Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal


Neste Carnaval resolvi finalmente fazer o Vale Europeu. Este circuito foi idealizado há cerca de quatro anos pelo Clube de Cicloturismo, em conjunto com um consórcio das prefeituras da região. Desde sua criação, tinha ouvido muitas histórias sobre o caminho, mas nunca dava certo de ajustar uma saída de sete dias para fazê-lo inteiro. A semana da folia foi ideal para isso. Até porque, nessa época, o Clube organiza o Velotur, que reúne ciclistas de vários estados numa só viagem. Todos seguem de maneira independente, mas se juntam ao fim do dia, para partilhar as experiências e dar muita risada.

O circuito é composto de duas partes. A parte baixa engloba Timbó, Pomerode, Indaial e Rodeio. Neste trecho, as subidas são mais leves, mas o clima é mais quente. As principais atrações dessa parte ficam por conta da cidade de Pomerode, que é um pedaço da Alemanha encravado no vale, e Rodeio que representa a ala italiana na região. Em Pomerode, os destaques ficam por conta da rota do enxaimel que vemos ao chegar à cidade, a microcervejaria que aplaca a sede depois de 50 quilômetros rodando numa estrada quente e uma confeitaria alemã com bolos maravilhosos.

Já em Rodeio, o vinho da San Michele é a atração principal. Mesmo sabendo que temos uma subida grande pelo caminho, não dá para deixar de experimentar e até levar uma garrafa até o alto da serra, para o jantar da noite.

Deixando Rodeio, passamos por imensas plantações de arroz, que desaparecem assim que começamos a subir. É nesse trecho que começa a parte mais esportiva do circuito e também a mais bonita. A parte alta é onde reconhecemos o nome do circuito - a partir de 400 metros de altitude o clima já é bem mais europeu. A primeira subida é grande, tem cerca de oito quilômetros. A conquista do topo é premiada com uma descida maravilhosa, em meio a uma plantação de pinhos, até chegarmos ao vale do Ribeirão do Zinco. Ali, a visão da cachoeira do Zinco atrai toda a atenção e dá uma injeção de ânimo para enfrentar a segunda subida. Essa é bem menor, com cerca de dois mil metros, embora a coisa complique no último trecho.

O esforço é grande, mas vale a pena. Campo do Zinco não é apenas a cachoeira, é uma possibilidade de banho no rio e uma festa gastronômica. Há um restaurante, comandando pela Dona Magda, que faz qualquer subida ser esquecida com facilidade. Foi o melhor jantar de todas as paradas.

No trecho seguinte, até Dr. Pedrinho é somente para apreciar a paisagem de montanha. Só no outro dia é que temos mais uma cachoeira: o Véu de Noiva. Bem menor que a do Zinco, mas com a possibilidade de chegar bem perto da queda, ela nos fez perder uma hora entre caminhadas e fotos. Depois dela, partimos em direção ao Alto Cedro. O fim do dia foi na represa do distrito.

A hospedagem neste ponto é oito ou oitenta. De um lado, o requintado e caro Parador da Montanha, um pouco avesso a ciclistas. Do outro, a pousada do Raolino, um pouco improvisada e mais comedida nos serviços. Mas como não dava para seguir adiante por questões físicas, o negócio foi aguentar a improvisação e pagar menos.

No penúltimo dia, chegamos a uma altitude de mais de 900 metros. De brinde, temos que cruzar dois riachos, que são usados de lavabike para tirar a lama que começava a acumular com o dia de chuva. A descida nos premiou com uma cachoeira para lavar a alma.

O dia terminou em Palmeiras, com um jantar no restaurante do Faustino que, apesar de simples, parecia uma festa de Babete. A comida parecia não parar de sair da cozinha, para o delírio de uma trupe que já mostrava sinais de seis dias de pedalada.


O último dia foi longo, mas tranquilo. A grande atração foi completar o percurso de 300 quilômetros. O fim da trilha, na bela ponte de Timbó, foi a deixa para o início da festa. Foram sete dias intensos, tanto esportivamente quanto no contato com a natureza. Coisa que só o cicloturismo pode oferecer.

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Quem é o colunista: Fotógrafo e editor do site Onde Pedalar.com

O que faz: Fotógrafo editorial.

Pecado gastronômico: Um só? Na Bahia, Biju; em São Paulo, pizza; em Curitiba, Strogonoff de nozes e, em Belo Horizonte, feijão.

Melhor lugar do mundo: Aquele que te faz se sentir bem, equilibrado.

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Atualizado em 6 Set 2011.