Guia da Semana

Fotos: www.sxc.hu

O jogo da final da Copa do Brasil entre Sport e Corinthians chamou toda a atenção da mídia de Recife em 11 de junho. Com isso, no começo da tarde do mesmo dia, não deram tanta importância para outro acontecimento próximo da capital pernambucana. Na Praia dos Milagres, ao lado de Olinda, um menino de 14 anos estava surfando a 20 metros da areia e foi atacado por um tubarão. Ele sofreu grave ferimento na perna esquerda, mas foi socorrido e sobreviveu. Foi o segundo caso do ano e o 53º desde 1992 no litoral pernambucano, com 19 mortos em todo o período.

É o único estado brasileiro cuja costa tem risco de ataque de tubarões. O número de casos havia diminuído pela sinalização freqüente. Porém, depois de algum tempo sem ataques, há hipótese de as pessoas acharem que o risco é menor. O governo agora se esforça para aumentar ainda mais a sinalização e avisar a população que as praias continuam impróprias para surfe. Mas por que a região da Grande Recife tem tubarões?

A explicação viria da inauguração do Porto de Suape em 1992, 50 km ao sul de Recife. A fêmea da espécie de tubarão cabeça-chata, que sempre viveu na região, entrava na água doce do mangue para parir seus filhotes, mais especificamente nos rios Merepe e o Ipojuca. Os contatos dos dois rios com o mar foram desfeitos, além da destruição de uma grande área de mangue. Assim as fêmeas da espécie cabeça-chata tiveram de procurar outros lugares para procriar.

A região mais próxima para procriar era o Rio Jaboatão, ao norte. Aumentando o contato dos tubarões com uma região mais populosa, o número de acidentes cresceu nas praias de Piedade, Boa Viagem e Pina, na Grande Recife. "Os tubarões também tiveram de aumentar seu local de caça, que passa muito próximo da praia de Boa Viagem e arredores, aumentando assim a interação do homem com o tubarão. O problema do desequilíbrio ambiental foi criado pelo próprio homem, agora temos de aprender a conviver", explica o biólogo Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Aqualung.

Cabeça dos tubarões



O filme Tubarão, de 1975, dirigido por Steven Spielberg, mostrou os tubarões como verdadeiros demônios do mar. Apesar de eles praticamente não terem predadores na água, a verdade é que aquele comportamento nem de longe lembra o da vida real, pois os tubarões não comem pessoas. Seus ataques são quase sempre por acidente ou por sentirem seu território invadido, dependendo da espécie.

Com a alimentação de moluscos, peixes, raias, crustáceos e até pequenos tubarões, o tubarão não tem uma visão excelente. A água escura ou o contraste do sol faz com que ele confunda o homem com uma de suas presas. Quando isso acontece, ele dá uma mordida investigatória, só para sentir o gosto da presa. A mordida não é com sua força total, apesar de poder causar lesões sérias nos humanos. Contrariando o filme de Spielberg, ele jamais volta para dar uma segunda mordida em uma pessoa, pois não a vê como possível presa.

"Outro tipo de ataque acontece quando com a fêmea em parto. Ela fica mais nervosa, como as mulheres, descansando a cerca de 20 metros da areia. Com a água escura, o turista chega perto sem perceber. Como faria com qualquer espécie que se aproximasse, ela dá um ´chega pra lá´, uma mordida forte. Como ela é grande, tem cerca de 2,5 metros, pode causar grandes estragos", conta Szpilman.

As espécies

A espécie cabeça-chata, a que vive na região de Recife, é apenas uma das mais de 400 encontradas no mundo. Conhecido como territorialista, não costuma fazer grandes migrações. É o campeão de ataques a seres humanos. Uma das explicações é que seria uma das únicas espécies a conseguir viver em água doce. Seu estrago também é grande, pois seus dentes serrilhados rasgam a carne quando chacoalha a cabeça, como algumas outras espécies.

Também perigoso para as pessoas que vivem na região de Recife é o tubarão-tigre, com faixas pretas nas costas. Entretanto, o mais famoso do mundo é o tubarão-branco, protagonista do filme de Spielberg. Presente em todos os oceanos, exceto nos pólos, costuma permanecer próximo da superfície e migra até locais muito distantes. As praias preferidas são da África do Sul e Austrália, mas ele se mantém longe da costa e não tem um índice de acidentes com humanos tão grande. O que impressiona são o seu tamanho, cerca de cinco metros, e o seu peso, de quase duas toneladas.

Atualizado em 6 Set 2011.