Guia da Semana

Fotos: Arthur Santa Cruz


O Instituto Butantan é um dos pontos turísticos mais freqüentados da metrópole paulistana, com uma média de 200 mil visitas por ano. Com o terreno de 735 mil metros quadrados - equivalente a quase 70 campos de futebol - é coberto por 65% de áreas verdes e fica localizado no bairro do Butantã, na zona oeste da cidade.

Na temporada em que completou 107 anos, o Instituto, que produz 80% do soro e vacinas consumidas no Brasil, inaugura um mosaico temático sobre animais peçonhentos de 98 metros quadrados, feito por 150 voluntários, no ateliê da artista plástica gaúcha Cláudia Sperb. O mosaico tem pedaços de cerâmica em 22 cores e encontra-se no chão da praça Vital Brazil, ilustrado com figuras de serpentes, aranhas e lagartos, entre outros bichos.

Para espanto de muitos, a área verde ao lado da Universidade de São Paulo (as terras pertencentes à USP eram do terreno do Instituto), conta ainda com 190 pesquisadores e 150 doutores no centro de pesquisa biomédica, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, sem contar o Hospital Vital Brazil, especializado no tratamento de vítimas de envenenamento.

Palco de muitas visitas de colégio, com alunos do ensino fundamental e médio, grande parte do público desconhece os estudos realizados no local e, principalmente, os novos projetos que visam à produção de vacinas contra rotavirus, leishimaniose e dengue, incluindo a polêmica proposta de instalar um Centro de Produção de Hemoderivados.

A equipe do Guia da Semana percorreu diversos pontos do Instituto e mapeou algumas atrações, procurando entender o principal centro de pesquisa imunológica no país e sua gama de atividades para o público que deseja conhecer o local.

Entenda mais

Para conhecer melhor o Butantan é preciso saber que a sua criação surgiu em 1898, quando uma equipe da saúde, da qual participava o médico Vital Brazil, reuniu-se para produzir um soro contra um surto epidêmico de peste bubônica, no porto de Santos. O soro deveria ser barato e acessível para toda população, o que levou o Estado a instalar a sua produção em local distante do centro da cidade, na época a Fazenda Butantan.

Com o sucesso do soro, o local transformou-se em um centro de pesquisa, servindo como palco da descoberta de soro antiofídico (contra veneno de cobras) e impulsionando grande parte dos estudos sobre o assunto. Para ter uma idéia, entre 1906 e 1926, a produção de soros reduziu em 60% o número de mortes com picadas de cobras no Brasil, fazendo do Instituto uma referência mundial.



Para os freqüentadores

O Museu de Microbiologia foi inaugurado em 2002, onde os visitantes conhecem por meio de painéis, equipamentos e modelos tridimensionais ampliados, figuras minúsculas que compõem o homem, animais e organismos, como DNA, bactérias, vírus e protozoários. Através de filmes e atividades interativas, estudantes acompanham a evolução da ciência, no laboratório de Experiências. Já no Laboratório Científico, os alunos do Ensino Médio interagem realizando experiências, com auxílio de monitores. É necessário agendar visita para participar.

Com um acervo de serpentes dos cinco continentes, além de lagartos, iguanas, sapos, aranhas e escorpiões, o Museu Biológico é tido como um dos mais importantes do mundo nessa área. Ele possui painéis informativos e terminais que ajudam os visitantes a buscar informações, além do público ficar mais próximo do habitat natural dos animais. O ambiente ainda conta com uma sala para projeções e filmes educativos, exibidos diariamente.

Espaço coordenado pelo Museu Biológico, o Núcleo de Educação Terra Firme oferece aulas de conservação e meio ambiente para as crianças, abordando temas como animais perigosos, artrópodes, biomas e borboletas. Estagiários desenvolvem atividades lúdicas e jogos de memória para atrair a atenção dos pequenos. É necessário agendar com antecedência e a visita tem 3h de duração.

O ambiente do Museu Histórico é uma reconstituição do antigo laboratório utilizado para pesquisas no final do século XIX. Após um restauro em 1981, recria o local onde produziu as primeiras vacinas e sonos antipestosos e antiofídicos pelo médico Vital Brasil. Monitores ajudam o público a entender e apreciar a arquitetura, as iconografias, o mobiliário e os documentos expostos no local.

O Museu da Rua é formado por painéis instalados ao longo da principal alameda do Instituto, buscando resgatar a história e na evolução do centro de pesquisas ao longo dos anos.

Embora não tão numeroso quanto em décadas passadas, o Serpentário ainda é umas das atrações mais esperadas para o visitante de primeira viagem, devido à exposição ao ar livre de serpentes da fauna brasileira. Jararacas, cascavéis, jibóias são exemplos encontrados no local.

Os 84 macacos Rhesus do Macadário fazem parte da segunda maior coleção em cativeiro no Brasil. Esses animais serviam para estudo e experiências na medicina experimental, hoje em dia são atrações do Instituto.

As visitas no Instituto Butantan ocorrem de terça a domingo, das 9h às 16h30. A entrada custa R$5,00 e estudante paga meia. As aulas monitoradas (Museus de Microbiologia e Biológico) deverão ser agendadas pelo telefone (3726-7222 ramal 2206) ou pelo e-mail [email protected]
com antecedência. O valor é R$10,00 e alunos de escolas públicas entram gratuitamente.

Novos Investimentos
Na véspera do aniversário de 107 anos, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) assinou um contrato com o Butantan, investindo R$ 32 milhões para conclusão das vacinas de rotavírus, dengue e leishmaniose canina, ambas pesquisas iniciadas no Instituto.

O rotavírus é um vírus que ataca principalmente os bebês causando diarréia e desidratação. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ele é responsável anualmente pela morte de 500 mil crianças. A doença pouco ocorre em adultos e atinge principalmente países subdesenvolvidos. A leishmaniose é uma doença provocada por um protozoário que infecta cães e, ocasionalmente, gatos e roedores. Raramente ela infecta os homens. É transmitida pela picada de inseto.

A dengue é um problema atual do Brasil. A OMS estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas são infectadas anualmente em mais de 100 países. Para tomar o exemplo do Rio de Janeiro, até 26 de março, foram quase de 42 mil casos notificados, com 54 óbitos confirmados, com uma média de um novo caso de dengue por minuto, segundo a Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro.

O Instituto Butantan possui uma equipe que planeja colocar essas vacinas a disposição da população até 2010. O diretor do Instituto, Otávio Mercadante, aponta para a importância do investimento. "Com isso, produzimos vacinas baratas e para toda a população, passando a não importar a de rotavírus, além de trazer o domínio tecnológico para o Brasil".

E para quem se surpreende com as vacinas, o laboratório de Hemoderivados é o projeto mais ambicioso do centro de pesquisa. Semelhante ao que acontece com a separação dos compostos no refino do petróleo, o laboratório de Hemoderivados teria por função separar o plasma do sangue que o Brasil importa - por não ter tecnologia - que são indispensáveis no tratamento de hemofílicos. "Assim, o que antigamente era enviado para fora como material bruto e comprado de volta por um alto valor (tratado), será fabricado aqui mesmo, com baixo custo e formando pesquisadores altamente qualificados", enfatiza Mercadante.

Após um impasse na escolha do local onde o laboratório deveria ficar - em São Paulo ou Recife - o governo federal optou por investir no Instituto Butantan, devido ao nível avançado de pesquisas e a localização, próxima ao mercado que mais consome o produto. A perspectiva é a construção do laboratório termine no início de 2009, e a produção não demore muito para começar.


Fonte:

Otávio Mercadante, diretor do Instituto Butantan;
http://www.butantan.gov.br

Atualizado em 6 Set 2011.