Guia da Semana

Foto: Ari Magatti

Sob duas rodas, José Ramalho percorreu 3.100km no Expresso do Oriente

"A bicicleta é um meio de transporte único porque ela proporciona uma proximidade com as pessoas que nenhum outro oferece". Esse é um dos trechos da entrevista realizada com José Antônio Ramalho, que dentre suas inúmeras viagens com a "magrela", realizou o caminho do Expresso do Oriente, na Europa, percorrendo 3.100 km entre Paris até chegar a Istambul, na Turquia. Foram 45 dias pedalando e seguindo os trilhos do famoso trem do velho continente.

O jornalista, escritor e fotógrafo tem outras viagens sob duas rodas em seu currículo, como o caminho de Santiago. "Quem faz uma viagem de bicicleta nunca é considerado uma ameaça. Essa pessoa é sempre bem vinda", afirma Ramalho. Em um dos seus livros, intitulado de O Guia da Mountain Bike, o aventureiro dá dicas de como manter uma relação íntima com a bike e ressalta a importância de um condicionamento físico apropriado. "De um completo sedentário, eu adquiri um preparo físico para pedalar mais de 1000 km entre o Tibete até o Nepal. Tudo isso em seis meses", revela.

Para ele, a bicicleta desafia, mas ao mesmo tempo respeita os limites. "Se em um dia você pedala 5 km no outro você quer chegar a 10 km até o momento em que grandes distâncias viram hábitos e percebe-se que está pedalando 80 ou 90 km diariamente", conta. Assim como Ramalho, o advogado Antônio Olinto Ferreira é um apaixonado pela magrela. Sua maior aventura durou três anos e rendeu o livro No Guidão da Liberdade, de 1997, onde conta detalhes da viagem que fez de bicicleta percorrendo 13 países da Europa, um da África, nove da Ásia e onze da América. Os números falam por si: foram 46.620 km pedalados por 4 continentes e 81 Parques Nacionais visitados por todo o mundo.

A partir de 1998, quando voltou desta grande aventura, Olinto passou a morar em um motor-home e dedicou-se a ensinar as normas de trânsito referentes às bicicletas em escolas fundamentais Brasil afora. Segundo seu site oficial ( www.olinto.com.br), o aventureiro conversou com cerca de 60.000 crianças para explicar os benefícios da bike em todos os sentidos.

Ambos estiveram presentes na última edição da Adventure Sports Fair, maior feira do ramo de esportes de aventura da América Latina, realizada entre os dias 10 e 13 de setembro, em São Paulo. Além de contar detalhes sobre suas aventuras à reportagem do Guia da Semana, José Antônio Ramalho e Antônio Olinto falaram também sobre a política de ciclismo em nosso país.

A importância da bicicleta no dia-a-dia

Experientes na área, José Antônio Ramalho e Antônio Olinto Ferreira têm praticamente a mesma opinião em relação à política do uso da bicicleta no Brasil, seja para viagens ou para o transporte diário nas grandes cidades. "Eu vejo até alguns esforços de entidades e ONGs em prol de um uso maior da bicicleta, mas aqui no Brasil a questão é cultural. Quem a usa é considerado pobre. Na Europa, eu já vi diretores de empresas chegando aos seus locais de trabalho de bicicleta", afirma Ramalho.

Para Olinto, os projetos de cicloturismo são totalmente financiados pelo próprio cicloturista. 'Nao há nenhum tipo de ajuda nem patrocínio', afirma. Entretanto, o advogado vê uma luz no fim do túnel. "Começo a ver algumas atitudes interessantes, como a do metrô e a de alguns parques que criaram ciclofaixas. O ciclista precisa ter o seu direito defendido, pois nós somos muitos e precisamos nos unir mais", defende.

Foto: Ari Magatti

Antônio Olinto (dir) critica a falta de apoio ao ciclista no Brasil

A bordo de seu motor-home, Olinto faz viagens e monta roteiros especiais para os cicloturistas. Em seu site, é possível adquirir obras e guias de viagens preparados pelo próprio, como os caminhos da Fé, chegando até Aparecida do Norte, em São Paulo, e também os desafios da serra da Mantiqueira.

Outro ponto que ambos concordam é em relação ao desrespeito a quem anda de bicicleta. A esposa de Antonio Olinto, Rafaela Asprino, acompanha o marido e afirma que o motorista de carro costuma frear para tudo menos para o ciclista. "É necessário fazer uma malha viária apropriada para a bicicleta, o que não temos hoje em dia. Em São Paulo, criaram uma ciclofaixa que funciona aos domingos ligando parques da cidade. Isso é uma piada", diz José Antônio Ramalho.

Atualizado em 6 Set 2011.