Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira


O estresse do trabalho, a alimentação desregulada e a falta de atividades físicas são as principais causas para o sedentarismo mundial. Segundos dados da Organização Mundial de Saúde, o sedentarismo é uma das 10 principais causas de morte por incapacidade do planeta. Em São Paulo, a parcela que não adere a esporte algum corresponde a 70% da população.

Para fugir dessa realidade, as pessoas estão aderindo cada vez mais aos exercícios aeróbicos. Longe de equipamentos sofisticados, lugares específicos e uma disposição de tempo, a caminhada e a corrida são atividades simples (não exigem habilidades específicas), práticas (somente roupas e tênis confortáveis para começar) e democráticas (tanto crianças como idosos podem participar). No Brasil, mais de 500 mil pessoas correm de forma amadora. Para o iniciante, a caminhada é mais segura e recomendada, sem quase nenhuma restrição. Os que já tem um pouco de prática, podem se aventurar em uma velocidade maior, esta abriga diversos níveis e objetivos.

"Antes de qualquer atividade, o interessado deve agendar uma entrevista com um profissional de saúde para fazer exames e ver se possui doenças pré-existentes ou familiares. A fase seguinte é a realização de testes de flexibilidade, abdominal e postural, com acompanhamento de um professor de educação física, que monte um programa de treinamento ideal para a pessoa", aconselha a cardiologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Airma Cutrim.

Respeitando os limites individuais, a atividade aeróbica diminui os riscos de problemas cardíacos; reduz gorduras localizadas de maneira gradual; combate à depressão (com a liberação de endorfinas, substâncias que atuam como analgésicos naturais); aumenta a força muscular; previne contra a obesidade, enfarto e osteoporose. Além disso, o esporte melhora a concentração, o humor e estimula a atividade sexual.

A caminhada e a corrida são alternativas baratas para a falta de tempo, pois basta um par de tênis e roupas leves para começar a praticar nas vias, clubes, praças e parques. Embora a poluição prejudique a qualidade do ar e provoque o surgimento de doenças respiratórias, esses esportes ao ar livre não são os únicos responsáveis. "Muitas vezes a academia também oferece um ar nocivo, pois ficam próximos a avenidas de trânsito intenso (e recebem o monóxido de carbono emitido pelos veículos). Ainda por cima, o ar condicionado de alguns lugares reduz a umidade relativa do ar, ressecando as narinas e prejudicando a respiração", aponta o otorrinolaringologista Fernando Oto Balieiro.

Foto: Gabriel Oliveira


O treinador Marcos Paulo Reis dá dicas para evitar esses problemas de saúde. "Os atletas amadores têm que ter cuidados como hidratar o organismo toda hora e sempre lavar o rosto, a vista e o nariz. Em relação aos riscos de contusões, os lugares mais adequados para correr são em terrenos com piso mais plano, uniforme, principalmente com terra batida, com menos impacto para as articulações".

Marcos Paulo é vice-presidente da Confederação Brasileira de Triathlon e já treinou personalidades como Daniella Cicarelli, João Paulo Diniz e o piloto Toni Canaan. Atualmente ministra aulas pela manha e à noite, no Parque do Ibirapuera, no campus da Universidade de São Paulo e na academia Reebok. Para quem estiver a fim de encarar a atividade aeróbica, aconselha. "O parque é o melhor lugar, com certeza, pela segurança que oferece sinalização, banheiro e pelos tipos de percurso".

O Guia da Semana acompanhou uma aula com o treinador no Ibirapuera. Em meio às instruções e dicas, o enérgico professor carioca solta frases como: "Quero ver queimar tudo que vocês beberam!" e "Tem que botar a cara pra bater, pô!". Os treinos duram cerca de 1h15, intercalando alongamento, caminhadas e exercícios específicos. Eles são divididos em três grupos, de acordo com o esforço físico. O participante costuma gastar entre 300 e 700 calorias para percorrer uma distância de 7 a 12 quilômetros.

"Mais importante que as calorias que você perde aqui, o fundamental é o aluno pegar outros hábitos, como a alimentação saudável e não só esperar que a corrida resolva", enfatiza Marcos Paulo. As aulas custam cerca de R$ 171,00 e o aluno pode freqüentar quantas vezes quiser, de segunda a sábado. A MPR, empresa idealizada por Marcos Paulo, atualmente dá aulas para 800 pessoas, nos parques Ibirapuera, Villa Lobos, Alfredo Volpi, além do campus da USP, estádio do Pacaembu e Granja Julieta.

Para quem se interessou e quiser começar, Marcos Paulo oferece dicas de lugares e aconselha. "Além dos lugares que treino, o Parque Ecológico do Tietê, Aclimação e Severo Gomes são boas opções. E para quem quiser entrar em forma, saiba que só é possível com a conciliação do seu gasto calórico com aquilo que treina e trabalha - repondo com alimentos saudáveis a energia perdida durante o dia".

O que mudou?

O Guia da Semana conferiu a opinião de alguns atletas amadores se exercitando por aí. Veja as transformações:


"A principal diferença que senti era que antes pesava 312 quilos, fumava e não tinha nenhuma disposição. Passei por uma cirurgia e comecei a fazer caminhada. Hoje não fumo, tenho 120 quilos e devo 80% do que sou a corrida!".
Cid Penteado, 39 anos - Comerciante
Treina há 8 anos.


"Pratico corrida para que a vida fique mais longa. Agora estou mais cuidadoso, não machuco, não fico doente e sempre estou com disposição".
Paulo Santos, 51 - Empresário
Treina há 2 anos e meio.


"A corrida é um esporte completo que me deu resistência. Hoje consigo fazer uma prova de 10 quilômetros".
Débora Racin, 24 - Arquiteta
Treina desde janeiro.


"Comecei na adolescência, peguei gosto pela corrida e hoje não consigo parar. "Quando estou parado e não posso treinar, parece que minha disposição diminui, fico mais cansado do que quando estou treinando".
José Luís, 48 - Consultor
Faz atividades físicas há 15 anos.


"Comecei a caminhar para não engordar. Tomei gosto pela coisa e não parei mais. Venho às 5h30 com um grupo de amigos. Hoje não faço dieta, como tudo, e não sinto mais sono à tarde".
Alaíde Nascimento, 58 - Dona de Casa
Caminha há 15 anos.


"Brigava muito com a balança e comecei a correr porque descobri que era a melhor maneira de manter o meu peso. Hoje penso em fazer corridas, maratonas, enfim, as atividades mais de competição".
David Citrinovicht, 62 - Psicoterapeuta
Treina há 22 anos.


"A caminhada é boa para o corpo e a cabeça. Venho com meu filho, pois é o tempo que tenho para ficar com ele, devido ao trabalho".
Daniella, 34 - Advogada
Sempre caminhou.

Antes de sair por aí correndo que nem o Forrest Gump, é preciso ficar atento para alguns cuidados:

? Um par de tênis com sistema de amortecimento diminui o impacto da pisada e protege as articulações. Escolha o modelo adequado de acordo com a maneira que pisa no chão.

? Para roupas, use os tecidos leves e, em vez de peças de algodão, prefira short e camiseta de tecido sintético, que facilitam a perda de calor, são mais leves e mais confortáveis.

? O Alongamento é fundamental para aumentar a flexibilidade das pernas e preparar os músculos para o exercício físico. No final da atividade, o importante é pegar mais leve, pois os músculos já estão cansados.

? Além dos dois litros diários de água, o atleta tem que consumir ainda mais, para evitar o aquecimento corporal. Especialistas aconselham consumir 500 ml, 1h antes das atividades e durante o treino beber de 15 a 15 minutos.

? Corridas ou caminhadas de até 1h podem ser hidratadas apenas com água. Treinos muito desgastantes e acima desse período fazem o organismo perder sais minerais, o que pode ser reposto com produtos isotônicos.

? Evite correr entre 12h e 17h. Além dos raios solares intensos, a umidade do ar está baixa, o que pode ocasionar doenças respiratórias. O protetor solar deve ser usado tanto no sol quanto no mormaço (tempo abafado e sem o sol).

? Para quem corre na rua, os faróis de trânsito são obstáculos naturais. Para não ficar parado, dê pequenas voltas quando não for possível prosseguir, ou vá até determinado ponto e retorne.

? O banho frio é o melhor remédio para evitar inflamação nos músculos. Por isso, depois de uma atividade aeróbica, recorra a uma ducha fria, pois ela relaxa os músculos e minimiza dores.

? Para quem acha que subir e descer as escadas faz bem para a saúde, precisa ter um cuidado dobrado. Esse tipo de atividade é válido para pessoas que já exercitam de nível intermediário para avançado, pois pode sobrecarregar músculos e articulações, principalmente na descida.

? Caminhar ou correr de máscaras cirúrgicas não melhora a respiração. Elas somente fazem a retenção das partículas suspensas no ar (fuligem), função que o nariz desempenha normalmente. Depois das atividades, limpe as vias nasais com soro fisiológico ou produtos a base de gel.

Fontes:

Fernando Oto Balieiro: otorrinolaringologista do Hospital Edmundo Vasconcelos.
Airma Cutrim: cardiologista do Hospital Edmundo Vasconcelos.
Marcos Paulo Reis: treinador da MPR Assessoria Esportiva.

Atualizado em 6 Set 2011.