Guia da Semana

Eu queria ser astronauta quando pequena. A razão era única e exclusivamente a viagem pra lua. Viajar sempre foi meu grande sonho e tenho realizado aos poucos. Então, eis que surge a primeira oportunidade de sair das terras tupiniquins. O primeiro destino escolhido foi Colômbia e o motivo era ter alguns conhecidos nativos. Resolvi que iria sozinha e muita gente achou que eu seria sequestrada pela Farc, o que de fato não aconteceu.

Tive a sorte de encontrar a família mais simpática e solícita de toda a Colômbia, na casa onde me hospedei. Já no primeiro dia, cheguei do aeroporto, comi frango, banana assada, batata e um tipo de biscoito feito de milho, e parti para conhecer a capital. Uma parada para tirar foto com Simon Bolívar de fundo, o cara que tornou diversos países latinos independentes da Espanha.

De lá, fui conhecer o Transmilenio, um ônibus novo, daqueles sanfonados, e o maior orgulho de Bogotá. Tanto que vi até camiseta com foto do busão. Lá, meu amigo Cesar foi explicando sobre a cidade, onde as ruas são praticamente todas designadas por números. Estávamos na rua 82 e seguimos até Gimenez, onde eu conheceria então o centro e o famoso bairro da Candelaria. No centro, a policia cantava o hino nacional e uma praça se dividia entre belas construções como a prefeitura, uma igreja e outros órgãos públicos. Seguindo em frente, uma parada pra foto com um dos seguranças da casa do presidente. E que casa!

Seguimos adiante por uma rua realmente estreita, próxima de uma universidade, com bares rústicos e artistas espalhados pela calçada. Na praça, uma turma ouvia um garoto mandar um freestyle. Subimos com a garganta seca porque, diferente dos dias anteriores, fazia sol e calor. Bogotá não tem quatro estações no ano, apenas frio ou calor. Geralmente, no mesmo dia é possível experimentar os dois, várias vezes. Chegamos ao bar para tomar a Colombiana. Se você já tomou tubaína, vai saber exatamente o gosto de guaraná doce que tem. ¡Muy rico! Logo depois, seguimos para Chía, com ch mesmo. "Não Carol, não é tia, é Chia". Acho que nunca mais vou errar o fonema.

Chegamos, nos perdemos e eis que estacionamos em uma chácara. Muito, muito frio. Então, fizemos uma longa caminhada no meio do mato até o topo. Lá, uma galera já nos esperava com a cerveja Aguila na mão e com uma vista maravilhosa de presente. As luzes de Bogotá iluminavam toda a escuridão.

Na volta, seguimos para o Andrés. Pensa no bar mais louco, colorido e... colombiano que você já viu. Shakira e Black Eyed Peas são alguns nomes que já estiveram lá. Comi patacones, que são bananas com queijo e molho. Também comi batatas e um tipo de bolo de milho com recheio doce e molho de queijo. Eles gostam muito de misturar o doce com o salgado. Tanto que nosso abacate batido com leite vira abacate com sal pra eles.

Barriga cheia, hora de rumbiar! Na chácara, eu já havia feito o intercâmbio cultural. Ensinei samba e aprendi salsa. Agora, deveria praticar. Eles todos arrasavam na pista, na salsa, no reggaeton e o que mais tocasse. Balada perfeita. Muita música, cerveja e até uma bela caipirinha de cachaça mesmo. No fim, ganhei uma rosa vermelha e corações caiam do teto. Hora de voltar a casa.

Acordei cedo e ansiosa para conhecer o Montesserrate. E não é que encontrei uma lhama? Abusei: tirei muitas fotos por 3 mil pesos e subi no bichinho que era menor que eu. Logo estava no teleférico, subindo o morro íngreme. Lá em cima, comi uma coisa que nunca imaginei. Até agora reviro quando lembro. Chama chunchullo e é nada mais, nada menos que intestino de vaca. Para esquecer, mandei pra dentro um pedaço de queijo branco com molho de framboesa e doce de leite. Entrei na igreja, joguei moeda no poço para fazer pedido, passei pela via crucis e segui para a fila do funicular, o trem que nos levaria de volta lá para baixo.

De lá, seguimos para o Museo del Oro. Muito, muito ouro e muitas lendas também. O símbolo da cidade, que já foi cunhado em uma moeda, estava lá. Era um vaso, que imita formas femininas, usado para moer a coca. Havia também la balsa, um barquinho minúsculo todo cunhado em ouro, com o cacique e seus seguidores, quando iam mar adentro levar oferendas a seus deuses. De lá, mercado das pulgas! Tem de tudo e pode pechinchar! Eles vão te abaixar o preço. Os vendedores te chamam de longe. Basta ver que é um possível comprador.

No terceiro dia, vistamos a Catedral do Sal - uma das maravilhas da Colômbia. Localizada em Zipaquirá, ela fica 33 metros abaixo da terra e 180 metros, em relação ao topo da montanha. Lá dentro, tudo é feito de sal e há todos os passos da Via Crucis representados por crucifixos de diferentes formas e tamanhos. Uma escultura no chão representa a pintura da capela Sistina, feita por Michelangelo, toda iluminada em azul.

Além do passeio monitorado lá dentro, é possível ainda saber como trabalhavam os mineiros. Isso porque La Ruta del Minero permite fazer o mesmo caminho que eles realizavam, garimpar um pouco e até simular uma explosão. No fim, ganhamos nosso salário: pequenas pedras de sal que tiramos da parede. Voltamos para casa, mas não sem antes provar uma Avena, bebida à base de trigo bem docinha e saborosa.

Chegou o último dia. Debaixo de chuva, pegamos o ônibus para a universidade do Cesar, onde estava rolando uma feira de reciclagem. Passamos a manhã por lá e eu fui apresentada às tradicionais empanadas - uma de carne e queijo e outra de "jamón e pinha" (presunto com abacaxi). Para finalizar a viagem, ele me levou à Zona T, uma região que agrupa bares, baladas e restaurantes, além de dois shoppings. De lá, com muita tristeza, precisei voltar para o aeroporto em direção ao Brasil.

Se sofri algum tipo de risco ao ir pra lá? "El riesgo es que te quieras quedar".

* Carolina Tavares é jornalista e repórter do Portal MTV.

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Atualizado em 6 Set 2011.