Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal


"Senhoras e senhores, aqui quem fala é o comandante e peço a atenção de vocês para avisar-lhes que vamos sobrevoar a cidade de Mumbai durante 30 minutos, aproximadamente, devido ao trânsito aéreo, até que nos permitam pousar".

As palavras do comandante me deixaram apreensivo. Isso porque eram quase duas horas da madrugada de terça e, se o tráfego aéreo estava "daquele jeito" nesse horário, imaginei o que estava esperando por mim logo ali abaixo.

Após ser muito bem recepcionado por Glória, uma indiana que me aguardava, já fui avisado de que o que eu veria no caminho até o local de minha hospedagem não era comum. As ruas estavam "tranqüilas", segundo ela, devido ao horário. Mesmo assim, já dava para ter, mais uma vez, uma pequena idéia do que estaria por vir no horário comercial.

Na manhã seguinte, após andar num tradicional meio de transporte local, conhecido como "tuque-tuque", vi que cada pequeno pedaço de rua é disputado por transeuntes, animais sagrados e motoristas, em uma rua normalmente intransitável (para nós, ocidentais). Sem falar nos apitos, buzinas e motores barulhentos ensurdecedores.

(pausa)

Enquanto escrevia este texto, sobre as coisas que via no meu primeiro dia na Índia, fui informado dos ataques terroristas que aconteceram aqui. Fui tomado por uma mistura de insegurança, medo e ... raiva. Se for provado que é uma questão religiosa-política, envolvendo a velha questão da Caxemira, é natural esperar uma indignação dos inocentes que se sentem ameaçados por tais grupos separatistas.

A área atingida é um local nobre , "coração turístico e financeiro" da cidade. Fica longe de onde moro (no subúrbio), praticamente a duas horas de carro. Hotéis, bar, estação de trem,... Senti essa raiva porque nunca havia me sentido ameaçado "diretamente" morando no Brasil. Sempre que vemos pelos jornais o que acontece no outro lado do mundo, sentimos compaixão e tentamos ser solidários de alguma forma. Mas a sensação é outra quando você passa a ser parte das notícias. Vem aquela indignação de que coisas assim sempre acontecem e o que fazem para combatê-las é insuficiente.

Varei a noite acompanhando os noticiários, que cobriam o fato em tempo real. Cochilei algumas horas apenas. Fico impressionado com as notícias que surgem. Testemunhas dizem que os terroristas são "crianças" entre 20 a 25 anos, armados com armas automáticas e granadas. Pertencem a um grupo chamado Deccan Mujahideen (nunca ouvido falar até então) e chegaram até aqui através de um barco. Não se sabe ainda os motivos almejados por eles, mas tudo indica que seja uma questão religiosa patrocinada pelo Paquistão.

Não sei ao certo como os fatos são mostrados no Brasil. Mas por aqui, especula-se que 125 pessoas foram mortas. E outras dezenas permaneceram reféns em dois hotéis cinco estrelas, de beleza cinematográfica. Mas, embora o local atingido seja a área mais freqüentada por turistas e residentes, acredito que não se trata de um atentado contra estrangeiros, como é noticiado. Mesmo que esse grupo tenha procurado por americanos e ingleses, preferencialmente.

Deixando os motivos e as causas de lado, só espero que tudo isso acabe logo para que a vida possa seguir adiante. Que as autoridades prendam os responsáveis e descubram meios mais eficazes de combater ataques que afetem as vidas de pessoas inocentes. Por enquanto, resta apenas ficar de luto pelas vítimas dessa atrocidade.


Quem é o colunista: Alexandre Finelli

O que faz: Jornalista.

Pecado gastronômico: Salmão.

Melhor lugar do Mundo: Amparo, interior de São Paulo

Fale com ele: [email protected]





Atualizado em 6 Set 2011.