Guia da Semana

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Largada da Maratona Pão de Açúcar, em São Paulo

O Guia da Semana adverte: Correr causa dependência de endorfina e de experiências, sejam afetivas, sociais e psicológicas. Para repetir e aumentar as doses, os praticantes pegam a estrada e aproveitam para conhecer novos lugares, provando que é possível aliar saúde e cultura.

É só dar uma volta pelo bairro para ver gente correndo em praças, ruas, parques e avenidas. Um levantamento da Corpore (Corredores Paulistas Reunidos), maior associação da América Latina, mostra o salto do número de adeptos das corridas de rua. Em 1997, foram 9.430 inscritos nos eventos da entidade. No ano passado, mais de 132 mil - sem contar os outros tantos que seguem as provas por conta própria. Atualmente, cerca de 500 provas são realizadas por ano no país.

São vários os motivos que levam as pessoas a pegar gosto pela prática: da preocupação com o corpo ao interesse em reforçar vínculos profissionais. Depois das primeiras conquistas, passam a treinar para aperfeiçoar as marcas e competir o próximo circuito.

No pé, um bom tênis e a estrada

Acervo Pessoal

A carioca Ana Carolina em Vitória, Espírito Santo

É o caso de Ana Carolina Martins, carioca de 28 anos e urbanista. Convidada por um casal de amigas para participar de uma prova de rua promovida por uma marca de tênis, ela resolveu encarar. "Saí morta da primeira corrida, de apenas 5 km, mas adorei". Daí não parou mais. "Com os treinos, você vê como o corpo se recupera rápido e passa a querer mais", comenta Ana, que pratica quatro vezes por semana, correndo de 30 a 40 km. "A Lagoa Rodrigo de Freitas já ficou pequena para mim", ri a atleta amadora.

Essa primeira prova foi em março deste ano. Cinco meses depois, em agosto, pegou o carro e passeou pelo litoral com um grupo de amigos até chegar a Vitória, no Espírito Santo. O motivo: correr as 10 milhas de uma prova patrocinada por uma marca de chocolates. "Foram três dias ótimos. Fui às praias do litoral sul do estado, conheci Vitória e almocei em bons restaurantes". Em setembro, encarou os 21 Km da meia maratona do Rio. A prova juntou mais de 17 mil corredores. "A questão estética do corpo fica para trás depois que se descobre como correr faz bem, dá prazer e é gratificante". Ano que vem, Ana pretende estar na meia maratona de Buenos Aires.

Lado a lado com o Mickey


Acervo Pessoal

O paulistano Edson na meia maratona do Rio de Janeiro

Para largar o sedentarismo e reforçar os laços com os colegas de trabalho, Edson Alves dos Santos, paulistano de 38 anos e analista de informação, resolveu entrar para o grupo de corrida do Grupo Pão de Açúcar, no qual trabalha na área de automação comercial, em 1999. Passados dez anos, já é um veterano amador e participou quatro vezes da São Silvestre.

Uma das experiências mais marcantes da sua vida de atleta foi participar da festiva e já tradicional meia maratona da Disney em 2003. O percurso começa no Epcot Center, vai até o Magic Kingdom e retorna ao ponto inicial. "Fomos em um grupo de 50 corredores e ficamos quatro dias em Orlando. Cansados de tanto fast food, encontramos no último dia um restaurante brasileiro. Foi minha primeira viagem internacional".

O vício da endorfina contaminou toda a família. Hoje, sua esposa o acompanha nas provas. A próxima será a Volta da Pampulha, em Belo Horizonte, no dia 06 de dezembro. O filho de 10 anos vai pelo mesmo caminho. "Ele vê os pais correndo e pede para participar".

Circuito Top

Acervo Pessoal

A paulistana Martha correndo na Toscana, Itália

A prática que envolve adultos e crianças tem até nome oficial. Chama-se pedestrianismo e foi batizada pela Federação Internacional das Associações de Atletismo (IAAF). As corridas de pedestrianismo englobam toda a prova disputada em circuitos de rua, avenidas e estradas com distâncias oficiais variando entre cinco e 100 quilômetros (Km).

"A minha primeira prova foi em 2002. Fiz 6 quilomêtros suados e achei que nunca mais ia correr". Hoje, Martha dos Santos Pereira, paulistana de 46 anos, vai a pelo menos oito competições oficiais por ano. A última foi na segunda semana de outubro, em Pomerode, Santa Catarina. No início, a empresária corria para entrar em forma e comer sem culpa. "Me considero uma viciada, pois correr é muito bom e o principal prêmio é cruzar a chegada e ter o prazer de participar da prova para depois comer bem".

Ela alia o trabalho no ramo de turismo com o gosto pela corrida. "Procuro cidades menores e circuitos menos badalados, como o de Boston, onde estive em maio do ano passado. Fiz a prova em seis horas, pois fui parando e tirando fotos. É a melhor forma de ser conhecer uma cidade", confirma. Outros circuitos internacionais percorridos por Martha foram os de Paris, Lisboa e Egito.

Acervo Pessoal

Midnight Run, no Central Park, no ano passado

Porém, a prova mais divertida foi a Midnight Run, em Nova Iorque. A competição acontece todo o ano na noite do Réveillon dentro do Central Park. "Participei na virada de 2004 para 2005. É um grande evento, com shows e apresentações. Muitos corredores vão fantasiados e os postos de hidratação servem água e champanhe. No final, todo mundo dançou ao som de uma banda de axé, acompanhado de chocolate quente e conhaque para suportar o frio de rachar", diverte-se Martha com a lembrança.

Mas nem se precisa ir tão longe para comer bem antes e depois das corridas. Quando participa da meia maratona do Rio, Martha vai ao Celeiro e ao Quadrucci nos dias antes da prova e comemora a conquista no rodízio de frutos do mar da Marius. Já Rafael Pereira Rego, estudante universitário carioca de 19 anos esteve em São Paulo para correr a São Silvestre no ano passado. Aproveitou a estada para jantar no Fasano, na Praça São Lourenço e revisitar o Masp. "Correr é estar em trânsito e conhecer lugares, sempre em busca de algo mais".


Curiosidades


No passado:
Estima-se que nossos ancestrais percorriam em torno de 20 a 40 km por dia para caçar, pescar e colher frutos e raízes. Hoje, as atividades rotineiras urbanas fazem com que caminhemos somente 2 km por dia.

Surgimento: As corridas de rua surgiram e se popularizaram na Inglaterra no século XVIII. A maratona, prova mais tradicional dos circuitos de rua, é realizada desde a primeira Olimpíada Moderna, na Grécia, em 1898.

O cooper: Por volta de 1970, o médico norte-americano Kenneth Cooper criou o "teste de Cooper", mostrando os benefícios da prática. Daí a popularização entre nós brasileiros do termo cooper para designar corridas leves. Em inglês, a palavra é jogging.

Para todos: Na mesma década de 70, foi permitida a participação popular nas provas de rua junto com os corredores de elite, porém com largadas separadas para os respectivos pelotões.


Fonte: Corrida de rua: análise do crescimento do número de provas e de praticantes, de José Vítor Vieira Salgado, publicado na revista Conexões, da Faculdade de Educação Física da Unicamp.

Atualizado em 26 Set 2011.