Guia da Semana



Frequentar a cena cultural das cidades deveria estar ao alcance de todos, mas infelizmente não é o que ocorre na prática, principalmente, quando o assunto é teatro. Os altos preços - como 50, 80, 100 e até 200 reais por um ingresso - impedem que a grande maioria da população usufrua do que é um direito básico: cultura e lazer.

Por isso, em 1991, o governo federal criou a Lei de Incentivo à Cultura, conhecida também por Lei Rouanet, com a finalidade de: estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais (CDs, DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e outras produções na área Audiovisual, exposições, livros nas áreas de Ciências Humanas, Artes, jornais, revistas, cursos e oficinas); proteger e conservar o patrimônio histórico e artístico; estimular a difusão da cultura brasileira e a diversidade regional e étnico-cultural, entre outras. Segundo a legislação, ela pode ser usada por empresas e pessoas físicas que desejam financiar projetos culturais e, como benefício, é possível deduzir do imposto de renda até 60% do valor investido. A lei permite, também, ao patrocinador, obter retorno de produtos como CDs, banners e gravuras, para utilizar como brinde ou marketing pessoal.

A preferência por grandes espetáculos

A intenção era que o incentivo fiscal beneficiasse a empresa, o idealizador do projeto e também a sociedade como um todo. Mas não é isso que acontece. "As empresas podem escolher em qual projeto investir e acabam selecionando espetáculos e shows de grande visibilidade, com artistas consagrados para se beneficiar com o marketing. Companhias pequenas, as que realmente precisam da ajuda financeira, são esquecidas", argumenta Thiago Reis Vasconcelos, diretor da Cia. Antropofágica.


O próprio Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, acredita que a Lei Rouanet precisa ser melhorada. De acordo com ele, a legislação tem permitido, entre outras coisas, que as empresas invistam apenas em espetáculos e ações de grande visibilidade, em sua maioria na Região Sudeste e ao longo do Litoral. "É necessário corrigir mecanismos na lei que permitam o cumprimento da exigência de regionalização, do compromisso com a produção artística local", disse em entrevista à Agência Brasil recentemente.

Para a vendedora Juliana Morena, é quase impossível ir ao teatro. "Os ingressos custam, em média, 30% do meu salário. Não dá para pagar! Depois eu escuto as pessoas falarem que o povo brasileiro é ignorante e não vai ao teatro. Lógico! No Brasil, a cultura foi feita para pessoas ricas", protesta.

Por outro lado, a classe teatral defende o seu ponto de vista. "Fazer teatro custa caro. Temos que pagar o aluguel do espaço, o salário de toda a equipe e outras despesas. Mesmo com patrocínio, as coisas ainda ficam com valor elevado e isso acaba refletindo no preço do ingresso", explica a atriz Cláudia Mello, que interpretou a Dalila no seriado A Diarista, na TV Globo. Mesmo assim, Cláudia acha injusto com os espectadores. "Tentamos fazer peças a preços populares para beneficiar quem não pode pagar os R$ 60,00. Em Paulínia (interior de São Paulo), por exemplo, fizemos apresentações gratuitas. Foi fantástico".

Enquanto os valores não ficam mais acessíveis, só existem duas saídas: ou as pessoas deixam de ir ao teatro ou usam benefícios que ajudam a pagar menos. Mas mesmo assim, ainda fica caro! Agora é torcer (e cobrar!) para que todas as promessas feitas por políticos sejam efetivamente colocadas em prática e, a Lei Rouanet beneficie quem tem que beneficiar. Só assim o povo terá acesso ao lazer e à cultura.

Atualizado em 10 Abr 2012.