Guia da Semana

Foto: sxc.hu


São 19h, em ponto. Cerca de 500 pessoas se reúnem na capital paulista, mais precisamente na estação Paraíso, sentido Vila Madalena. Dentro dos vagões, livros, celulares e jornais disfarçam as centenas de cuecas e calcinhas à mostra. Assim foi o primeiro No Pants Day, uma das últimas manifestações de Flash Mob brasileiras, que vêm popularizando por esses lados as ações de aglomerações sociais iniciadas na Europa e nos Estados Unidos.

Avesso a discursos políticos e rotinas diárias, o movimento é organizado através de redes sociais como o Twitter, o Facebook e o Orkut, nas quais membros de comunidades combinam aparições-relâmpago em pontos de suas cidades, com o objetivo de quebrar a rotina. "Os flash mobs são apenas uma forma de dizer que o cotidiano pode ser alterado. Não estamos defendendo nenhuma ideologia", explica Luana Moura, integrante da comunidade Mobiótico.

O começo

O primeiro flash mob bem sucedido no mundo aconteceu há seis anos, em Nova York. O jornalista Bill Wasik convocou mais de 100 pessoas de sua lista de e-mails para comparecer ao 9º andar de uma loja de departamentos. Chegando lá, eles ficaram reunidos ao redor de um tapete de alto valor, simulando uma discussão sobre a compra em grupo de um "tapete do amor". A pequena multidão se dispersou minutos depois, sem a necessidade de ação policial.

Após essa manifestação, outros mobs começaram a pipocar no mundo. Um dos casos mais famosos é o do World Jump Day, que mobilizou pessoas de diversas nacionalidades para pular ao mesmo tempo, em 20 de julho de 2006, com o objetivo de alterar a órbita da Terra. Em Berlim, indivíduos foram convocados a comer bananas em uma loja de departamentos. Já em Roma, os participantes de um mob chegaram a ocupar uma livraria inteira para fazer perguntas ao balconista sobre um livro inexistente.


Criado pelo Improv Everywhere, o vídeo do Frozen Grand Central já foi visto por mais de 17 milhões de pessoas

Entre os mobbers, o Improv Everywhere é o grupo mais conhecido. Começou por acaso, após o fundador Charlie Todd ser confundido com o cantor Ben Folds. A partir daí, percebeu que poderia criar eventos mobilizando pessoas através de sua rede de contatos, o que resultou em ações famosas, como o Frozen Grand Central, onde um público de 200 pessoas fingiu estar congelado por um minuto, em uma estação de trem de Nova York.

Regras básicas

Apesar do aparente caráter anarquista, existem algumas regras em um flash mob. Atos ilícitos são proibidos, assim como protestos de cunho político ou algo que agrida a ideia de diversão e liberdade de expressão. As ações costumam ser secretas, para evitar problemas com seguranças particulares e policiais. Desse modo, os próprios participantes geralmente ficam a par dos detalhes na última hora. "Os organizadores chegam um pouco antes e falam o horário e o que irá acontecer. Ao término, todos arrumam o local e depois se dispersam", explica a mobber Gabrielle Diola.

Caráter viral

Devido ao fator surpresa e geração de mídia espontânea, diversas empresas passaram a utilizar flash mobs para fins publicitários. O resultado pode ser conferido em virais disponíveis na Internet. Um caso emblemático é o da operadora T-Mobile, que convocou 13,5 mil pessoas a comparecer na Trafalgar Square, em Londres, e cantar a música Hey Jude, dos Beatles. Com microfones distribuídos e um telão, a praça tornou-se um imenso videokê. No final de abril, o público londrino foi novamente alvo do marketing promocional via mob: para divulgar o próximo show da cantora Beyoncé na cidade, 100 dançarinas se reuniram para apresentar uma performance da música Single Ladies


A Trident usou o mob para divulgar o show da cantora Beyoncé em Londres

Mob Brasil

Mesmo com menos repercussão e adeptos, o Brasil já começa a entrar na agenda mundial do Flash Mob. Um bom exemplo é o Pillow Fight Day, realizado recentemente em São Paulo. O evento contou com adeptos em mais de 20 cidades de todo o mundo, como Sidney, Londres e Paris. Na base do boca-a-boca, atraiu cerca de 500 pessoas para a praça do Obelisco, Zona Sul da cidade. "Procuramos utilizar o elemento surpresa e tomar todas as precauções para que a ação não seja encaradas como vandalismo. Assim podemos aproveitar o espaço urbano de um modo descontraído e alternativo", explica Caio Komatsu, um dos organizadores do Pillow Fight no Brasil.

A frase de Daniel pode apontar um caminho singular para a cultura do Mob nacional. Ações de contestação? Reflexo da cultura web? Ou simplesmente um meio de entretenimento, organizado e administrado por si mesmo? Seja como for, ao que tudo indica, o Flash Mob aparece como uma alternativa criativa para aliar o entretenimento offline com as ferramentas proporcionadas pela era 2.0. Ou talvez as pessoas estejam apenas percebendo que, em vez de pegar no joystick, seja mais interessante conferir os atrativos do mundo virtual na realidade.

Atualizado em 6 Set 2011.