Guia da Semana

Fotos: Arthur Santa Cruz


Mato alto, correntes enferrujadas, lixos destruídos ou inexistentes, bancos de concreto quebrados e iluminação precária. Pode parecer estranho unir tantos adjetivos desse tipo, mas esta é a situação da maioria das praças públicas de São Paulo, que necessita de reformas ou uma manutenção mais extensiva para funcionar de maneira adequada.

Atualmente, a metrópole paulista possui quase 4.700 praças, distribuídas nas cinco regiões da cidade. Algumas possuem parquinhos, mesas para jogos, bancos de areia e até quadra para futebol; outras resumem seus espaços a grama, escultura e bancos de concreto. A Praça Charles Miller, por exemplo, possui 35 mil metros quadrados, em contraponto, há praças com apenas 50 metros quadrados.

Praça Tramontano x Praça Alfredo Egydio
O grande problema desses lugares públicos é a falta ou dificuldade de manutenção. Por estarem próximos das vias públicas, são mais vítimas do vandalismo que os parques fechados. Segundo o arquiteto André Graziano, assistente de áreas verdes da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, é no verão que elas requerem um cuidado maior, devido ao aumento de chuvas ocasionando queda de árvores, limpeza das calçadas e um aumento desordenado na vegetação. As subprefeituras com maiores quantidades de praças em São Paulo são: Sé, Lapa, Vila Mariana, Pinheiros e Butantã.

Aliado a isso, a conservação dos brinquedos nos parquinhos são outro ponto agravante, já que as crianças parecem não se preocupar com os pregos enferrujados, correntes corroídas e ferros quebrados. Uma visita feita por nossa equipe nesses ambientes, constatou que é nos lugares onde a situação desses brinquedos está mais precária, que os pequenos divertem-se despreocupadamente (a maioria sem a supervisão de responsáveis).

Praça Araruva
Constatação

O Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) realizou um estudo buscando traçar um panorama das praças da cidade, alertando as autoridades para a necessidade de reformas e uma política mais permanente de manutenção de praças, com destinação de recursos humanos, financeiros e tecnológicos para essas áreas. O Sinaenco analisou 4% ou 183 das 4.577 praças (escolhidas por meio de sorteio), em todas as regiões das cidades, durante os meses de maio, junho e julho de 2007.

Nesse estudo, foram analisados problemas com iluminação, calçamento, mobiliário (bancos e mesas), limpeza, lixeiras, áreas verdes, instalações e parquinhos. Após o levantamento, concluiu-se que 82% das praças possuem algum tipo de deficiência. "Esses lugares são importantes para o convívio das pessoas, principalmente para o lazer das crianças, estas que muitas vezes recorrem a elas (praças) por sua proximidade com a residência em que moram", afirma o diretor de urbanismo da Sinaenco, César Bergstrom.

Praça João Batista Tramontano
Da análise realizada pela Sinaenco, as praças Silvio Romero (zona leste), Ramos de Azevedo (centro) e Alfredo Egydio de Souza Aranha (zona sul) foram consideradas em melhor estado. As encontradas em piores condições foram Araruva (zona leste), Domingos Regatieri (zona norte), João Batista Tramontano (zona oeste) e Alexandre Vannucchi Leme (zona sul).

André Graziano questiona a veracidade deste estudo. "A quantidade que serviu de amostra para a Sinaenco é pequena, pois apenas 4% das praças foram analisadas, não traduzindo a realidade de São Paulo". A prefeitura delega a cada uma das 31 subprefeituras a contratação de serviços de manutenção, limpeza e poda de árvores, vegetação e equipamentos nesses ambientes, escolhidos por um processo de licitação pública, para um determinado período.

Quando o lazer e o perigo tornam-se vizinhos

A falta de segurança nos playground das praças é preocupante. Em uma visita a Praça Araruva (zona leste), crianças brincavam em balanços com corrente quebradas, pregos enferrujados e madeiras velhas soltando lascas, enquanto algumas mães esperavam sentadas à distância, a diversão dos filhos. Na Praça Alexandre Vanutti Leme (zona sul), a situação era semelhante, com lixeiras quebradas, mato alto e má conservação dos parquinhos.

Praça Alexandre Vannucchi Leme
A professora e doutora em enfermagem, Maria de Jesus Harada, estuda sobre a segurança nos parques infantis. Os problemas alegados pela enfermeira no cuidado com menores, estão presentes nas praças. Em primeiro, devido ao fato de não existirem, na maioria das vezes, divisórias separando o tráfego das vias dos playgrounds. Má conservação dos lugares, áreas pouco arborizadas, calçamentos destruídos, iluminação deficitária e lixo espalhado próximo aos parquinhos são carências.

"As praças necessitam de um melhor tratamento, devido ao risco de se pegar doenças de pele, como no uso da areia ou brinquedos nas áreas de playground, que muitas vezes recebem urinas e fezes de animais. A superfície ao redor dos brinquedos deveria ser forrada com materiais que absorvessem o impacto - cascalho fino, cortiça de madeira, borracha - evitando quedas acidentais e lesões", afirma Maria de Jesus.

Outras medidas, como inspeção periódica a cada três meses nos brinquedos, placas indicativas da faixa etária para utilizar equipamentos, materiais adequados (madeiras resistentes, metais com baixa absorção de calor para evitar queimaduras) são fundamentais para uma brincadeira sadia.

Patrimônio Público, investimento privado.

Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha
A partir do estudo realizado, a Sinaenco propõe não só um maior investimento nas praças, mas também uma simplificação do processo de adoção, implantado pela Prefeitura para essas áreas. "Só não estão abandonadas às áreas que estão com patrocinadores ou que têm uma tradição de uso e a população fica em cima cobrando o serviço público. A burocracia que se tem para adotar uma praça impede ou fazem muitas empresas desistirem da idéia pelo meio do caminho. A própria lei da cidade limpa dificulta, pois inibe a propaganda", resume o especialista.

Hoje, São Paulo possui mais de 850 praças controladas por empresas privadas. Uma simplificação do processo de adoção foi realizada no final do ano de 2007, reduzindo a espera que era de acima de um ano para pouco mais de um mês. "Como são muitas as praças que a cidade possui, a Prefeitura não consegue ter o mesmo cuidado com todas. Aliado a isso, o fato de que as empresas que as adotam conseguem ter um olhar que a gente não tem e uma maior quantidade de recursos financeiros para investir em um só lugar", enfatiza André Graziano.

Praça Ramos de Azevedo
Com o estudo, já surgiram algumas mudanças na parte administrativa desses lugares, embora muito ainda seja necessário para as outras quase quatro mil praças. A adoção é uma opção, mas não deve ser a única maneira de manter do patrimônio público, principalmente essas áreas de lazer, cultura e recreação, que necessitam de boas condições de manutenção e conservação para cumprir a sua função social.

Fontes:
Maria de Jesus Harada, professora e doutora em enfermagem;
André Graziano, assistente de áreas verdes da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo;
César Bergstrom, diretor de urbanismo da Sinaenco;

Atualizado em 6 Set 2011.