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Fotos: Arthur Santa Cruz |
Trilha, poeira, chuva e lama. Juntos, não parecem bons ingredientes para um passeio familiar. Para algumas mulheres esta é a situação ideal para fugir do caos da cidade, dos problemas cotidianos, buscando aventura e diversão no meio do mato. A equipe do Guia da Semana acompanhou como elas se comportam em uma competições de off-road, presenciando o 21º Raid do Batom, promovido pelo Jeep Clube Brasil, para o Dia Internacional da Mulher.
E como não poderia ser diferente, as mulheres não foram coadjuvantes, algumas encarnando até personagens de desenhos animados ou quadrinhos. Beth Boop, Penélope Charmosa e Gato Félix em seus jipes equipados e devidamente enfeitados para a ocasião, compareceram ao ponto de partida do Raid, a Avenida Anhaia Mello, zona leste. Previsto para sair às 9 horas, aos poucos o local foi invadido por off-roads: Jeep Willys, Niva, Land Roover, Suzuki, Toyota e outros, preparados para percorrer 120 quilômetros de asfalto e trilhas, num percurso que durou aproximadamente seis horas. Com a planilha em mãos, mais de 70 carros passaram por Guarulhos, Mairiporã, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões até chegar à sede da Jeep, em Piracaia, interior de São Paulo.
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Este ano, a tradicional corrida feminina não seguiu o formato competição, motivos de crítica para algumas participantes e de incentivo para outras se integrarem ao grupo. O diretor-técnico do Jeep Clube do Brasil, Sérgio Pratusiavicius, comenta. "A mudança ocorreu para atrair mais o público feminino, transformando-o em uma confraternização, evitando assim que as menos preparadas se sentissem desmotivadas para participar."
Entenda mais |
Saindo na frente
A bi-campeã do Raid do Batom, Sandra Regina de Andrade, 49 anos, participou do evento pela quinta vez. Com mais de 30 torneios na bagagem, ela é a atual campeã paulista do Torneio de Regularidade na categoria aberta, competição que premia quem melhor cumprir os objetivos traçados na planilha de viagem, com tempo e velocidade média determinado pelos organizadores.
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"Este ano minha filha não pode participar, devido a um mal estar, por isso meu namorado está aqui comigo como navegador", afirma Sandra, que compete normalmente com a filha Marjorie Ricciardi, de 18 anos. Essa foi a mesma dupla vencedora da categoria feminina no ano passado. O namorado Heitor Rodrigues assume não gostar muito do mundo off-road. "Ao contrário dela, eu desvio dos buracos e tenho dó de meter o carro na lama, mas pra ela não, quanto mais sinuoso o terreno, melhor. No fim, eu que tenho que cuidar da limpeza do carro. Por ela, o Troller ficaria imundo".
Quando Heitor é escalado para exercer a função de navegador, isto significa, traduzir as informações da planilha (roteiro de viagem criado pelos organizadores) para o piloto (no caso Sandra), ele toma algumas precauções. "Nós sempre levamos Dramin e saquinhos plásticos. Às vezes passo mal por causa da planilha que tenho que ler com o balanço do Troller, uma mistura não muito legal".
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Não só os enjôos, mas o próprio formato do trajeto não dá moleza para as marinheiras de primeira viagem. O sol a pino e baixa umidade no ar transformaram os trechos de terra em puro pó, em algumas partes perdendo quase toda visibilidade. Em meio a vegetação remanescente, com borboletas coloridas e pássaros exóticos, alguns jipes não suportam a força emprenhada nos motores e quebram ou ficam presos em buracos que nem a tração nas quatros rodas consegue impedir que o obstáculo passe batido.
Um exemplo disso é o Jeep Willys de Geraldo Lourenço, 47 anos, que não estava com o pneu apropriado para uma subida íngreme. À bordo, na primeira participação no Raid, a esposa Maria e a filha caçula Giovanna rezavam enquanto o cheiro de borracha de pneu e embreagem denunciavam a impotente tentativa de sair do lugar. Graças ao guincho de outro jipeiro, o carro não ficou na ladeira. Depois disso, Lourenço lembra com um sorriso embaixo do grisalho bigode, fazendo planos para a próxima aventura.
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Alguém tem que ficar com as crianças!
Abordo de um Mitsubishi, a artista plástica Cláudia Tielas, 39 anos e a biomédica Andréa Sucena, 41 anos, participaram pela terceira vez do Raid do Batom. A dupla já conquistou o Campeonato de Turismo Light da Copa Mitsubishi - torneio realizado somente com carros da marca - e estava desanimada com o formato atual da competição. "Isso tudo é muito parado, gosto de sentir adrenalina da velocidade e a corrida contra o tempo", enfatiza Cláudia.
A artista plástica adquiriu gosto pelas competições de off-road através de um convite da Mitsubishi quando comprou o carro, que quase custou o casamento. "Fui com meu marido - ele como navegador, eu como piloto - como ele não entendia nada da planilha, fiquei nervosa, pois queria chegar à frente e ele queria curtir o passeio. Brigamos e, a partir daí, cada um ficou na sua, até porque, alguém tem que ficar com as crianças", ironiza Cláudia.
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E assim, o Guia da Semana acompanhou todo o passeio, comprovando que para se embrenhar no mato é preciso de três coisas: vontade, coragem e uma corda no carro, porque você nunca sabe quando ele vai atolar. Entre as paradas previstas e imprevistas, descobrimos que o mundo 4 X 4 não é dominado só por homens, muitas mulheres deixam seus maridos e namorados em casa e saem para a aventura, com prazer de transpassar buracos e obstáculos, com lama e poeira, pois afinal, se está na trilha é para se sujar.
Quem paga a conta? |
Não só de diversão vive quem pratica esse tipo de competição. Para entrar em um é necessário ter os equipamentos recomendados pelo regulamento da prova, variando de acordo com o nível de profissionalismo do torneio (como Turismo, Graduado e Super Máster). Os carros precisam ter tração nas quatro rodas para enfrentar terrenos íngremes e pneus feitos de uma borracha diferente e com desenhos especiais das utilizadas no asfalto. Um pneu de trilha no asfalto consome muito mais rápido. Existem pneus que chegam a custar até R$ 1.500,00. Os preços dos 4X4 variam bastante, de acordo com o ano, modelo e opcionais embutidos. como ar condicionado, computador de bordo. Um Jeep Willys 1957, por exemplo, custa mais ou menos R$ 20.000,00, já um Troller 2005, vale por volta de R$ 80.000,00. Para participar de um Raid, Sandra Regina afirma que não gasta menos de R$ 500,00. "Além da inscrição, arcamos com gasolina, alimentação e hospedagem - em viagens para interior e fora de São Paulo - isso sem contar com a manutenção, indispensável. Quando você chega em primeiro lugar, você recebe um parabéns e um aperto de mão, mais nada", reflete Sandra, apontando para a falta de patrocínio uma das principais causas de não concorrer em mais torneios. A manutenção é realmente o grande problema desses aventureiros. Cláudia Tielas chega a gastar R$ 3.000,00 com limpeza e revisão completa do carro e motor após uma competição, além de ter pneus próprios para trilhas, que custam R$ 800,00 cada um. "Com certeza é uma brincadeira cara para se fazer, não precisa só gostar de correr". |
Atualizado em 6 Set 2011.