Guia da Semana

Se as novidades são sempre bem vindas no mundo das artes, o Teatro nos mostra, a cada dia, que os clássicos são sempre um sucesso e atemporais. Entre tantas peças, o dramaturgo Dario Fo também nos prova o fato com o espetáculo "Morte Acidental de Um Anarquista", que foi escrito em 1971 e ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1997.

Em cartaz no Teatro Folha até dia 18 de dezembro, a temporada conta com grandes nomes, como Dan Stulbach, Marcelo Castro, Henrique Stroeter, Riba Carlovich e Maira Chasseraux e, sem dúvidas, é uma daquelas que merecem sua visita. Confira abaixo os motivos:

ATEMPORALIDADE DA ARTE


“É impressionante como 'Morte Acidental' ainda é atual, 45 anos depois de escrita. É como se ele estivesse falando dos dias hoje, principalmente no Brasil. Em chave de farsa, Dario Fo nos brinda com um texto brilhante. O que fizemos foi tirar as referências que só faziam sentido para os italianos e a realidade em que viviam nos anos setenta. A fábula, a história na nossa montagem está intacta. O próprio Fo, a cada remontagem da peça, fazia modificações.” diz Hugo Coelho, diretor da peça.

HISTÓRIA VERÍDICA

Para quem ainda não sabe, o autor Dario Fo se inspirou em um caso verídico para escrever a peça. O caso trata-se do “suicídio” de um anarquista em Milão, em dezembro de 1969. Entretanto, o que o motivou foi o fato de que a história contada pelas autoridades foi extremamente absurda e, ainda assim, o caso foi arquivado. Porém, depois que Fo escreveu a obra, o caso foi reaberto e investigado.

No palco, podemos entrar em contato com sua engenhosidade, sua capacidade de escrever diálogos cortantes, de criar tipos diversos dentro de uma mesma peça, representados por um mesmo ator, aliado a um profundo senso cômico; que dão dimensão universal ao texto. Essa é sua peça mais conhecida, montada no mundo inteiro e recentemente, em Londres, foi encenada com referências ao caso Jean Charles.

ENREDO E PERSONAGEM FICTÍCIO

Um louco cuja doença é interpretar pessoas reais é detido por falsa identidade. Na delegacia, se passa por um falso juiz na investigação do misterioso caso do anarquista. A polícia afirma que ele teria se jogado pela janela do quarto andar. A imprensa e a população acreditam que foi jogado. O que teria acontecido realmente? O louco vai enganando um a um, assume várias identidades e, brincando com o que é ou não é real, desmonta o poder e acaba descobrindo a verdade.

O personagem do Louco (Dan Stulbach) representa um juiz como ponto alto de sua "carreira", pois já se passou por médico cirurgião, psiquiatra, bispo e engenheiro naval, entre outros. Na delegacia, preso pelo Comissário (Marcelo Castro) encontra os responsáveis pela investigação, o Delegado (Henrique Stroeter) e o Secretário de Segurança (Riba Carlovich). Depois a imprensa aparece, através da Jornalista (Maira Chasseraux). Todos, menos o Louco, foram inspirados em personagens reais.

E, para quem se pergunta, o papel do louco foi inserido, com maestria, para dar sentido à versão absurda contada pelas autoridades e, assim, fazer uma crítica cômica de uma situação trágica.

BATE PAPO COM A PLATEIA

Se algumas peças mantêm o público extremamente distante do que acontece no palco e dos atores que nele estão, "Morte Acidental" é deliciosamente o oposto disso. Minutos antes de iniciar, o elenco recebe sua plateia na porta tocando instrumentos e, ao chegarem na sala, iniciam um bate papo informal sobre tudo o que envolve a obra.

Assim, localizam-nos historicamente sobre os fatos verídicos, falam sobre a criação da peça, de Dario Fo, do momento sociocultural que a Itália vivia quando o suposto suicídio aconteceu e nos convidam a construir um olhar sobre tudo isso junto com cada um deles.

ESPONTANEIDADE E REFERÊNCIAS



Ao longo do espetáculo, que provoca risadas espontâneas e deliciosas dos atores - o que nos faz ficar ainda mais a vontade com o que vemos - as cenas são repletas de referências brasileiras e uma delas, meio a descontração em que se encontra, nos faz congelar os olhos e arrepiar da cabeça aos pés. Enquanto os atores cantam e dançam, Dan Stulbach sobe em um banquinho e inicia algo que nos soa como uma poesia arrebatadora, "Viva a arte, viva o teatro, viva Cacilda Becker, viva a poesia..." ... Arrepiou só de ler? Então vá correndo assistir!

SERVIÇO

LOCAL: Teatro Folha
TEMPORADA: Até dia 18 de dezembro de 2016. Sexta às 21h30 | Sábado às 20h e 22h30 | Domingo às 20h
PREÇO: Sexta: R$ 40 (setor 2) e R$ 60 (setor 1). Sábados e Domingos: R$ 50 (setor 2) e R$ 70 (setor 1)

Por Nathália Tourais

Atualizado em 7 Out 2016.