Guia da Semana

Foto: Artur Santa Cruz


Mais um dia de volta para casa. Como sempre, mais uma aventura. Às vezes acho que tenho parentesco com Indiana Jones. Mas hoje a coisa não é tão grande, pois não faz sete horas que estou presa num vagão, no meio da enchente, e também não faz 12 horas que estou no trânsito que vem da praia no primeiro dia do ano. Mas faz 40 minutos que estou sentada no banco da estação Tamanduateí de trem, tentando entrar no vagão. Parece pouco, mas para quem já enfrentou outros 30 minutos no metrô lotado, subiu milhares de escadas e pegou um microônibus, esse tempo parece uma eternidade. Vou ser sincera, não estou exatamente tentando subir no vagão, pois ainda não perdi a sanidade.

Um trem quebrou aqui e ficou parado por uma hora até ser rebocado, segundo as conversas que tenho ouvido. Poderia e até deveria ser um fato isolado, mas não é. Ontem preferi pegar o ônibus, que passou reto pelo ponto, mesmo com seus bancos vazios. Quando pedimos para ele parar no farol, a resposta foi clara: "eu já passei, agora não posso abrir a porta". Era o número 1085. Eu decorei para denunciar para a empresa, que não atende ligação de celular. Logo, desisti.

A questão é que, nesta cidade, não é possível chegar cedo em casa, assistir ao Jornal Nacional ou fazer um pouco de "nada" no sofá.

Esta cidade virou um inferninho simpático, até bastante frio nesta época do ano. Seria cômico, se não fosse trágico.

E como se não bastasse a situação do transporte público que eu poderia ficar horas descrevendo, mas acredito que ela fale por si só, as pessoas acham divertido entrar no vagão como bois quando abre a porteira. Além de empurrarem, elas entram rindo, cantando, gritando, tentando falar no celular... Acham graça.

Conseguir mexer o braço no trem é luxo. Conseguir entrar sem cair naquela vala entre a plataforma e o carro, sem torcer o pé ou levar um belo soco nas costas, também. Não vejo muito nos jornais, mas é fato que, quando o trem não quebra, quando não há enchente ou quando o motorista do ônibus pára no ponto, tem sempre um idiota para se jogar na linha vermelha e refazer a confusão.

Bem-vindo ao mundo da condução, onde você não tem hora para sair e muito menos para chegar.

Quem é a colunista: Carolina Tavares, usuária assídua do transporte público

O que faz: Jornalista do site Guia da Semana

Pecado gastronômico: chocolate

Melhor lugar do Brasil: qualquer um sem trânsito, com praia, pouca gente e pouco barulho

Fale com ela: [email protected]





Atualizado em 6 Set 2011.