Guia da Semana

Foto: Divulgação

A Estação Pinacoteca recebe até 23 de maio uma exposição sobre o norte-americano Andy Warhol (1928 - 1987), estampando no terceiro e quarto andares do prédio boa parte das obras mais conhecidas do ícone da pop art, referência mundial na segunda metade do século XX.

Warhol foi um artista múltiplo que fluiu livremente pelas artes plásticas, fotografia, cinema e música. São dele capas de discos clássicos de bandas como Rolling Stones e Velvet Underground. Retratou como poucos as particularidades da cultura de massa e do sonho americano, elevando-os ao nível de matéria artística.

A exposição Andy Warhol - Mr. America, cujo título faz referência ao concurso de fisiculturismo que se tornou marco popular naquele país, é antes de tudo um alerta sobre a importância da experiência direta.

Mesmo em tempos de superexposição às imagens, a riqueza do contato material ainda é insuperável. Especialmente em um artista que se alimenta do próprio materialismo.

A exposição acerta em cheio ao pontuar as obras de Warhol com citações pessoais e anotações de contexto, pois ajuda na compreensão e enriquece a visita. E à semelhança da mostra "Fauna e Flora", sete anos atrás no Bank Boston, a curadoria da Pinacoteca entrega na dose certa. O suficiente para satisfazer, mas deixando acesa a curiosidade.

As criações de Warhol se situam no limite entre a produção humana e a reprodução maquinal, característica da sociedade de consumo, nascida e consagrada nos Estados Unidos da América. Ao observador sobram dúvidas sobre a intenção do artista: humor ou drama?

Na contramão dos manuais da superficialidade politicamente correta, existem conflitos em quase tudo o que Andy toca. É difícil compreender, por exemplo, o desejo de um artista tão particular de uniformizar os seres humanos.

Suas sutilezas são precipícios. A sensação de repetição em certas obras gera ao mesmo tempo estranhamento e conforto. No conjunto, o acervo questiona a individualidade, como na célebre (e acertada) premonição de que "no futuro, todos serão famosos por quinze minutos".

Política e celebridades são igualadas de um ponto de vista psicológico e social. São seus assuntos prediletos, juntos do voyeurismo, da auto-exposição e da morte, vista como uma etapa natural e necessária.

Nas peculiares serigrafias sobre tecidos, Marilyn Monroe, Mao Tsé-Tung e Lênin, as sopas Campbell, Nixon - que ganha nas cores e sobreposições ares de vilão de HQ - e o casal Kennedy, dentre outros. As barbáries e seus personagens ascendem ao estrelato, sob novas perspectivas. Nos autoretratos, camuflagens do personagem/artista em seu habitat natural urbano, marginal e vanguardista.

É preciso ver para compreender, e cumpre aqui guardar certas surpresas...

Vale muito a pena conhecer também os acervos fixos do museu. Em especial, o Memorial da Resistência, uma iniciativa para preservar a memória de ilustres e anônimos que perderam a vida em nome da democracia no Brasil. Uma homenagem justa e adequada: de 1939 a 1985, o prédio da Estação Pinacoteca abrigou o DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), o repulsivo órgão de repressão e tortura do governo militar.

A mostra Andy Warhol - Mr. America fica em cartaz na Estação Pinacoteca, de 20 de março a 23 de maio de 2010, de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada custa R$ 6,00 (estudantes e idosos pagam meia) e é grátis aos sábados. No Largo General Osório, número 66, Luz. Mais informações no telefone 3335-4990.

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Quem é o colunista: Rafael Martins Gregório.

O que faz: Jornalista, músico, advogado e escritor.

Pecado Gastronômico: Pizza, chocolate, sorvete. Guloseimas exóticas em geral.

Melhor lugar do mundo: Minha cama e um colinho bom.

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Atualizado em 6 Set 2011.