Guia da Semana

Fotos: www.sxc.hu

Pensei muito antes de tomar a iniciativa de escrever essa coluna. Em primeiro lugar porque ela não deve ser e, espero que não, algo que os brasileiros mais gostariam de ouvir. Em segundo porque também sou brasileira e me dói e me confundi colocar a minha opinião sobre o assunto a seguir.

A idéia de me expressar surgiu depois de voltar de doze dias mágicos das minhas férias. Fui para a Espanha, mais especificamente para Madri e Barcelona. Não conhecia. Entrei em transe. Cada lugar belíssimo. Que te dá frio na barriga, emoção e te faz viver intensamente o momento. Mas o que quero falar agora talvez não seja tão poético. Depende do ponto de vista... Para mim, definitivamente não é.

Eu estava morrendo de medo de não conseguir entrar em Madri, já que faz um tempo que estamos tendo problemas de imigração em território espanhol. Afinal, sou mulher, tenho 23 anos e estava sozinha sem dupla cidadania. No entanto, preparei todos os documentos possíveis imagináveis. Como fiquei na casa de uma amiga e não em hotel, achei que poderia ter alguma encrenca na hora de explicar o turismo.

Quando cheguei na Polícia Federal Espanhola, fui recebida com brincadeiras de mau gosto por um rapaz oficial. Ele devia ter no máximo 30 anos. E fez de tudo para que eu ficasse nervosa. O seu pior comentário foi o último. Na verdade, foi uma pergunta: "Posso fazer então uma visita para você e sua amiga na casa dela?". Fiquei sem resposta por alguns segundos, olhando para a cara dele até falar em tom de brincadeira: "Não. Ela é muito brava." E segui adiante, entrando finalmente em Madri e com vontade de ter mandado ele para aquele lugar. Mas, claro, me contive.

Depois de passar um tempo lá, entendi o motivo do tal preconceito e porque, só pelo fato de eu ser brasileira, as piadinhas são sempre da pior qualidade. Na Espanha, como em outros lugares da Europa, brasileiros estão envolvidos com drogas, prostituição, tráfico de pessoas e outras marginalidades. E entre as idéias que exportamos, como a boa música e o admirável futebol, exportamos também a vulgaridade do país, o crime e o velho jeitinho brasileiro.

Não dá para a gente querer fazer a bagunça que fazemos aqui em outro país. Lembro-me do fato de alguns garotos brasileiros que saíram na capa dos jornais australianos há alguns anos por terem desrespeitado algumas meninas de lá. Foi um tamanho bafafá. E achei que com razão eles foram muito bem punidos porque acabaram completamente discriminados. Quando entramos em um território que não é o nosso, temos de aprender a respeitar as regras.

Uma das funcionárias da companhia aérea que eu viajei disse pouco antes de eu embarcar para não me preocupar porque as garotas que eram deportadas estavam geralmente vestidas de top, com o corpo quase todo de fora, marquinhas de biquíni em todas as partes do corpo e usavam peças de roupas bastante extravagantes. As pessoas acham um absurdo o fato delas serem rejeitadas na imigração? Por quê? Lá, as mulheres não se vestem assim, não estão acostumadas a se vestir desta maneira e para aquela sociedade isso é uma agressão aos modos deles. Desculpem-me, mas estão cobertos de razão. Eles não são obrigados a nos receber quando se sentem ameaçados.

Claro que este é apenas um exemplo das coisas que podem acontecer. Eu mesma, já errei feio fora do país. Incluo-me nisso. Quando fiz intercâmbio, eu tinha 16 anos (passei seis meses da Austrália), estava naquela fase adolescente um pouco rebelde e eu estudava numa escola particular na cidade de Perth. Um dia eu estava em uma excursão e não achei lixo então peguei o chiclete que estava na minha boca e joguei num cantinho disfarçadamente já sabendo que eu não deveria estar fazendo aquilo.

Na volta para a escola, o professor me chamou de canto e perguntou onde estava o chiclete e eu disse que estava no meu bolso. Ele falou: "Não, eu vi que você o jogou na rua. Se você faz isso no seu país o problema é seu, aqui você nunca mais faça isso". Nossa, fiquei com uma cara de idiota e nunca senti tanta vergonha. Imaginem quantas vezes eu devo ter feito isso aqui no Brasil e nenhum professor me chamou a atenção. (Acho que nem contei essa história para a minha mãe... ela sim ficaria com vergonha de mim). Mas, o bom do episódio foi que nunca mais eu fiz isso nem aqui, nem em lugar algum.



As coisas acontecem ao contrário também. E talvez seja pior ainda porque os gringos têm uma educação geralmente melhor do que a nossa em suas sociedades e muitas vezes chegam nos outros países "fazendo a festa". É errado? Sim, temos alguns exemplos de que o contrário também acontece, porém, tenho certeza de que se o nosso país fosse mais sério e determinasse punições eles não o fariam. Um amigo me recordou o fato de que alguns americanos, que não jogam papel na rua no país deles, por exemplo, quando fizeram a festa de anúncio do Resort do inglês Beckham no Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte, avacalharam e deixaram muito lixo na praia, ainda intacta e sem ação humana.

E me lembrou ainda um outro episódio enquanto discutíamos o tema: alguns europeus, que provavelmente não procuram redes de prostituição quando estão perto de casa, usam e abusam do turismo sexual de garotas no nordeste, muitas vezes forçadas a se prostituírem. Sim, concordei com ele, mas tenho absoluta certeza de que eles o fazem, exploram nosso Brasil porque NÓS fazemos isso também. Não cuidamos do que é nosso. Não conseguimos nos impor e nem determinar limites. Se um brasileiro chega lá com toda essa panca, tentando desrespeitar, ele é rapidamente identificado porque lá ter acesso ao crime e à bagunça é menos fácil do que aqui. Mesmo assim tem muito brasileiro tentando...

Enfim, as experiências que eu tenho passado fora me servem para aprender e tentar ver como a minha atitude aqui pode ser melhor. Não sou preconceituosa com brasileiro, de maneira nenhuma, sou mais brasileira que muita gente que bate no peito e fala com orgulho. Mas, acho que são esses detalhes, de comportamento, organização e defesa, que devemos entender dos países desenvolvidos e trazer para o nosso dia-a-dia. E não fazer o contrário, levar a corrupção, a malandragem e o velho jeitinho para os países que funcionam melhor do que o nosso. Mesmo porque eles são mais fortes economicamente do que nós. E vão tentar impedir ao máximo que isso aconteça.

E enquanto alguns brasileiros saem para queimar o filme, somos nós que queremos civilizadamente conhecer novos lugares que pagamos o pato e somos recebidos com um ar arrogante. Por isso, sempre procuro refletir e deixo esse meu conselho para todos os brasileiros: entendam primeiro como funciona a vida no lugar visitado e quais são os limites, porque infelizmente vemos todos os dias nos noticiários e no nosso dia-a-dia que nossos limites são tão extremos que nem nós somos capazes de enxergá-los. Lembrem-se que infelizmente nossas regras no trânsito, nas filas, nas ruas e na política são bem diferentes das deles.

Isso não significa que precisamos perder o samba, o carnaval, o futebol, as coisas lindas que o Brasil oferece para seu povo. Quando cheguei aqui, na volta, nem pediram a minha ficha de entrada no país. Eu tinha esquecido de preencher e quando vi todo mundo entregando pensei: "nossa, que treta, e agora?" Sabe o que aconteceu? Nada, eu disse que eu tinha esquecido se ele podia me dar o papel que eu fazia na hora. E ele respondeu: "segue em frente", como quem diz: "tudo bem..." Ou seja, já no saguão do aeroporto o jeitinho brasileiro me deu as boas vindas e rapidamente me trouxe a realidade.

Quem é a colunista: Natália Marques

O que faz: jornalista

Pecado gastronômico: sorvete de chocolate

Melhor lugar do Brasil: São Paulo

Fale com ela: [email protected]




Atualizado em 6 Set 2011.