Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira


O trânsito de São Paulo piora cada vez mais. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o maior recorde de congestionamento foi registrado em 9 de maio deste ano, com 266 quilômetros. O caos nas vias já não tem dia da semana, hora, nem local. Apresentado há alguns anos como equipamento básico para melhorar a situação, o semáforo inteligente já não dá conta do recado. O motivo é simples, em São Paulo existem 5,7 mil cruzamentos semaforizados, com 1,2 mil semáforos eletroeletrônicos (inteligentes), sendo que apenas 17% funcionam corretamente.

"Aqui (Av. Paulista) os motoristas ainda respeitam um pouco, mas eu tenho que esperar até 3 minutos para atravessar a avenida e como ando de muletas, não consigo chegar até o final quando o farol fica verde", afirma Maria Cristina, 72 anos, citando as dificuldades que enfrenta ao atravessar a Avenida Paulista, na esquina com a Brigadeiro Luiz Antônio.

Atualmente, o problema que São Paulo enfrenta não é tanto do uso dessa nova tecnologia, mas como ela funciona. Devido a diversos fatores, como obras realizadas por empreiteiras nas ruas, falta de manutenção e recursos escassos, muitos faróis inteligentes não estão programados corretamente, o que dificulta ainda mais o trânsito. Em 1994, quando foram criados, eles representavam uma melhoria de até 20% da fluidez nas vias, hoje apenas 204 funcionam satisfatoriamente em 17 mil quilômetros de ruas da capital.

Com a falha na tecnologia, não são repostas as peças danificadas e a CET tem que substituir os equipamentos por marronzinhos com apitos. O excesso de veículos e as dificuldades que a companhia tem em monitorar o trânsito são os principais responsáveis pelos congestionamentos.

A falha é ocasionada por um rompimento de uma fiação ou pane em um dos controladores, que desregula os semáforos inteligentes. A partir disso, eles passam a funcionar com programações fixas, baseadas nas médias históricas de demanda. Resumindo, ele pode trabalhar com um fluxo de carros, por exemplo, sentido centro, às 7h da manhã, que não condiz com o horário atual.

Os motoristas, impacientes com o tempo perdido, não entendem a sinalização. "Chego a ficar até 1 hora parado em um trecho de sete quilômetros, entre a Vila Mariana e a Consolação, na zona sul, ou eles (faróis) são muitos inteligentes para São Paulo, ou são burros mesmos!", ataca José Aguiar, 37 anos, que trabalha em uma empresa de segurança particular.

Semáforos Inteligentes

De acordo com a CET, a principal diferença entre os semáforos eletromecânicos e os eletroeletrônicos é que os primeiros possuem plano de programação fixo que somente são mudados manualmente. Já os eletroeletrônicos possuem vários planos de programação que são trocados ao longo do dia a partir do relógio do próprio semáforo, de lastros instalados na via ou da Central de Controle.

A cidade foi dividida em cinco regiões e os aparelhos são monitorados pelos Controles de Tráfego de Área (CTA), responsáveis cada um por uma parte da metrópole, controlando faróis e câmeras e enviando equipes, caso ocorra algum incidente nas vias, nos aparelhos ou queda de energia. Elas são responsáveis pela alteração dos semáforos inteligentes.

De acordo com o prefeito Kassab, a cidade terá sua rede de faróis renovada até o fiml de 2008, transformando os equipamentos para 100% eletrônicos, com sincronização online de acordo com a intensidade do trânsito.



O risco de andar a pé

"Não costumo esperar o farol, demora muito e eu vou cortando pelas ruas para chegar o mais rápido possível", enfatiza o office-boy Cláudio Pereira, 19 anos, que já foi atropelado por um motociclista atravessando fora da faixa, na Avenida Pacaembu. Não se trata de um caso isolado, como esse, muitas outras pessoas não usam a faixa de pedestres e só em São Paulo isso é responsável por 63% das mortes para os pedestres.

Impaciência e pressa parecem ser o motor que move os transeuntes urbanos. Em menos de 10 minutos parado na Avenida Washington Luís, altura do Extra Aeroporto (zona sul), é possível ver muitas pessoas arriscando a vida em cima de um estreito muro que divide os dois sentidos da avenida. Caso resolvessem caminhar por menos de 50 metros, encontrariam uma passarela. A pressa para chegar ao ponto de ônibus do outro lado é maior que o medo de sofrer um acidente.

Em 2006, segundo o mapa de risco da CET, o índice de mortes no trânsito da Capital Paulista registrou 734 óbitos de pedestres, ou seja, 50% do número de acidentes fatais nas vias públicas. Ao contrário do que pareça, são as colisões com ônibus as maiores responsáveis por óbitos de transeuntes, com 40% dessas vítimas.

Não é só com os sinalizadores reformados e o sistema eletrônico online implantado em todos os cruzamentos que as vias de São Paulo vão respirar com mais folga. É preciso, antes de tudo, conscientizar o pedestres e motoristas para com seus deveres e direitos e cobrar das autoridades soluções mais eficazes para esse problema que sufoca a capital.

Atualizado em 6 Set 2011.