Guia da Semana

Sylvia Barreto
Obra exposta no Museu da Língua Portuguesa

Já havia um tempo que estava louca para conhecer o Museu da Língua Portuguesa. Meus amigos que tinham visitado o local só falavam bem. Aproveitei uma tarde de chuva em São Paulo para ver se eles estavam certos. Com sofreguidão, subi os sessenta e sete degraus que separam a estação metroviária da Luz do portão de entrada do meu esperado passeio.

O museu, que ocupa os cento e seis metros de extensão do prédio da Estação da Luz, se divide em 3 andares. Comecei a visita pelo primeiro, o qual está ocupado pela exposição temporária Grande Sertão: Veredas. A famosa obra de Guimarães Rosa é homenageada pelos cinqüenta anos de existência. O visitante pode conhecer a história do livro por sete caminhos. Páginas imensas são penduradas no teto e lidas só depois que uma corda é puxada para que elas cheguem ao leitor. É possível, ainda, ver outros trechos em barris cheio de água com o auxílio de um espelho, em tijolos e diversos objetos usados em construções.

Concebida por Bia Lessa, a mostra temporária é a primeira desde a inauguração do museu, em março de 2006. Lessa, além de expor a obra de Guimarães, colocou críticas e reportagens sobre o assunto. A trajetória é acompanhada por uma gravação com a voz de Maria Bethânia, que narra as últimas catorze páginas do livro. Depois de brincar de ler no primeiro andar, peguei o elevador e fui para o segundo. Um ambiente moderno toma conta do espaço que mostra a origem da língua portuguesa. Um telão percorre a sala de exposição de início ao fim em uma das paredes. Onze filmes são projetados ao mesmo tempo, cada um com duração de 6 minutos. Os temas são variados, mas todos são sobre as influências que o português falado no país sofreu, e ainda sofre, pelos próprios brasileiros.

Sylvia Barreto
Na outra parede do pavimento, uma linha do tempo ajuda a reviver a história da língua portuguesa.Existem, ainda, vários terminais multimídia no meio do pavilhão. São chamados de Palavras Cruzadas e exibem informações sobre os idiomas que ajudaram a formar o português falado no Brasil. E, para minha diversão, o andar tem também uma salinha chamada de Beco das Palavras. Entrei e vi que duas senhoras brincavam em uma das 3 mesas encontradas no ambiente. Imagens com pedaços de palavras aparecem em cada mesa, e a função do jogador e juntá-las.

O terceiro e último andar estava um pouco cheio. As pessoas chegavam ao auditório para assistir à sessão que iria começar em poucos minutos. Tinha, ao menos, 180 lugares. Sentei 4 fileiras atrás de um grupo escolar e desejava que eles ficassem quietinhos quando o filme começasse. Todos a postos, a tela se ilumina e a voz de Fernanda Montenegro invade o ambiente. Ela fala sobre a importância na língua na formação da identidade cultural de um povo.

O filme termina e para espanto de todos, a tela levanta e dá espaço à um lindo anfiteatro, chamado Praça da Língua. Saí de minha cadeira e me alojei de maneira que pudesse ver o que estava para acontecer. Tudo se apagou. O teto se iluminou. Parecia que eu estava em um planetário. Clássicos da poesia e prosa da língua portuguesa são apresentados em som e imagens luminosas na escuridão. Quando termina, aparecem escritos no chão trechos do recital.

Fiquei muito tempo olhando para o solo. Fui a última a sair, queria ler tudo. Mas, enfim, tinha que ir embora. Do lado de fora, mais chuva. Corri para as escadas e desci os degraus molhada e com a certeza que meus amigos estavam certos quando falavam bem do Museu da Língua Portuguesa.

Leia a coluna anterior de Sylvia Barreto:

  • Aventura em alto-mar: a colunista conta sobre seu passeio de escuna e das belezas que Florianópolis reserva.


    Saiba mais sobre o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo

    Quem é a colunista: Sylvia, louca por viagens e livros.
    O que faz: jornalista.
    Pecado gastronômico: : chocolate, chocolate e... chocolate.
    Melhor lugar do Brasil: qualquer praia com água cristalina.

    Fale com ela: [email protected]

  • Atualizado em 6 Set 2011.