Guia da Semana

Foto: Sxc.hu


Competidores preparados, cordões alinhados, instrumentos a postos e começa o jogo, ou seria a luta, ou melhor, a dança? Isso ainda não é muito bem definido, já que os três componentes formam essa arte genuinamente brasileira: a capoeira. Praticada por pessoas de diferentes idades, classes sociais e estilos, a técnica é uma alternativa para canalizar energia, criar disciplina e, além de tudo, divertir o praticante. Indicada para quem quer colocar movimento na rotina de exercícios e deixar o corpo forte e ao mesmo flexível, o esporte é ideal para quem não é adepto de treinos com pesos e rotina em academias, mas não abre mão de um corpo malhado.

Origem

A arte marcial tipicamente nacional nasceu por volta do século 16, como uma técnica de luta dos negros escravos. Ao longo do tempo, espalhou-se até se tornar um esporte praticado em pelo menos 132 países, segundo a Federação Internacional de Capoeira (Fica). Mistura de um jogo complexo, que funde música e movimentação corporal, a capoeira é tida como um meio de fazer com que as pessoas se sintam livres, de acordo com Dalva Silva, vice-presidente da Associação de Capoeira Mestre Bimba, umas das mais tradicionais do país. A prática que nasceu nas rodas de escravos foi associada à bandidagem e proibida. Voltou apenas a ser legalizada na década de 1940, e de suas raízes, deixou a calça branca, na época feita de sacos de farinha, usada nas rodas de hoje em dia, porém feita de outros materiais.

Na roda

Tudo pronto, é hora da ação. O coro e os capoeiristas colocam-se em volta da roda. Enquanto isso, dois jogadores agacham-se à frente dos tocadores, ao pé do berimbau, e antes de iniciar o jogo apertam as mãos, demonstrando amizade, respeito e reafirmando que aquilo será apenas um jogo e não uma luta real. Em geral, entram na roda com um movimento semelhante à "estrela" da ginástica olímpica, chamado de "AÚ". Acompanhado do toque do berimbau, o jogo vai se desenvolvendo a partir daí, a ginga ganha forma. O passo tem a finalidade de manter o corpo relaxado e o centro de gravidade em permanente deslocamento, pronto para esquiva, ataque, contra-ataque ou fuga.

Os golpes são executados sem desviar-se de seu objetivo, ou seja, com a intenção de atingir o adversário, mas sempre controlando o tempo dos movimentos, possibilitando tempo para uma resposta adequada, o que garante a continuidade do jogo."Em apenas cinco aulas já dá para jogar bem em roda. Uma pessoa que praticar três vezes por semana, em um mês consegue pegar bem o espírito e é nítida a melhora que ela apresenta em tão pouco tempo", afirma Dalva.

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A música

Um dos diferenciais dessa arte marcial nacional, com certeza é a música. Acompanhada de cantos e palmas, embalados pelo berimbau, atabaque e pandeiro, o ritmo faz com que os envolvidos na roda, sejam embalados por um clima que automaticamente guia o corpo. As canções entoadas pelos praticantes antigos eram voltadas para a cultura negra, descriminação, porém isso mudou no cenário atual.

Para ser considerado um capoeirista completo é preciso também tocar os instrumentos. Isso fez com que surgisse a possibilidade da criação. "Atualmente as músicas são mais voltadas para o que está acontecendo na roda. Os grupos podem criar as próprias músicas e alguém que esteja na roda pode cantar uma frase que se o restante seguir e repetir, pode virar uma música. Isso pode vir de algo que a pessoa esteja sentindo ou que esteja acontecendo em sua vida", ressalta Dalva.

Corpo

Os golpes movimentam grupos musculares que dificilmente são exercitados com frequência, como as pernas e abdômen. Mesmo assim, o esporte trabalha o corpo num geral. "Um americano veio aqui na associação e perdeu oito quilos em um mês. Dá para eliminar muito peso praticando. Uma pessoa que faça três vezes por semana, durante duas horas, em um mês consegue perder em média uns quatro quilos e não fica flácida", afirma Dalva.

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Além de ajudar a moldar o corpo, o esporte é indicado para crianças com dificuldades respiratórias e até mesmo com falta de concentração, de acordo com a vice-presidente Dalva. "Trabalhamos com pessoas que têm diferentes deficiências físicas. Recentemente recebemos um francês deficiente visual que gostava do som e queria aprender. Para isso disponibilizamos um professor e com as mãos na cintura dele, o aluno ia aprendendo os movimentos", detalha.

Prêmio

Assim como outros esportes que envolvem luta, a capoeira também possui seus níveis, medidos pelo cordão que o praticante possui na cintura. No momento que ocorre o "batizado" o praticante muda a cor de sua corda, porém ela varia de acordo com grupo que ele participa. "Cada grupo tem sua temática e segue uma linha diferente. A corda máxima em um lugar não necessariamente é em outro. Os mestres costumam usar a branca, mas na Europa, por exemplo, ela é a primeira", afirma Dalva.

O caminho para chegar até o nível máximo é longo e para isso não basta jogar bem. Para receber a premiação, é preciso estar envolvido com os demais itens que formam um capoeirista, como o entrosamento com os demais jogadores, seu comportamento dentro e fora da roda, preparação de instrumentos, etc. "Tudo é acompanhado pelo mestre da escola ou associação. É ele quem decide a hora que o praticante merece receber um cordão", enfoca Dalva.

Estilos

A capoeira é divida em três vertentes e ganhou diversos estilos durante as décadas de sua existência:

Angola: É a que mais se aproxima de como os escravos jogavam nos tempos antigos. Caracterizada por ser mais lenta, possui movimentos executados perto do solo. Sua música é cadenciada acompanhada por uma bateria completa de oito instrumentos.
Regional: Surgida na primeira metade do século 20, conta com elementos fortes de artes-marciais em seu jogo. Tornou-se rapidamente popular, levando a capoeira ao grande público e mudando a imagem do capoeirista no Brasil, até então visto como marginal. Seu jogo é mais rápido, e não utiliza saltos mortais no fundamento. Criada por Mestre Bimba, ganhou uma força maior como luta e incorporou novos golpes. O forte do estilo são as quedas, rasteiras e cabeçadas.
Contemporânea: Possui traços da capoeira regional com movimentos que não fazem parte do repertório tradicional do jogo, como os saltos. Feito de uma mistura da regional com a angolana, foi criada na década de 70 veio à tona com jovens fascinados que por serem de classe média não foram aceitos na periferia carioca. Decidiram, então, uma vez por ano, viajar para a Bahia e treinar com um mestre diferente, na volta passavam os conhecimentos adquiridos uns para os outros e assim surgiu o estilo.

Atualizado em 6 Set 2011.