Guia da Semana

Fotos: scx.hu


Inspirados pelas características climáticas, alguns a chamam de terra da garoa; pela análise econômica, ela também ganhou o título de centro financeiro do país. Mas, vendo por um olhar mais intimista, percebemos a capital paulista com uma pluralidade ímpar.

De acordo com pesquisa divulgada pela Prefeitura do município, a população que vive na cidade ultrapassa os 10 milhões de habitantes, dentre esses se destacam cerca de 150 mil estrangeiros. Trocando em miúdos, as estatísticas apontam que mais de 10% das pessoas, que vivem em São Paulo, não tem nacionalidade brasileira. Isso sem levar em conta os descendentes de imigrantes que sempre estiveram presentes, no contexto histórico e geográfico do local.

Com base nesses dados, o antro paulistano pode ser considerado um dos maiores pólos de colônias estrangeiras do mundo. O sincretismo resultante das misturas se evidencia nas características de homogeneidade única. Um tour pelas ruas dessa terra de vários povos permite conhecer um pouco de vários países como Itália, Japão, Rússia, Armênia, Grécia, África...

Made in Japão
Quem vista a Liberdade, na região central da cidade, tem a impressão de estar em um dos redutos de Tókio, capital do Japão. Na Rua Galvão Bueno, ao lado do Viaduto Cidade de Osaka, Torii, o portal vermelho, dá as boas-vindas a quem chega. Mais adiante, lanternas orientais "suzuranto" iluminam o caminho. É comum se deparar com ideogramas japoneses nas legendas e placas dos estabelecimentos.

Com destaque para o varejo, o bairro concentra um comércio, que oferece uma grande variedade de produtos da cultura japonesa, de ingredientes culinários a espadas samurais. Para quem gosta de comida típica, vale degustar o tradicional sushi em um dos restaurantes do local.

Mas como se deu a formação desse recanto oriental? A história da Liberdade se confunde com a história da imigração japonesa em São Paulo. Assim que terminaram os contratos de colhedores de café no interior, em meados de 1915, os japoneses migraram para um centro cosmopolita que pudesse oferecer melhores condições de vida do que a da lavoura. E assim foram criados os embriões do bairro. O Museu da Imigração Japonesa, sediado na Liberdade, dispõe dados históricos aos visitantes.

A Bela Vista do Bixiga
Porpeta, macarronada, batucada e futebol. A mistura inusitada, que parece contraditória, protagoniza no centro da cidade um recanto de cantinas italianas, que abriga também a Vai Vai, uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo. Em meados do século XVIII, o charmoso bairro do Bixiga foi povoado por dois grupos específicos, os negros recém libertos e os italianos que chegavam ao país, naquela época. No início era uma imensa torre de babel onde ninguém entendia ninguém, mas acabaram se acostumando uns com os outros e conjugando costumes culturais.

É bom lembrar que o "e" da palavra Bixiga passou a "i" devido à boa fala popular. Já o vulgo Bela Vista, possivelmente surgiu por que do alto do morro da Rua Rocha é possível ter uma bela vista da cidade, da Avenida Nove de Julho, da Rua Paim, da Praça 14 Bis, do Vale do Anhangabaú, e de outros marcos paulistanos.

A comunidade negra, volumosa no Bixiga, era o contraponto dos italianos em termos de futebol, a maioria era corinthiano. Quando jogava Palmeiras e Corinthians, era uma festa de vitrolas, cada uma tocando o hino de seus clubes. Era uma festa de xingamentos tudo na base da amizade. Tetsuno, pra cá e peidorreiros para lá. Mas com toda essa rixa futebolística a convivência entre italianos e brasileiros era boa. A comunidade negra tinha como a maior bandeira do Bixiga o cordão do Vai Vai, que nos anos 1960, quando o carnaval foi oficializado, virou escola de samba e ganhou 12 títulos.

Até os dias de hoje, o bairro conserva costumes culturais, atendendo saudosos paladares com a culinária italiana tão presente em seus restaurantes e na anual Festa de Nossa Senhora de Achiropita, que brinda com primor ao povo napolitano. E, como não poderia deixar de ser, os ouvidos exigentes são agraciados com os amistosos ensaios da Vai Vai. Conforme sugere o hino da escola: "Quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver...".

A multiplicidade do Bom Retiro
Conhecido por abrigar um dos mercados mais populares de São Paulo, nos arredores da Rua José Paulino, o bairro do Bom Retiro revela uma história curiosa, pautada pela imigração estrangeira no país. No século 19, a região era formada por algumas chácaras e sítios, como a "Chácara do Bom Retiro" que nomeou o local. Estas propriedades eram usadas como retiros nos finais de semana pela população mais abastada da cidade.

Com o tempo, o caráter de lazer do local mudou, dando espaço a uma nova fase: havia ali uma hospedaria de imigrantes que, mais tarde em 1988, foi transferida para o Brás. Mas muitos destes imigrantes: a maioria italianos, acabaram por se instalar no próprio bairro. Logo vieram os portugueses, turcos, sírios, libaneses, judeus, que passaram a exercer atividades comerciais desenvolvidas na Rua José Paulino.

Atualmente, o Bom Retiro é uma mescla de várias culturas. Andando pelas ruas do bairro é possível ver judeus ortodoxos, restaurantes e docerias de comida judaica, a sinagoga mais antiga de São Paulo e o Taib - Teatro Alternativo Israelita Brasileiro. Encontra-se também em nomes de ruas, cantinas e instituições ligadas à Igreja Católica, a origem italiana da sua urbanização. Igrejas presbiterianas, restaurantes e a maioria dos estabelecimentos comerciais marcam a presença coreana. Ainda há gregos, lituanos e bolivianos entre os moradores do bairro.

Atualizado em 6 Set 2011.