Guia da Semana

Já pensou em entrar na residência alheia, fuçar os armários, desfrutar do aconchego dos aposentos, mexer nas velharias e recordações, desvendar as intimidades, sem ter de pedir licença? Então, "abra a porta e vá entrando!". Em todo o país, casas de cultura e museus que, no passado, foram o lar-doce-lar de personagens épicos estão abertos à visitação do público.

Do Oiapoque ao Chuí, esses locais fazem um resgate temporal ao expor objetos pessoais de figuras que escreveram páginas da história, quer seja pelas suas vivências individuais, ou mesmo pelas contribuições para arte. Os visitantes são recebidos pela atmosfera que soa convidativa, apesar da ausência dos anfitriões. Portanto, sinta-se em casa:

Casa de Santos Dumont Casa de Dona Yayá

Há quem diga que a casa de dona Sebastiana de Freire Mello, em São Paulo, seja mal assombrada. Rica e única herderia de uma fortuna, Dona Yayá, como era conhecida, ficou presa no local por 32 anos, até morrer. Sebastiana, que nasceu em Mogi Mirim, perdeu os pais aos 13 anos. Depois de uma viagem a Europa, surgiram os primeiros boatos de que ela tinha enlouquecido. Em 1919, após uma tentativa de suicídio, foi considerada louca e presa em sua própria casa. Limitada a estar em um só cômodo e, de vez em quando, no solário, era alimentada por uma pequena janela em seu quarto, que fora reformado para parecer com o de um hospital psiquiátrico. Yayá permaneceu trancada na casa até 1961, quando faleceu de câncer. Até hoje, moradores e funcionários relatam visões do fantasma da velha senhora na janela de seu quarto e no solário reformado.

Aos que ficaram interessados em desvendar os segredos que rondavam a vida de dona Yayá vale fazer uma visita monitorada de domingo a sexta para conhecer essas e outras histórias da casa, além de participar de diversos projetos culturais.

A intimidade do pai da aviação também pode ser vasculhada pelos curiosos. Construída no antigo morro do Encanto, na cidade de Petrópolis-RJ, a casa planejada por Alberto Santos Dumont para servir de residência de verão, carinhosamente apelidada de A Encantada, é aberta à visitação do público. O prédio, um chalé do tipo alpino francês, possui três pavimentos: o primeiro, funcionava como uma pequena oficina; o segundo, servia para sala-de-estar e de jantar; e o último, como quarto de dormir. Uma curiosidade é que a casa não tem cozinha - todas as refeições vinham do Palace Hotel, atual prédio da Universidade Católica de Petrópolis, junto ao Relógio das Flores.

O mirante que servia de observatório astronômico e a escada recortada em forma de raquete, que obriga o passante a sempre começar o trajeto com o pé direito, chamam a atenção do visitante.


Roseando
Museu Casa de Portinari
O Museu Casa de Portinari, instalado na cidade de Brodowski, no interior de São Paulo, tem como edificação a casa onde residiu, em sua infância e juventude, o famoso pintor brasileiro. Tanto na cozinha como na sala permanecem os móveis e utensílios originais da época em que Cândido Portinari vivia no local. Pode-se considerar a casa propriamente dita como acervo, por conter em suas paredes pinturas do artista e muitas informações sobre sua vida e o contexto histórico e social de sua época.

Fatos que marcaram a vida do autor de clássicos brasileiros como Primeiras Estórias e O Grande Sertão Veredas compõem as obras em exposição no Museu Casa Guimarães Rosa , em Cordisburgo, Minas Gerais. Entre o final do século XIX e o início do século XX, era comum, principalmente no interior mineiro, a utilização das casas como residência particular e estabelecimento comercial. Assim foi construída a em que João Guimarães Rosa passou a infância e onde o pai do escritor, Floduardo Pinto Rosa, possuía a sua venda, tipicamente de Minas. O museu adaptado no local oferece exposição de longa duração, que reúne a totalidade do acervo sob sua guarda.

Fundação Casa de Jorge Amado Museu Victor Meirelles
O Museu Victor Meireles está instalado desde 1952 na casa onde o artista nasceu no centro de Florianópolis. Autor de quadros históricos, retratos, panoramas e de uma das mais populares telas brasileiras, Primeira Missa no Brasil, de 1861, Victor Meirelles deixou um extraordinário acervo, minuciosos esboços, estudos em papel e óleos sobre tela. O resultado é um museu em que se vê o processo de sua história, formado pelo passado, pelo presente e que expressa uma forte tendência às inovações do futuro.

O Museu hoje engloba não só o espaço da coleção e a casa do artista - patrimônio histórico - mas um espaço cultural de abordagem contemporânea, que preserva o acervo e o edifício com a ajuda de princípios científicos e de técnicas atuais da museografia, da museologia e da conservação preventiva.

Amado até no nome, o escritor que traduziu como ninguém a essência e a cor da Bahia foi homenagenado com a Fundação Casa de Jorge Amado, idealizada e instituída no centro de Salvador, com o objetivo de preservar e estudar o trabalho desse grande romancista, pai de personagens clássicos como Tieta do Agreste, Gabriela e Dona Flor, que caíram no gosto nacional, levando a literatura às telas de TV.

A Fundação inspira ares de boas-vindas com sua fachada azul, onde as janelas foram recortadas em arco, dominando toda a praça. Plantada bem no coração do chamado Centro Histórico, sítio tombado pela UNESCO, é rodeada por ladeiras centenárias, sobradões de fachadas austeras e beirais graciosos. Seu acervo é constituído por obras do autor, uma extensa coleção de fotografias, vídeos, cartazes e objetos relacionados a ele e suas obras, além de arquivos de cartas e documentos.

Atualizado em 22 Ago 2013.