Guia da Semana

Foto: Nathalia Clark/APH

Enquanto a temporada de eleições chega ao fim, o setor das artes continua com exposições voltadas para a questão política. Prova disso é a recém-abertura da 29ª Bienal de São Paulo, cujo mote é a impossibilidade de se separar arte e política. A frase "Há sempre um copo de mar para um homem navegar", de autoria do poeta Jorge de Lima (em Invenção de Orfeu, de 1952) resume a intenção dos organizadores para o tema da exposição.

Instalada no Pavilhão do Ibirapuera desde o dia 25 de setembro, a Bienal já recebeu mais de 11,5 mil visitantes, disponibiliza obras de 159 artistas e segue em cartaz até 12 de dezembro. Entre os artistas convidados, figuram nomes como os de Nuno Ramos, autor de uma das mais polêmicas obras da mostra, um viveiro, onde três urubus convivem ao som das músicas Acalanto, Bandeira Branca e Carcará, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Flávio de Carvalho, Douglas Gordon, Francis Alÿs e Ai Weiwei.

Acostumada em descobrir histórias, de cunho político ou não, por meio de livros e música, artes plásticas é uma área de interesse relativamente recente para mim. Considero que é sempre bom acrescentar o novo ao repertório já adquirido, principalmente quando a expressão artística desperta o interesse por outras áreas que, em um primeiro momento, são mais importantes para a vida em sociedade. É o caso da escolha de candidatos para cargos que detém o poder de decidir para que lado as mudanças econômicas e sociais. Acredito que abrir os olhos para a arte seja quase tão importante quanto fazer bom uso do voto - seja dando crédito a alguém ou a um partido, seja anulando ou votando em branco.

Claro que muitas outras exposições acontecem em todo o país tendo política como objeto de discussão. A escolha de retratar a Bienal paulistana como opção de lazer serve como exemplo para que o interesse pelo meio aumente. Ainda em São Paulo, por exemplo, é possível visitar, até 28 de novembro, no Sesc Pompéia a exposição Joseph Beuys - A revolução somos nós, dedicada ao artista alemão Joseph Beyus (1921-1986). Com curadoria de Antonio d'Avossa, a mostra reúne 250 obras elaboradas por Beyus entre 1964 e 1968.

Beyus associou muito de seu trabalho (cartazes, esculturas e instalações) com debates e palestras sobre temas políticos transformando-os em obras de referência para a arte contemporânea. Bastante conhecido por seus múltiplos, uma forma de produção artística facilitada pelo desenvolvimento de técnicas de reprodução, ele criava slogans capazes de explicar sua concepção de arte. Entre 1965 e 1986, o artista alemão criou aproximadamente 600 múltiplos e 40 deles estão expostos no Sesc Pompéia. É o caso de exemplares da revista Der Spiegel, que trazem Beyus na capa, ou de objetos diversos como a Bateria Capri (uma lâmpada energizada por um limão), cartões-postais de feltro e madeira ou ainda o projeto-movimento Defesa da Natureza, cuja intenção é revalorizar a agricultura italiana.

Em tempos de decisão política no nosso país, em que muitos artistas se candidatam a cargos públicos - diga-se de passagem exercendo um direito que é de qualquer cidadão, muito embora possa-se questionar o valor de tal atitude - e outros tantos preferem não manifestar interesse pelo setor, exposições como estas servem de exemplo para pessoas de todas as idades que talvez se sintam estarrecidas com o mesmo velho discurso.

Leia matéria sobre a 29ª Bienal de São Paulo


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Atualizado em 6 Set 2011.