Guia da Semana

Foto: Marcelo Ulisses Machado/ prefeitura de São Paulo


São 22h do sábado. Na esquina da rua General Couto de Magalhães, na Nova Luz (antiga Cracolândia), um homem de regata clara, por volta dos 30 anos parece aguardar para atravessar a rua; outro, aparentando 35 anos, usa camiseta branca e caminha fumando um cigarro. Este não percebe, mas esta sendo perseguido. A abordagem é rápida e logo dois homens o derrubam no chão e ele é assaltado. Parece relato da vítima, mas não, a ação foi captada por uma das lentes das câmeras de segurança instaladas nas ruas de São Paulo. Em outra época, situações como esta passariam despercebidas pela cidade mais populosa do hemisfério sul, com 10 milhões de habitantes, porém em algumas regiões de São Paulo a realidade já é outra.

A Guarda Civil age de acordo com as imagens que recebe e soluciona o problema encaminhando para o órgão responsável, como por exemplo, a CET numa queda de árvore na via, ou a PM em caso de furto (embora mande nesse caso uma viatura própria, resolvendo o problema quem chegar primeiro). O Chefe Central de Telecomunicação da GCM, Inspetor Francisco Marino calcula que, entre a análise da situação e a resolução do problema, com a chegada do grupo responsável, o tempo perdido é de três a quatro minutos.

Estabelecida na sede da Guarda Civil Metropolitana em 2006, na rua Treze de Maio, Bela Vista, o gerenciamento eletrônico de câmeras formou-se em um espaço com rede individual, sistema de cabeamento de fibra ótica e salas protegidas por vidros filmados. O projeto foi dividido em três diferentes fases, com instalação gradual dos equipamentos, devido às necessidades técnicas que antecedem à colocação das câmeras que vão da instalação dos cabos, disponibilização de energia, implantação de postes e preparação dos pontos.

Foto: Leonardo Filomeno
O ínício

A primeira fase iniciou com 13 câmeras monitoramento a região central da cidade, depois, mais 22 foram instaladas, mapeando juntas 96 ruas de São Paulo, em pontos como o Centro Novo (Praça da República), a rua 25 de Março, a Nova Luz, Vale do Anhangabaú e do Centro Histórico (praça da Sé). Com a parceria da Telefônica, a região fora escolhida por ter a maior circulação de pessoas e automóveis.

O sistema apontou resultados positivos. Segundo as estatísticas da Secretaria Estadual de Segurança Pública, nos seis primeiros meses de monitoramento, em torno de 700 ocorrências foram registradas e o índice de criminalidade caiu 15% nas regiões fiscalizadas pelas câmeras. No primeiro semestre de 2007, a redução foi ainda maior: 18%. Isso se deve as imagens que são compartilhadas com o Centro de Operações da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Copom), permitindo que esta veja o que acontece nas ruas e intervindo junto à população, mas sem manipular o equipamento. Em 16 meses de operação, foram flagrados diversos tipos de ocorrências, como acidentes de trânsito, atropelamentos, furtos, consumo de entorpecentes e depredações. As imagens também possibilitaram a captura de foragidos da Justiça.

Essas passam das lentes das câmeras para um dos em seis monitores de plasma de 42 polegadas, ou para 14 monitores de 17 polegadas, com capacidade para abrir em até 16 quadros de tela, de acordo com as necessidades. São quatro equipes que dividem turnos e cada inspetor da GCM tem a capacidade de monitorar 12 câmeras simultaneamente, mantendo em funcionamento continuo o sistema, 24 horas por dia. A ampliação das cenas captadas chega a detalhes como o número da placa de um carro, por exemplo. A tecnologia dessas câmeras, diferente das usadas pela CET, permitem um giro de 360º e o alcance de até um quilômetro.

As câmeras da GCM (à esquerda) giram 360%, a comum não tem esse recurso


Ponto de vista

A maioria das pessoas acha que as câmeras inibem de certa forma a ação dos infratores, porém alguns, apontam ressalvas. Como é o caso do auxiliar contábil Márcio Pereira, 23 anos. "Eu me sentiria mais seguro se tivesse um policiamento mais ostensivo nas ruas. Já fui assaltado duas vezes nas ruas próximas ao Detran e não posso esperar essas câmeras chegarem lá para eu poder andar seguro", desabafa. Já o comerciante Antônio dos Santos, 35 anos acredita que as câmeras podem assustar outros tipos de infratores. "Trabalho à noite nas ruas do centro e já vi muito moleque de rua sendo agredido por policiais, acho que agora eles têm que tomar mais cuidado, senão vão aparecer na tela do Jornal Nacional."

A segunda fase principiou no 2º semestre de 2007, quando mais cinco câmeras foram instaladas na região da Paulista, a maior avenida em concentração de empresas no Brasil, monitorando os 2.800 metros, da praça Oswaldo Cruz até a rua da Consolação, nos dois sentidos, incluindo pistas e calçadas. Até maio deste ano, mais 59 câmeras estarão instaladas para vigiar outras regiões, incluindo o Largo do Arouche, o Glicério, o Ibirapuera e Pinheiros. Num total, serão 369 vias públicas monitoradas em São Paulo. A Febraban, Federação Brasileira de Bancos, patrocina a segunda fase, com um investimento de R$ 3,8 milhões.

Foto: Leonardo Filomeno
Projetos futuros O Inspetor Marino, fala da terceira fase do projeto, ainda em estudo de viabilidade. "Ela pretende compreender a fiscalização das Marginais Pinheiros e Tietê, órgãos municipais e escolas públicas, criando uma rede que compartilha dados entre a GCM, CET e Polícia Militar de uma forma que todas transmitam e recebam as informações captadas pelos seus equipamentos e dos outros, reduzindo assim o custo do investimento e aproveitando a tecnologia utilizada por outra companhia."

Para ampliar o número de câmeras nas ruas da cidade, a GCM pretende transferir ainda nesse semestre para a região da Nova Luz, em um prédio de seis andares localizado na Rua Agenor Couto de Magalhães, 444, Centro. Lá funcionarão o Centro de Monitoramento e o Centro de Comunicação, com ampliação de equipamentos e um link de transmissão direta com a Polícia Militar.

Sobre a GCM
?Criada em setembro de 1986, pela Lei Municipal 10.115, a Guarda Civil Metropolitana é vinculada à Secretaria do Governo Municipal. É uma corporação armada e uniformizada que tem como competência legal a proteção dos bens públicos municipais (ruas, parques, prédios públicos e monumentos) e a colaboração com a segurança pública. Atualmente opera com 6.392 guardas, sendo 4.745 homens e 1.647 mulheres.

Atualizado em 6 Set 2011.