marcelo Serrado com ótima aceitação do diretor do Daniel Herz. "Quando estávamos fazendo a audição para escolher o elenco e o Thelmo começou a interpretar, eu até me arrepiei. Era igual! Os movimentos do braço, o jeito de falar, de andar... parecia que era o próprio Vinícius ali na minha frente", recorda Daniel.

Já para Guilhermina Guinle, que interpreta duas (Lilá Boscôli e Lucia Proença) das nove esposas que Vinícius teve durante a vida, o musical foi um grande desafio. "O Marcelo começou a me falar sobre as pesquisas que estava fazendo para o musical e perguntou se eu não queria fazer um teste. Na hora eu neguei de imediato, não conseguia me imaginar cantando no palco, mas depois fui seduzida pela idéia e quis cair de cabeça no projeto, assim como ele", revela a atriz. Para isso Guilhermina leu vários livros sobre o tema, teve aulas de canto e contou com uma força muito especial. "As filhas do Vinícius me ajudaram muito a compor os meus personagens. Pedia palpite, toques, dicas, tudo o que elas podiam me passar até porque a Lilá era muito diferente da Lucinha. O resultado ficou fantástico", afirma.

Fora os três atores o espetáculo traz ainda mais 14 pessoas no elenco que interpretam ícones como: Dolores Duran, Frank Sinatra, Rubem Braga e Elizeth Cardoso. Os números musicais contam com o acompanhamento de seis músicos. Além de homenagear a amizade sincera entre Tom e Vinícius, o esptáculo é um ótimo presente para quem quer relembrar ou conhecer um pouco mais sobre Bossa Nova.

Atualizado em 6 Set 2011.