Guia da Semana

Fotos: Julian Marques


Quem passa pela intersecção entre a Avenida Paulista e Avenida Consolação nem imagina que o caminho subterrâneo reserve um universo particular. Pudera, trata-se de um dos mais movimentados cruzamentos de São Paulo. Como se não bastasse, diariamente, em especial nos horários de rush, o local é cenário de um espetáculo no qual milhares de pedestres e motoristas disputam espaço na ânsia de ir e vir; uma verdadeira maratona de pessoas que correm para cumprir horários.

Não fosse pela atenção de alguns observadores, o túnel que submerge o caos do asfalto passaria desapercebido. Justamente ali, debaixo do movimento citadino do concreto, uma verdadeira caverna urbana sobrevive. A Passagem Literária da Consolação, como é conhecida, se difere das outras galerias da cidade.

Para surpresa de quem ousa conhecer, o percurso, quase secreto, oferece uma expressa viagem cultural. Um pequeno sebo coletivo dispõe à venda os mais variados títulos de livros e publicações. Buscando entreter os ouvidos, a atmosfera do itinerário instiga os passantes com uma trilha sonora inusitada: que vai de Mowton à música erudita, sempre passeando por ritmos menos conhecidos.

Aos amantes de cinema, vale conferir os banners que anunciam filmes em cartaz no espaço HBSC Belas Artes que, não por acaso, é vizinho de uma das saídas do trajeto. Como se não bastasse, o espaço ainda abriga exposições com diversos temas e, esporadicamente, há apresentações de shows. Além de todo o circuito cultural, a rota é uma boa opção para quem deseja cortar caminho e fugir do abre e fecha dos semáforos.

Adriano Lima, livreiro que trabalha no local desde 2005, observa que o corredor, muito mais do que levar de um lugar a outro, é uma galeria de arte que quebra a velocidade do pedestre. "As pessoas percebem o ambiente, olham, param observam. Muitos optam por esse trajeto: há quem venha aqui para se distrair, passar o tempo, correr contra o tempo. Mas é interessante ressaltar que esse cenário destrói qualquer contexto de segregação, pois aqui o andarilho e o bacana têm os mesmos direitos, o espaço é democrático, pertence a todos", avalia.

*Confira as exposições em cartaz na Passagem Literária:

Exposição Portraits
Corpos Restantes

Atualizado em 6 Set 2011.