Guia da Semana

Fotos: Rodrigo Fatique

Eram 5h30 da manhã e estávamos todos prontos debaixo do céu escuro e do frio de um sábado. O destino não era qualquer roteiro de aventura ou uma cidade "superbombada" com praias e baladas. Era apenas Aparecida do Norte, a cerca de duas horas de São Paulo. Não era também uma data especial, mas dois ônibus cheios saíram rumo ao passeio pra lá de abençoado.

Chegando a Aparecida, por volta das 8h, fiquei pensando que realmente o Brasil tem fé. Muita gente andava pelas calçadas e pontos turísticos do lugar, que tem como porta de entrada a grande Basílica, sempre reformando algum pedacinho. A missa já estava começando, então foi para lá que seguimos. Não havia mais espaço nos bancos e comungar era difícil entre tantas pessoas, mas é impressionante como um lugar tão cheio não fica abafado e muito menos deixa ecoar o som. Com teto de madeira e parede de tijolos à vista, a ventilação atinge a todos os espaços e a voz do bispo pode ser perfeitamente ouvida em qualquer lugar que estiver. No fim da celebração, uma pequena parada para abençoar os objetos que milhares de fiéis levavam, como chave de carro, carteira de trabalho, entre outros. Para quem quisesse pagar as promessas, no entanto, o local certo era a primeira igreja, bem menor do que a Basílica, mas também lotada de gente de joelhos, de diversos lugares do Brasil, com velas da mesma altura do corpo.

Atravessamos a grande ponte, observando algumas pessoas caminhando ajoelhadas. Gente de todas as idades e classes sociais reunidas por um só motivo. É de arrepiar a vontade dessas pessoas em agradecerem pelo milagre recebido. No fim da ponte, após passar por uma galeria de lembrancinhas e andar mais alguns minutos, começa a Via Sacra. A subida (só vá se tiver fôlego) reserva 15 paradas com quadros em relevo, contando a história de Jesus durante sua caminhada com a cruz nas costas, rumo à crucificação. Alguns sobem concentrados, em silêncio, outros querem mesmo fotografar e se divertir. Para esses últimos, lá no topo da rota é possível fazer uma bela imagem da cidade. É no pico que também fica uma réplica de um caixão de Jesus com gesso em cima, para que todos assinem seus nomes e façam seus pedidos. Os meus estão lá. Nessa parada, aproveite para tomar uma água no bar ou comprar o sorvete que há por toda parte: um napolitano enorme e bem, bem gelado mesmo.

E se "para descer todo santo ajuda", em 10 minutos estávamos lá embaixo novamente. É chegada a hora do almoço. Entramos no shopping e os restaurantes com nomes que remetem à religião ofereciam diversas opções. Comprei meu lanche e fui comer lá fora, ao ar livre mesmo.



Em seguida, uma passadinha rápida na feirinha. É hora das compras. São 30 fitinhas de Nossa Senhora por apenas R$ 1,00! E pingentes banhados a ouro por preços que variam entre R$ 6,00 e R$ 10,00. Mas "dai a César o que é de César". Pensando nisso, seguimos para a sala dos milagres, forrada nas paredes e no teto por fotos de pessoas que tiveram suas graças alcançadas. Entre as curiosidades mais famosas, uma estante guarda o chapéu da dupla Rio Negro & Solimões, a roupa de Paquita da atriz Juliana Barone e até uma bola de futebol assinada por Ronaldo Fenômeno, que guarda nessa mesma sala uma réplica de seu joelho em agradecimento por ter voltado a jogar futebol após os primeiros problemas.

Sem fama, porém não menos importantes, panelas de pressão estouradas e serras de máquina podiam ser observadas em outros espaços. Junto a elas, pessoas agradeciam através de cartas por não terem morrido após uma explosão ou por não terem perdido uma parte do corpo após um acidente. Milagres não faltam e ver aqueles objetos destruídos deixa qualquer um com os pêlos em pé.

Seguindo pelo destino religioso, chegou a hora de dar um "oi" para a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que reza a lenda ter sido encontrada por dois pescadores, um pegou a cabeça e, o outro, o corpo. Após esse dia, nunca mais lhes faltou peixe. Fomos para a sala que abriga a imagem. Uma fila se formava na entrada, em silêncio. Ao chegar ao local, uma grande janela de vidro guardava a santa com o manto azul e coroa dourada. Era um momento de oração, não há muito o que falar nessa hora, apenas pedir e agradecer.

Depois de tirar algumas fotos com a simulação do presépio (também há uma boa caminhada até lá), as gotas de chuva começaram a cair. Era hora de ir para casa. Seguimos até o ônibus e voltamos, calmos. Num país onde as coisas são tão difíceis, é incrível como as pessoas nunca perdem a esperança de tentar, ou pelo menos orar por uma vida melhor. Em Aparecida, é possível sentir essa energia de pensamento positivo e a certeza de que as coisas podem acontecer.

Quem é a colunista: Carolina Tavares.

O que faz: Jornalista do site Guia da Semana.

Pecado gastronômico: tapioca de banana com chocolate coberta por sorvete.

Melhor lugar do Brasil: qualquer praia.

Fale com ela: [email protected]





Atualizado em 6 Set 2011.