Guia da Semana

Foto: Divulgação


O público que vai assistir a um show do Tangos e Tragédias se divide em dois: os que já conheciam a dupla e se divertem com as impressões dos novatos e os que vão assistir pela primeira vez. No meu caso, fui um novato levado ao show por um veterano e a expectativa estava toda em minhas mãos, pois o show mudou muito pouco em seus 25 anos de vida.

Protagonizado pela dupla Hique Gomez (violino) e Nico Nicolaiewsky (acordeom), o show mistura teatro, música, humor e interação com o público, de longe, o ponto alto da apresentação. A dupla começa o show tocando músicas de artistas pouco conhecidos ou esquecidos, como O Ébrio, de Vicente Celestino, e Tango da Mãe, de Cláudio Levitan.

O show começa a ganhar força quando as interpretações teatrais complementam as músicas e tudo se interliga. Mesmo já tendo ouvido as histórias de quem conhece o show, a apresentação da dupla é excelente e consegue cativar o público.

No meio do show, a banda explica de antemão como é o protocolo de pedido de bis e pede para a plateia pedir "Mais um, mais um" ou "Volta, volta", após saírem, pois deixaram o melhor momento do show para o Bis. A partir diss, comecei a ver o porquê do entusiasmo dos veteranos com a dupla, mesmo após 25 anos de estrada.

A dupla explica que vieram de um país chamado "Sbornia", que devido a sucessivas explosões nucleares se desprendeu do istmo que o ligava ao continente, e hoje é uma ilha flutuando pelos oceanos, que recebe todo o lixo cultural dos países do mundo. É uma simbologia muito inteligente, porém não é utilizada ao seu potencial máximo, devido à falta de atualizações ao espetáculo.

As músicas relacionadas a esse país fictício são o ponto alto do show, e é onde a maior parte da interação com o público acontece. Algumas pessoas são chamadas ao palco para dançar a dança oficial da Sbornia, o Copérnico, e durante as músicas a dupla convida o público a participar, criando momentos sonoros únicos. É ai que a dupla fortalece o show, com um domínio de palco que poucos artistas tem hoje. Até os mais tímidos se sentem compelidos a participar, ao ver as pessoas ao redor se divertindo com a dupla, que já praticamente antecipa todas as reações que receberão da plateia.

Quase ao fim do show, a dupla surpreende, ao cantar uma música em inglês. Só ao ouvirmos a palavra "Jaçanã" que descobrimos ser a música Trem das onze de Adoniram Barbosa, para surpresa dos novatos e risos dos veteranos.

Após o término do show, ao sairmos do teatro, encontramos a dupla na frente do teatro, continuando a divertir cantando uma versão de A minha alma, da banda o Rappa. Mesmo ao fim do show, cansados e com frio, o domínio de público continua afiado e muitos permaneceram para prolongar a experiência.

Nesse vídeo, uma pessoa vai ao palco dançar o Copérnico com a dupla:



O que ficou do show foi como o teatro e a música podem se complementar, porém, sem a interação excelente com o público, o show não teria a força e os seguidores fanáticos que possui. Ao longo da apresentação, também é possível notar que o script é seguido a risca e cada piada ou participação do público já é esperada, o que nos deixa imaginar o que mais a dupla poderia criar se houvesse a iniciativa de expandir esse trabalho. Vale a pena passar por essa experiência e quem sabe assistir mais de uma vez, para ver se a apreciação do espetáculo muda ao se tornar um veterano em Tangos e Tragédias.

Quem é o colunista: Formado em jornalismo, casado e trabalha em uma empresa de tecnologia.

O que faz: Gosto de assistir filmes, ficar em casa, ler, conhecer lugares novos e jogar videogame.

Pecado gastronômico: Sorvete de capuccino, feito em casa por mim e pela minha esposa.

Melhor lugar do mundo: Minha casa, em um sábado chuvoso, à tarde, com minha esposa, um computador e meus videogames..

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Atualizado em 6 Set 2011.