Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

A estrada do Tamanduá fica no alto da serra de São Luiz do Purunã. Cerca de 20 quilômetros depois de Campo Largo, no sentido norte, pela Rodovia do Café. A região tem forte apelo turístico, não só por estar encravada numa serra, mas também por conter exemplares de arquiteturas históricas. O caminho tem uma igrejinha do século 18 e acaba na Ponte dos Arcos, uma construção do século 19. Fora isso, a Cachoeira do Alemão é o ponto para relaxar em busca de energias antes de retornar ao asfalto.

O nosso passeio começou em Campo Largo. Pegamos um pouco de asfalto para aquecer os músculos, antes da estrada do Tamanduá. No meio do caminho, temos cerca de cinco quilômetros de serra para subir ao segundo planalto. O aquecimento acabou no portal de São Luiz do Purunã. Dali, seguindo para o lado direito da estrada, o núcleo de turismo oferece muitos restaurantes e locais para passar o dia curtindo a cultura dos tropeiros. Mas nosso objetivo era a estradinha do outro lado da rodovia.

Tenho a impressão de que pedalo numa crista de montanhas, pois temos belas vistas dos dois lados do caminho. O nome, Tamanduá, é uma referência à antiga fazenda proveniente de uma sesmaria, que deu origem ao povoado do local. A nossa primeira parada foi na capela Nossa Senhora da Conceição, de 1730. Fotos, bate-papo sob a sombra e vamos nós novamente. A capela fica em uma ramificação da estrada principal, bem sinalizada, mas em descida. Pra quem vai de bicicleta, o respiro sob a sombra com a capelinha ao fundo é fundamental.

À frente, tivemos mais dois objetivos, a ponte e o gran finale na cachoeira, mas só o passeio pela estrada já valeria sair de casa. O caminho foi fácil de pedalar e o ar fresco do alto da serra deixava tudo mais divertido. O que eu não tinha percebido até este ponto, é que tudo estava relativamente fácil demais, isto porque a estrada tem um pequeno declive. Na ida, isso foi imperceptível. Para quem não vai com grupo e van para resgatar depois da esbórnia na cachoeira do Alemão, é bom reservar pernas para voltar.

Sem perceber isso e sem notar o quanto andamos, chegamos ao final da estrada. Ela acaba junto à linha do trem. A Ponte dos Arcos está perto agora, pois é uma ponte só para a linha férrea. Ela foi construída no final do século 19, tem 585 metros de comprimento e 60 metros de altura. Hoje, esses números são fichinha para a engenharia moderna, mas, na época, foi um feito e tanto. E pelo jeito bem feito, pois até hoje serve muito bem aos trens e encanta quem a visita pela beleza. Pena que as chácaras em volta da ponte simplesmente impedem que o visitante tenha um bom ponto de vista para uma foto melhor. Tem arame farpado por todo lado. Sem uma vista lateral privilegiada, nos resta uma espiada sobre a ponte antes que o trem venha.

Depois da ponte, fomos para a última parada que ficou um pouco para trás. A Cachoeira do Alemão tem sua entrada cerca de um quilometro antes da ponte. É uma porteira sem sinalização, em frente à linha do trem. A entrada antiga e sinalizada foi desativada, gerando confusão e frustração em quem preferiu pular a porteira fechada a entrar na aberta e perguntar. Foi assim que somente quatro de um grupo de 15 pessoas a encontraram.

A cachoeira tem um curso d'água pequeno, mas muito plástico. As rochas desse planalto dão um toque especial a uma queda de cerca de quatro metros. Na parte de baixo, o tal do Alemão represou o curso fazendo uma piscina. Em temporadas, tudo aquilo deve virar uma farofa só, já que o campo abaixo da cachoeira é tomado por barracas em esquema de camping selvagem.

Depois do turismo, é que começa o esporte pra valer. A volta se traduz num pedal intenso. Quem, como eu, não percebeu o declive inicial, sai achando que teria apenas uma subida pela frente. Mas, depois de passar tranquilamente por este esforço, começo a perceber que a carga apenas diminuiu, mas continuo a subir e as pernas trabalham incessantemente. A cada curva contornada, parece que a estrada esticou mais um pouco, pois não acaba. É preciso muita paciência para voltar para o asfalto. E, mesmo depois de conseguir isso, precisamos de mais uma dose de vontade até atingir o topo da serra, antes de começar a descer em direção a Campo Largo. A descida é um prazer à parte.

No total, percorremos cerca de 80 quilômetros. Para quem quiser somente a parte de passeio, é aconselhável seguir de carro até o portal do São Luiz do Purunã. Lá, há um local para deixar os carros e você fica somente com o melhor da festa.

Quem é o colunista: Fotógrafo e editor do site Onde Pedalar.com

O que faz: Fotógrafo editorial.

Pecado gastronômico: Um só? Na Bahia, Biju; em São Paulo, pizza; em Curitiba, Strogonoff de nozes e, em Belo Horizonte, feijão.

Melhor lugar do mundo: Aquele que te faz se sentir bem, equilibrado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.