Guia da Semana

Fotos: sxc.hu


Faça sol ou faça chuva, seja início ou fim de semana, o contexto do trânsito de veículos em São Paulo ainda representa uma incógnita não equacionada. Em sua fase mais crítica, o nível de congestionamento chegou a atingir a marca de 247 Km de extensão, o maior pico registrado até outubro de 2007.

Do ponto de vista quantitativo, a situação é justificável, já que a capital paulista abriga hoje uma frota de quase seis milhões de veículos para 12 milhões de habitantes, o que representa um carro para cada duas pessoas. Considerando que a população adquire 50 novos automóveis por dia, o caso parece apenas intensificar a problemática do trânsito na cidade.

O gerente de operações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Sebastião Muniz, explica que os horários mais complicados são o pico da manhã (das 6h às 9h) e o da noite (das 17h às 20h), períodos que concentram os maiores fluxos de ida, retorno e deslocamento. Nesses intervalos de tempo, as vias mais acessadas são as compreendidas pelo mini-anel viário, constituído pelas Marginais Tietê e Pinheiros; as Avenidas dos Bandeirantes, Tancredo Neves, Juntas Provisórias, Anhaia Mello e Salim Farah Maluf, que provocam maiores interferências por fazer as interligações com todos os acessos dentro e fora do município.

"Além desses, outros pontos de concentração são os eixos norte-sul (da Avenida Santos Dumont a Avenida Washington Luis), o leste-oeste (do Elevado Costa e Silva a Avenida Francisco Matarazzo); o eixo formado pelas Avenidas Consolação, Rebouças e Francisco Morato e o eixo que integra as Avenidas Heitor Penteado, Dr. Arnaldo, Paulista e Jabaquara. A partir desse mapeamento, a CET faz medições, monitorando 850 km de via", complementa.

Práticas de melhorias
Em termos de engarrafamento, a capital paulistana é comparada à cidade do México, conhecida por deter um dos piores quadros de trânsito do mundo. Na tentativa de enfrentar esse caos urbano, a CET intervém através de dois mil agentes trabalhando em via. São os famosos "marronzinhos", que atuam nas situações mais críticas dos congestionamentos.

Para superar e amenizar a situação que já atinge um nível crônico, eles pontuam três atividades básicas: a operação de rota, que monitora 150 vias através de viaturas; o PAC (Posto Avançado de Campo), rastreamento feito por um funcionário que se posiciona no topo de um edifício e visualiza os principais corredores; e o POI (Pontos de Operação Interativos), serviços prestados por homens que trabalham a pé nos cruzamentos, auxiliando no controle dos semáforos, travessia dos pedestres, orientação dos veículos entre outras funções.

Na prática, as intervenções da CET se elucidam através de: identificação de ocorrências; interdições de pontos de alagamento, em caso de chuva; remoção de carros obstruindo o caminho; sinalização de deficiências; redução do número de acidentes; viabilização da fluidez e aplicação de faixas reversíveis para possibilitar maior escoamento do volume de tráfego, minimizando os congestionamentos.

"Todos essas estratégias têm comunicação direta com a central da CET que, além de driblar o tráfego de automóveis por meio de suas ações, também comunica os dados em tempo real aos veículos de mídia e através do telefone 156, a fim de orientar o motorista a seguir uma rota com fluxo mais viável", alerta Sebastião.

Dois dias de rodízio, pedágio urbano: qual é a solução?
O rodízio de veículos, implantado há 10 anos em São Paulo, consiste em reduzir a frota circulante, cerca de três milhões de carros, em 20%. O sistema, ativo de segunda a sexta, determina que, diariamente, dois finais de placas não podem transitar na região do mini-anel viário, durante os horários de pico.

Questionado sobre a possibilidade da implantação dois dias de rodízio por semana, Sebastião Muniz afirma que é um caso que a Prefeitura tem estudado, juntamente com a CET. "Mas não há nada de caráter conclusivo. Como é uma análise que requer muitas avaliações, além das questões técnicas, isso leva tempo pra ser decidido. Até por que a questão poderia gerar a compra do segundo veículo. Nesse caso, o tiro sairia pela culatra", diz.

Embora pareça duvidoso, uma pesquisa publicada recentemente pelo Ibope referente ao Dia Mundial Sem Carro e Mobilidade em São Paulo aponta, entre os tópicos levantados, um percentual expressivo de paulistanos favoráveis à implantação do rodízio durante dois dias na semana. (Veja a pesquisa na íntegra).

O diretor técnico da TTC Engenharia de Tráfego e de Transportes, Elmir Germani, avalia que a extensão da política de rodízio seria bastante viável para amenizar a situação dos engarrafamentos em São Paulo. "Até agora, podemos afirmar que essa foi uma medida que angariou ótimos resultados em termos de trânsito e qualidade do ar. Mas percebo que o sistema ainda caminha tímido, já que em Bogotá e na cidade do México a restrição de quatro placas diárias foi implantada há tempos e funciona com sucesso", relata.

Elmir acredita que aliado a esse sistema a efetivação do pedágio urbano também seria vantajosa, principalmente, se aplicada nas áreas mais críticas do município. Nesse caso, ele cita Londres e Cingapura como exemplos de que bons resultados podem ser obtidos a partir desse tipo de iniciativa. "A vantagem nisso, além de diminuir o fluxo nas regiões mais congestionadas, é arrecadar recursos para investir no transporte público, pois os veículos de passeios são grandes consumidores de espaço. Logo, se privilegiarmos o transporte coletivo, teremos boas alternativas de melhoras na situação dos engarrafamentos", conclui.


Veja alguns dados do trânsito em São Paulo:

Lentidão Média por ano

Ano de 2005
Período da Manhã - 77 km.
Período da Tarde - 116 km.

Ano de 2006
Período da Manhã - 86 km.
Período da Tarde - 114 km.

Ano de 2007 (até o mês de outubro)
Período da Manhã - 88 km.
Período da Tarde - 126 km.



Atualizado em 6 Set 2011.