Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

A descida da serra pela Estrada de Manutenção da Imigrantes já faz parte há um bom tempo das rotas de ciclistas da grande São Paulo. Mas este sempre foi um passeio clandestino, visto que esta estrada passa por dentro do parque da Serra do Mar, em que a circulação é proibida até para o cidadão comum.

No entanto, com o esforço do Instituto CicloBr e a teimosia do Pasqualini, seu diretor, a estrada foi incorporada dentro de uma rota de cicloturismo, entre São Paulo e Santos, passando por São Bernardo e Cubatão. Por uma infelicidade do destino, este caminho recebeu o nome de Márcia Prado, em homenagem à ciclista que morreu atropelada na Avenida Paulista, há cerca de um ano, cinco dias após descer a serra ajudando na demarcação deste caminho.

No sábado, 19, houve um evento teste para mostrar às autoridades a viabilidade da rota e a demanda por este tipo de caminho. A ideia era mostrar que uma multidão de ciclistas (a contagem oficial foi de 850) poderiam fazer o caminho sem impactos para o parque e em segurança.

O evento contou com o apoio da CPTM, do Parque Serra do Mar e da polícia Rodoviária Estadual. Tudo organizado para que as pessoas pudessem chegar ao Grajaú de trem com suas bikes, acessar a estrada de manutenção usando a Imigrantes, onde é proibido bike, e passar pelo parque saindo pela portaria que dá acesso à área industrial de Cubatão e, assim, evitar ao máximo qualquer rodovia.

A Rota Márcia Prado começa no Grajaú, na estação da CPTM. Dalí, é pedalar pela Av. Dona Belmira, até a balsa que leva à Ilha do Bororé. Na ilha, é seguir a velha estrada do Bororé até alcançar a outra balsa, que leva ao outro lado da Bilinguis, já em São Bernardo do Campo, e seguir ao sul pela estrada do Matarazzo. Depois de uns trechos de terra esse caminho fica paralelo a Imigrantes já perto da interligação.

Neste ponto, a rota proposta indica que o acesso ao parque se daria pela interligação e por lá é que encontraríamos a estrada para passar por debaixo da Imigrantes e começar a descer a serra. No entanto, essa parte foi a única pouco sinalizada e o acesso foi mesmo descendo pela pista sul da Imigrantes. O acesso a estrada é cerca de dois quilômetros abaixo do Rancho da Pamonha.

E neste ponto que começa o melhor da festa. Mesmo para quem já passou centenas de vezes pela Imigrantes, o visual descendo de bike é infinitamente maior do que de carro. Eram inúmeros os mirantes e tanta gente parando para fotos que até parada para lanches de uma turma incitava parada de outros para ver se era uma nova vista.

Os visuais se alternavam entre os naturais e a estrada. Santos ao longe e a imponência da rodovia acima. Sempre ouvimos sobre a grandiosidade da obra da Imigrantes, mas só estando embaixo dela pra ter noção do que fizeram. Perdi a conta de quantos "edifícios de 20 andares" têm embaixo da estrada. Ainda na primeira parte da descida, um túnel de emergência que serve de escape para a pista sul virou atração para uns e lava-bike para quem trazia lama do Grajaú com suas inúmeras minas d'água. Ao lado deste túnel, uma pequena cachoeira serve de moldura para fotos.

Mais abaixo, a estrada vira passarela para aproveitar a vista de uma cachoeira que tem uns 50 metros acima da ponte por onde passamos e mais uns 100 abaixo. Os dois lados dessa ponte ficaram forrados de bikes. Quem levou menos de 500 MB de memória na câmera fotográfica se arrependeu.

Desse ponto em diante, a descida se acentua e o prazer de pedalar se intensifica. No fim, a estrada serpenteia as pilastras da estrada principal. É neste ponto que começamos a sentir os bafos de calor vindo do litoral.

Agora é hora de pedalar pra valer no plano e achar o mar. Ao sair do parque viramos à esquerda e passamos por um bairro que, na verdade, é uma invasão. Seguimos em direção a Cubatão. Saímos na rua que corta as instalações da Petrobrás e seguimos em direção ao centro da cidade passando por baixo da Piaçaguera-Guarujá. Este caminho evita a Anchieta que segue paralela à nossa direita. Só depois de passar por toda a cidade é que encontramos uma ponte que nos leva ao outro lado da rodovia. É seguindo pela marginal direita da Anchieta, que chegamos a Santos.

Logo que acaba a rodovia, já encontramos uma ciclovia que leva até a rodoviária. A junção com a outra ciclovia que passa pelo túnel que leva às praias não é bem resolvida nesse ponto. Para achar o caminho, é preciso ir para o outro lado da rodoviária e atravessar para a praça, pois o caminho passa ao lado do prédio histórico. É só tomá-lo em direção ao túnel.

Após atravessá-lo, praticamente todas as ruas a sua esquerda levam a orla de Santos. Se houver dúvida basta seguir em frente até achar os canais de Santos. Todos levam a praia.

Nosso passeio teste acabou na areia do posto dois com direito a batismo de água salgada e banho nos chuveirinhos da praia. Pra voltar a São Paulo foi só retornar a rodoviária e pegar o primeiro ônibus. Todos levam as bikes no bagageiro sem preconceito.

Custo do passeio: menos de 50 reais. Quantidade de visuais captados em fotos, o que seu cartão de memória permitir. Orgulho e emoção de poder dizer que "fui de bike de São Paulo a Santos" é infinito.

Quem é o colunista: Fotógrafo e editor do site OndePedalar - bike e cicloturismo

O que faz: Fotógrafo editorial.

Pecado gastronômico: Um só? Na Bahia, biju; em São Paulo, pizza; em Curitiba, estrogonofe de nozes e, em Belo Horizonte, feijão.

Melhor lugar do mundo: Aquele que te faz se sentir bem, equilibrado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.