Guia da Semana

Fotos: Gabriel Oliveira

Distante da boa vida que levam os românticos e atléticos pombos-correio, com cuidados especiais e remédios, os primos pobres destes - chamados pombos comuns - residem em telhados, aparelhos de ar condicionado e terrenos baldios das cidades. São considerados por muitos como pragas urbanas. Não para menos, os pequenos animais plumados abrigam mais de 50 tipos de parasitas - entre pulgas, piolhos, mosquitos e carrapatos - transmitindo ao homem diversas doenças infecciosas.

A médica veterinária Camila Brandão aponta para um dos motivos da proliferação da espécie nas metrópoles. "A Columbia Lívia (nome científico do animal) conseguiu se adaptar ao ambiente urbano, uma vez que encontra grande quantidade de comida e locais ideais para sua habitação. A base da sua dieta é de grãos e sementes, porém, os restos de comida encontrados no lixo e nas ruas das metrópoles passaram a fazer parte dela".

Chamados pelos italianos de "ratos voadores", esses bípedes oportunistas costumam viver a uma distância de 200 metros dos locais onde há fartura de alimento. Durante o dia, chegam a consumir o equivalente ao próprio peso. Possuem o intestino reduzido e as fezes altamente ácidas, destruindo fachadas, esculturas e manchando latarias de carros.

Enfermeiro do Hospital São Paulo, Gustavo Costa teve alguns problemas com esses animais. Costumava deixar o automóvel na rua, a duas quadras do local onde trabalha, na Vila Clementino (zona sul). Seu veículo quase sempre era alvejado por excremento de pombas. "Num sábado que tive um plantão, peguei o carro à noite e nem reparei. No outro dia vi que estava cheio de cocô de pombo. Lavei diversas vezes e ainda assim a pintura ficou marcada. Hoje em dia, só deixo em estacionamento coberto".

Conheça algumas doenças transmitidas pela Columbia Lívia
Criptococose (Fungo Cryptococus neoformans)
Sintomas: Geralmente se apresenta como meningite sub-aguda ou crônica.
Transmissão: através da inalação de poeira contendo fezes de pombos contaminadas pelos agentes etiológicos.

Histoplasmose (Fungo Histoplasma capsulatum)
Sintomas: Pode apresentar doença pulmonar ou não dar sintomas.
Transmissão: doença oportunista, o indivíduo pode ou não desenvolver, dependendo de seu estado de saúde.

Ornitose (Bactéria Chlamydia psittaci)
Sintomas: Pode não apresentar sintomas ou causar doença pulmonar, vómito e diarréia.
Transmissão: o indivíduo pode ou não desenvolver a doença, dependendo de seu estado de saúde.

Salmonelose (Bactéria Salmonella spp)
Sintomas: Toxinfecção alimentar com sintomas como vómitos, diarréia, febre e dores abdominais.
Transmissão: Ingestão de carne e ovos contaminados com fezes animais ou humanas ou alimentos mal lavados.

Dermatites (Ácaro Ornithonyssus spp)
Sintomas: Pontos avermelhados e coceira na pele, semelhante às picadas de insetos.
Transmissão: Através do contato da pele com o ácaro (piolho de pombo).

Alergias
Sintomas: Pode ocorrer rinites e crises de bronquite em pessoas sensíveis.
Transmissão: com a presença de ninhos e fezes de pombos no ambiente. Ao inalar o ar de ambientes com fezes e ninhos de pombos.



O Sub-gerente de Vigilância do Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de São Paulo, Hildebrando Montenegro Neto, enfatiza. "As pombas não cumprem função nenhuma na prevenção de doenças nem eliminam parasitas nas cidades, mas como algumas pessoas gostam dessas aves e alimentam, o ambiente torna atrativo para sua reprodução".

Segundo Hildebrando, a região central da cidade é a mais povoada por pombos e, o Ceasa (Centra de Abastecimento) é o ambiente predileto pela fartura de alimentos. Porém a concentração em parques e praças gera um problema para o público visitante, principalmente para as crianças, que vêem os animais como mais um brinquedinho do espaço.

Além de automóveis ou monumentos, muitos distraídos já passaram pela constrangedora situação de receber um "presentinho dos ares". Embora não tenha números oficiais, algumas estimativas calculam que só na capital paulista existam mais de 1 milhão de pombos, uma média de um animal para cada 10 pessoas.

Foto: Gabriel Oliveira

Embora nocivos na cidade, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) protege esses animais. Segundo a lei 9.605 de 12/2/08, qualquer ação de controle que provoque a morte, danos físicos, maus-tratos e apreensão é passível de pena de reclusão de até cinco anos (artigo 29, parágrafo 3º).

Quem se sentir incomodado com os pombos ou descobrir ninhos próximos de casa podem denunciar através o telefone 156 da prefeitura de São Paulo. Ela faz o manejo ambiental, ou seja, localiza e elimina as fontes de alimento e abrigo destas aves, de maneira a diminuir sua taxa reprodutiva, desalojando-as do local.

Cuidados

? Conserve os alimentos em locais protegidos de aves de insetos. Lave-os bem antes do consumo.

? Não alimente estes animais, acondicione bem o lixo e outros restos alimentares que possam ser utilizados por estas aves.

? Não deixe locais disponíveis para o abrigo destas aves. O ideal é já pensar nisto quando se constrói uma casa ou prédio. No caso de abrigo já existente, tentar eliminá-lo, normalmente por vedação ou telamento do local.

? Algumas doenças são transmitidas através da inalação de poeira resultante de fezes secas de pombos. Em ambientes fechados (como forros de residências), recomenda-se o uso de um pano, ou máscaras no rosto e luva para retirar o excrementos.

? Para limpeza, umedeça as fezes com desinfetante à base de cloro (água sanitária diluída em água, em partes iguais) ou quaternário de amônia diluídos em água em partes iguais.

? Utilize objetos pontiagudos (espículas metálicas ou plásticas), para evitar que as aves pousem ou façam ninhos.

? Produtos com odores fortes como creolina, naftalina ou formalina afastam as aves por algum tempo.




Fontes:
Hildebrando Montenegro Neto: Sub-gerente de Vigilância do Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de São Paulo
Camila Brandão: Médica Veterinária
Gustavo Costa: Enfermeiro do Hospital São Paulo

Atualizado em 6 Set 2011.