Guia da Semana

Fotos: www.sxc.hu
Vista da capital da Austrália, Sidney

Como na minha última coluna citei em um parágrafo minha estadia na Austrália, fiquei com saudades e com vontade de contar um pouquinho da viagem que mudou a minha vida. O elo que existe entre pessoas que já foram ou moraram um tempo lá é inexplicável e significa a intensidade com que as terras australianas mergulham na alma de quem passa por ali.

Uma ilha (enorme) excluída do mundo. Lembro que nas minhas aulas de geopolítica e de história da escola e da faculdade os professores dominavam a história e sabiam muito sobre a política no mundo. Porém, nem todos conseguiam explicar exatamente porque na Austrália tudo dava certo. Os esquerdistas até fugiam do assunto e eu ouvia constantemente a mesma resposta: "A Austrália é um caso a parte". Definitivamente, é o país dos sonhos e depois de passar um tempo lá, convivendo com o povo e conhecendo os belos lugares, fiquei encantada.

Mas, já aviso desde o começo: é um lugar para aventureiros, sejam jovens ou mais velhos, o espírito é diferente de uma viagem para a Europa onde se respira história, arte e cultura. Apesar de ser um país com paisagens naturais exóticas de sobra, suas cidades principais guardam peculiaridades distintas.

Em Sidney, a noite é bela. Bares, discotecas, restaurantes e muitos, muitos turistas passeiam pelas badalações. As praias são lindas e aproveitadas desde cedo tanto pelos australianos quanto pelos visitantes de passagem. Na maior metrópole do país, as pessoas andam de barco, ferryboat, lancha, trem, metrô, ônibus, carro, bicicleta, tudo. Imagina voltar do trabalho de barco para a sua casa, que tal?

Goald Coast. Cidade de filme e dos adolescentes também, que aproveitam a vida diurna mais do que em qualquer lugar do mundo. As escolas fazem aulas na praia. Educação física na areia. O surfe é a atividade mais realizada em Gold, como é conhecida por aí. Praias maravilhosas de ponta a ponta, cidade limpa, que tem como pano de fundo o universo das ondas. Ondas que ditam a moda, a música e o estilo de vida. Desencanada e sem cerimônias, assim é Gold Coast.



Tive um encanto maior por Melbourne. A cidade de cerca de 3,7 milhões de habitantes não tem praias e sua arquitetura é mais parecida com uma cidade européia. Eu tive a impressão de que é lá que ficam as pessoas mais voltadas para a arte, cultura e estudos. Apesar de ter uma cara de séria e até por fazer mais frio do que no resto do país, Melbourne é o lugar que eu moraria para sempre. Há um centro lindo, com parques, jardins e bondes que passam por grande parte da cidade para locomover a população. Bondes de trilhos mesmo, conhecidos como "trams".

Cairns abriga uma das mais belas e famosas barreiras de corais do mundo. Mergulho, florestas, trilhas e praias paradisíacas com direito a baladas sensacionais durante a noite. Tudo isso forma o conjunto de um dos lugares mais legais (essa é a palavra mesmo) do mundo. Quando cheguei lá, achei bastante estranho e não gostei das praias do centro. Realmente em Cairns em si, tenho de confessar que, elas não me agradaram muito, mas na região, nas excursões que fizemos ao redor, encontramos a tal beleza. Uma delas é Cape Tribulation, praia localizada num hotel excluído de tudo, no meio do mato, enorme, com gringos do mundo inteirinho e uma praia deserta alucinante. Sobre a barreira de corais, é um precipício de uma natureza linda e silenciosa debaixo da água, é essa a imagem que tenho em meu pensamento agora.

Falando do meu carinho especial: Perth. Algum tempo atrás havia uma placa na chegada a cidade: Bem-vindo a cidade mais isolada do mundo. E foi lá que eu passei seis meses. De manhã, em qualquer canto de Perth é possível ouvir os pássaros cantando no céu. O frio de lá é o mais gostoso do mundo. Faz muito calor no verão, mas muito frio no inverno, tipo 0 grau, mas é seco, tem o céu azul e o sol mais bonito que já vi. As praias de Perth são, na minha opinião, as mais exóticas de todas que já conheci. Lindas, com água gelada até no verão e afastadas do centro urbano. Durante a semana as pessoas lá até se esquecem que eles têm praias. Essa é a melhor parte de Perth: metade urbana, metade litorânea. E as duas partes são mágicas.

Margaret River e Rottenest Island estão localizadas perto de Perth. A primeira é oficialmente a do surfe. Os profissionais encaram as ondas de helicóptero em alta temporada. A cidade é uma rua, mas as praias da região são ainda pouco visitadas pelas pessoas, ou seja, ainda há algumas desérticas. Tem que andar muito de carro, a pé ou de bike para conhecer tudo. Porque uma é bem longe da outra. Rottenest é uma ilha. Ao chegar lá, todo mundo ganha uma bicicleta e não é permitido andar de carro. De bicicleta é possível fazer passeios ao norte e sul da ilha e passar por lagos, montanhas e paisagens. Parece que você está vendo um álbum de fotos na sua frente.

Ayers Rock. Passar seis dias lá foi muito. Não há nada para se fazer a não ser contemplar o infinito do deserto. As coisas se mexem de verdade quando você fica muito tempo admirando a paisagem. O lindo de lá é ver o pôr e o nascer do sol que fazem a pedra mudar de cor. Sensacional e um pouco alucinante. Caminhadas, bicicletas, sinuca, cervejinha e piscina dão um toque mais especial ao meio do nada, na imensidão de terras.

Ah, que nostalgia! Segurança, respeito, excelente receptividade, carinho e uma sociedade civilizada completam as lembranças que tenho, além da beleza de cada pedaço de chão da Austrália. Tenho até medo de voltar lá daqui uns anos e encontrar algo diferente. Prefiro guardá-la na minha memória, mas, se um dia você tiver a oportunidade, não pense se é longe ou se existem outros lugares no mundo, vale a pena conhecer algumas dessas cidades nesta passagem pela vida. E não se esqueça de se entregar para essa viagem, é necessário!

Quem é a colunista: Natália Marques

O que faz: jornalista

Pecado gastronômico: sorvete de chocolate

Melhor lugar do Brasil: São Paulo

Fale com ela: [email protected]




Coluna anterior da Natália
No jeitinho brasileiro

Atualizado em 6 Set 2011.