Guia da Semana

A segunda parte da minha viagem até a Bahia foi dedicada às praias. Em Salvador, somente a praia do Buracão me pareceu agradável. Todas as outras me faziam sentir como se estivesse na Avenida Paulista, em São Paulo. A faixa de asfalto era mais larga que a de areia.

Mas tudo muda mais ao norte da região. A partir de Itapuã, as praias já são mais atraentes. A minha intenção era sair pedalando até a Praia do Forte, a vedete do litoral norte baiano. Ela fica cerca de 70 quilômetros acima da cidade. Mudei de planos depois de alguns relatos dos soteropolitanos sobre roubos de bicicleta nos arredores de Lauro de Freitas. Por via das dúvidas, rumei para rodoviária e fui direto para lá. E dali, segui de praia em praia até a divisa com Sergipe.

Só não contava com o fato de as praias dessa região terem um campo magnético fenomenal. Quando você chega em uma, não quer mais ir embora. É incrível. Também comecei por Praia do Forte. Chamada de Polinésia Brasileira, fica difícil querer ir embora de lá. Isso porque ela fica sobre um banco de pedras que mantém as águas claras, formando piscinas naturais.

Além disso, não entra carros na parte central da cidade, o que torna tudo mais humano. Apenas pessoas, a natureza e uma pitada de sofisticação. Com a fama, vieram os turistas e, atrás deles, o comércio sofisticado. Mas mesmo com esse ar vip, os preços para a alimentação foram baratos e a hospedagem aconteceu em pousadas razoável. Tudo isso na baixa temporada. Baixa para baianos que, com 24 graus, já reclamam do frio. Para turistas do sul, o clima em agosto é para lá de agradável.

A Praia do Forte me segurou um dia a mais do que pretendia. Confesso que pensei seriamente em passar a semana por ali, mas como a proposta era pedalar, segui em frente.

Na manhã seguinte, tomei meu café da manhã em Imbassaí, que roubou o espaço da praia anterior no meu coração. Com menos firulas que a do Forte a "cidade" promete mais para o verão 2011. Enquanto os carros não passam pelo centro da vila do Forte, em Imbassaí, todas as ruas estão ganhando uma senhora ciclovia. Literalmente todas. Na praia, nem bike chega direito. A areia é fofa e o melhor a fazer é amarrar a magrela numa árvore e seguir de jangada para praia. O lugar é cortado por um rio de águas limpas que serve de "esteira rolante" para os preguiçosos chegarem a praia. Este mesmo rio que faz a festa da molecada local, também protege o sossego de quem está na areia.

Rumando ao norte, a linha verde vai ficando cada vez mais distante do mar. Na vila seguinte, que resolvi parar, chamada de Diogo, a estradinha já ficou mais extensa nos dois sentidos. Não só na distância horizontal, mas também no vertical, já apareceram vários morros. A vila é uma antiga comunidade hippie, onde a praia é protegida por uma série de dunas. Dependendo da época, você pode se sentir perdido numa ilha deserta, depois de atravessar as dunas e chegar ao mar. Sofisticação nesse lugar não existe. O único sinal de requinte é o restaurante da Mangueira. Em dias de calor, almoçar ali deve ser algo divino. Mas como era dia de semana, fiquei só na imaginação.

Meu próximo destino seria Porto Sauípe. Escrevi 'seria', pois lá pode ser considerado um local privado. Entrar na Costa do Sauípe somente com reserva em um dos hotéis do complexo. Ao lado, há o Iberostar, que tem mais cara de fechado ainda. Portanto segui direto para Subaúma.

Mas antes de enfrentar a estradinha de sete quilômetros em direção ao mar desta vila de nome estranho, passei por Massarandupió, uma praia conhecida por ser usadas por naturistas. Fora de temporada, só via a praia mesmo.

Já Subaúma é meio esquisita. Sem a festa da temporada, muitas pousadas estavam fechadas assim como os bares de praia. O ambiente tinha um aspecto de cidade fantasma. Mas só no visual, pois ao cair da noite o pessoal se junta na quadra de futebol no meio da praça e só vão embora quando a chuva os expulsa. Aí sim, a cidade morre de vez.

Dois fatos me chamaram a atenção em Subaúma. Além do nome, cuja pronúncia não consegui pegar, há um hotel/SPA com diárias beirando os R$ 400 - e nem localiza-se de frente para o mar -. Saí curioso para saber o que havia dentro daqueles muros altos. Outro fato foi a molecada na rua, vendo um branquelo chegando de bike, mandar um "What's your name?". Fiquei com a impressão de que poucos ciclistas brasileiros passam por ali, ou o povo de lá acha que no Brasil não tem gente com um biotipo mais desbotado com o meu.

A última pernada, ou melhor, pedalada, foi para chegar a Baixios e Praia do Conde. Esses dois lugarejos podem ser acessados com uma só investida em direção ao mar e depois beirando a orla. A impressão é a de que quanto mais perto da divisa entre Bahia e Sergipe, mais simples ia ficando. E tudo isso fica há cerca de 150 quilômetros de Salvador. Os dois distritos são vilas de pescadores e, o meu ponto final, Praia do Conde, foi cenário de novela. Tieta do Agreste se passa em Mangue Seco, vila seguinte, já em Sergipe, mas foi a vila do Conde que emprestou o visual das casas para as cenas da novela.

A volta de ônibus para o aeroporto foi rápida demais para a sensação de distância que acumulei em alguns dias de viagem. A quilometragem foi pequena, mas a cada vila que entrava eu sentia que tinha rodado muito mais longe. E no fim estava ainda pertinho de Salvador. Coisas de Brasil.

Fotos álbum: Marcelo Rudini

Leia as colunas anteriores de Marcelo Rudini:

De uma maneira diferente

Um lindo destino

Homenagem justa


Quem é o colunista: Fotógrafo e editor do site OndePedalar - bike e cicloturismo

O que faz: Fotógrafo editorial.

Pecado gastronômico: Um só? Na Bahia, biju; em São Paulo, pizza; em Curitiba, estrogonofe de nozes e, em Belo Horizonte, feijão.

Melhor lugar do mundo: Aquele que te faz se sentir bem, equilibrado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.