Guia da Semana

Fotos: scx.hu


Em discórdia ao dito popular, eles são cães que rosnam, latem e partem pro ataque. Os pit bulls retratam uma espécie concebida para brigas e duelos. O aspecto rude e imponente da raça envolve um mito de medo e controvérsias.

Alvo de discussões polêmicas, essa estirpe canina descende de inúmeras gerações de game-dogs, mais precisamente do cruzamento de bulldogs e terriers. O resultado da experiência é a criação da família intitulada como APBT (American Pit Bull Terrier), envolvida por uma tradição de treinar os animais para serem altamente violentos, prática que segmenta uma linhagem de verdadeiros cães de luta, com alta tolerância à dor e resistência no combate. Por esse motivo, os pit bulls são tão temidos e, em algumas situações, dignos de banimento.

Nas últimas semanas, a região da Grande São Paulo serviu como cenário de histórias alarmantes sobre a convivência conjugada entre pessoas e cachorros da espécie. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, três casos de ataques foram registrados, dois envolvem mulheres e um outro, uma criança. A informação preliminar é de que as vítimas não correm risco de morrer. Contudo nem sempre a ocorrência é reversível e, por vezes, leva à fatalidade; fato que aconteceu com o aposentado Aroldo da Silva, 76, que não resistiu aos ferimentos provocados por um cão da família.

O cachorro avançou quando Aroldo caminhava para abrir a porta da casa para sua filha, no final da tarde. A filha teria ouvido o ataque, mas não pode ajudar o pai, já que estava do lado de fora da residência. O idoso morreu antes de ser socorrido.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a família teria um casal da raça pit bull. Por conta do ocorrido, os dois animais foram encaminhados para o Centro de Controle de Zoonoses.

Melhor amigo do homem?
O que leva um cão a matar seu próprio dono? Questionada sobre o assunto, a médica veterinária do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ) de São Paulo, Elisabete Aparecida da Silva, relata que não existe um laudo que ateste os pit bulls como animais que representem riscos concretos à sociedade. "Diante de ataques, fatais ou não, os fatores devem ser analisados caso a caso", ressalta.

Mas uma coisa que nem todos sabem é que há muitas leis nacionais que punem a imprudência de proprietários de cães. A emenda determina o seguinte código penal: omissão de cautela na guarda ou condução de animais dá pena de dez dias a dois meses de prisão ou multa. O Código Civil impõe que o dono ou detentor do animal ressarcirá o dano por este causado se não provar: que o guardava e vigiava com cuidado precioso; que o animal foi provocado por outro; que ouve imprudência do ofendido; que o fato resultou de caso fortuito, ou força maior.

Como reagir aos ataques?
A reação de desespero e medo é comum às pessoas que passam por situações de ataques caninos. Mas, certamente, esse não é o comportamento mais adequado nesses casos. As dicas do psicólogo e zootecnista especialista em comportamentos de animais, Alexandre Rossi são as seguintes:

É preciso estar atento a todos os sinais que o cão transmite: alguns deles são posturas clássicas que nos indicam que o ataque está eminente. Mostrar os dentes, pêlo eriçado, abanar apenas a ponta da cauda, orelhas eretas e contato visual prolongado.

O proprietário de um cão deve, antes de tudo, identificar as situações que podem estar na origem de eventuais ataques. De seguida, é importante modificar atitudes incitatórias e reverter o temperamento do animal através de uma aprendizagem adequada.

Esse condicionamento pode passar pelo treino para a obediência, pela inversão da dominância e por um contacto mais estreito com o dono. Alexandre trabalha há quase 10 anos adequando o comportamento canino, através de atividades promovidas pela sua empresa Cão Cidadão, que disponibiliza serviços de consultoria, cursos para os donos, avaliação comportamental e adestramento.

O zootecnista alerta que ser dono de um cão não implica, simplesmente, levar o animal até à rua ou alimenta-lo. Cada proprietário deve ter consciência de que o cão, tal como qualquer outro animal, é capaz de ser agressivo. Portanto, manter uma vigilância contínua é fundamental para se evitarem situações mais graves, como a recente onda de ataques.

Ele explica que é preciso avaliar as condições psicológicas das pessoas que criam os bichinhos, para ensinar lhes a impor limites. "Fatores como mimar demais agravam a agressividade do animal. É preciso disciplina-los como seres submissos e obedientes, para que eles entendam quem está no comando", ressalta.

No caso de ataque de fato, Alexandre recomenda que a vítima não corra ou reaja; pois esse tipo de atitude pode soar como uma afronta ao cão, atiçando ainda mais a sua fúria. Portanto, o mais adequado é agir com naturalidade, até que se encontre uma forma segura de sair da situação, como imobilizar, sedar ou amansar o animal.

* Aprenda como disciplinar o seu cão com o livro Adestramento Inteligente, de Alexandre Rossi.

Atualizado em 6 Set 2011.