Guia da Semana

Foto: site oficial/ Reality Tour and Travel


A maioria é européia, chega a bordo de um jipe, de bermuda caqui, chapéu com abas e suas inseparáveis câmeras fotográficas. Pode parecer mais um safári na selva, mas nesse caso a aventura e o alvo dos flashes é a população que mora nos morros e suas humildes residências, mais especificamente na zona sul do Rio de Janeiro. Com o pretexto de vender pacotes exóticos para o público que procura experiências inusitadas, as agências de viagens comercializam o tour da realidade.

"O passeio em áreas pobres não é um 'privilégio' das favelas cariocas. É um fenômeno global e tem uma demanda enorme. Os visitantes que realizam esse tipo de turismo acham que dessa forma beneficiam o local, porque pensam que o dinheiro é repartido com a comunidade", salienta a Socióloga Bianca Freire Medeiros, autora do livro Gringo na Laje (Editora FGV) em entrevista para o Programa do Jô.

Já outros turistas acham que a melhor maneira de conhecer o país e suas desigualdades é a partir do contato com esses espaços . No geral, os moradores se mostram receptivos, recebendo muitas vezes de porta aberta os roteiros que atravessam a sua soleira, com a convicção de que essa visibilidade, que não é dada pela mídia e nem pelos moradores da própria cidade, é uma forma de destruir o estereótipo da violência na favela.

Confira abaixo os principais roteiros turísticos onde a favela é a atração alvo:

Rocinha, Rio de Janeiro

Foto: site oficial/ Favela Tour


Localizada entre os bairros da Gávea e São Conrado - com residências de alta classe - a Rocinha é um profundo contraste urbano na região. De acordo com o Instituto Pereira Passos, órgão oficial do governo, são 56 mil habitantes, apesar de fontes não oficiais afirmarem residir cerca de 200 mil distribuídos nos 820 mil metros quadrados. Desde 2006, a favela da Rocinha é o único ponto turístico oficial entre as moradias de baixa renda do Rio de Janeiro, sendo inclusive indicada pela empresa de turismo da prefeitura (Riotur).

No local circulam em média 3,5 mil turistas por mês e oito empresas estão licenciadas para promover a atividade, investindo paralelamente no ecoturismo. O boom do mercado se deu após o filme A Cidade de Deus (2002), aumentando o interesse estrangeiro por conhecer as moradias precárias.

O passeio, que dura cerca de 3 horas, acontece por dentro do morro e promete observar a rotina desta comunidade com visita à casa de moradores, creches e escolas, passando por entre as vielas e pelo centro comercial do bairro, com uma feira livre de comidas, bebidas e artigos de artesanato da região Norte-Nordeste - de onde provém a maioria dos moradores do bairro. Ao final, uma visita ao galpão da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha.

O público é, em sua maioria, europeu e norte americano, distribuídos em diversas idades, desde famílias com crianças de colo a velhinhos aposentados. As agências mantêm alguns moradores envolvidos com as atividades turísticas, tanto como guias ou trabalhando com o artesanato. Este último é bem explorado com produtos By Rocinha, como placas de boas vindas, camisetas, CDs, quadros e pulseirinhas.

Longe de ser um local livre do tráfico e do crime organizado, a Rocinha é a maior fornecedora de drogas do Rio de Janeiro. A pesquisadora Bianca Medeiros afirma que as agências atualmente não têm acordo com os traficantes, embora ocorra um consenso de informar ao visitante para não fotografar pessoas armadas no morro.

Empresas que oferecem a atração:

Favela Tour
Preço: R$ 65,00
Horário: diariamente em dois períodos, às 9h e às 14h.
Duração: 3h
Observação: o passeio inclui a visita por duas favelas, Rocinha e Canoas

Jeep Tour
Preço: R$ 87,00
Horário: ver disponibilidade do cliente
Duração: 3h

Dharavi, Índia

Foto: site oficial/ Reality Tour and Travel


Com oito estatuetas no prêmio mais famoso do cinema mundial, o filme Quem Quer Ser Um Milionário (2009) apresenta a historia de um indiano pobre que concorre a uma bolada de dinheiro em um programa de perguntas de TV. Além de mostrar a Índia real ao mundo, o longa quadruplicou o turismo na maior favela da Ásia, Dharavi, em Bombai, que tem um milhão de habitantes em 1,7 quilômetros quadrados. Para ter acesso a essa cultura, a Reality Tour and Travel realiza o tour nesta região desde 1992 e conta com sete guias atendendo cerca de 800 turistas todo mês.

O passeio visita três comunidades distintas, explicando suas crenças, costumes, superstições, o papel das mulheres e os problemas que eles enfrentam. Também mostra os motivos que fizeram dela o coração da indústria de pequena escala, apresentando atividades de reciclagem, confecção de panelas de barro, fábrica de sabão e outros.

O passeio pode durar de 2h30 (US$ 10,00 para cada pessoa) até 9h (US$ 135,00 em grupos de até cinco turistas). Visitantes como o príncipe Charles e Bill Clinton já foram a Dharavi. A empresa pretende com a atividade ajudar a dissipar a imagem negativa que muitas pessoas têm sobre esse lugar e destina 80% dos lucros para ONGs locais.

África do Sul

Foto: wikipedia



Criada na época do apartheid, as townships tinham como propósito manter a população negra afastada dos brancos. Elas sofriam com as más condições de habitação e de saneamento básico. Mesmo com o fim do regime segregador, esse tipo de moradia precária continuou existindo devido a problemas econômicos da África do Sul. As visitas guiadas foram introduzidas como parte do turismo há pouco tempo e servem como uma experiência para quem tem interesse em conhecer um pouco das etnias e da realidade do país fora dos hotéis de luxo.

Quem opta por um passeio de um dia, começa a conhecer a região pelo guia - um provável morador que apresenta seu ponto de vista sobre o estilo de vida da comunidade. O roteiro inclui passeio a pé pelas casas, estabelecimentos comerciais, creches, escolas e igrejas, com conversa com os moradores. O almoço é servido em um restaurante local, com a tradicional comida africana.

Já àqueles que escolherem passar a noite em uma casa na township, há a experiência de um contato ainda mais próximo com os residentes, recebendo as refeições do anfitrião e participando de fogueiras onde a família local canta. A maioria dos habitantes é da etnia xhosa, a mesma de Nelson Mandela. O passeio é seguro e a arquitetura dos barracos, com crianças andando pelas ruas de terra e mulheres com latas d'água na cabeça, oferecem muitas semelhanças às favelas brasileiras. Soweto, Alexandra, Khayelitsha e Langa são as favelas mais procuradas. O tour custa cerca de US$ 60,00 por pessoa.

Empresas que oferecem a atração:

Walk Tour

Legend Tourism


Antes de se aventurar no turismo nessas regiões carentes é preciso tomar cuidado ao contratar esse tipo de serviço, conversar com o guia e conhecer o roteiro antes de embarcar. Recomendamos ver a confiabilidade da agência ou ter indicação de alguém que já participou da atividade.

Atualizado em 6 Set 2011.