Guia da Semana

Do esplendor da prata de séculos atrás, pouco pode ser encontrado atualmente no país - a não ser as minas em Potosí, que já foi uma das cidades mais ricas da região de veias abertas da América Latina, como definiu o escritor Eduardo Galeano. Mas a Bolívia respira até hoje sua história, presente nas influências culturais incas e, principalmente, indígenas, já que a maior parte da população é descendente dos povos aimarás.

Cenários naturais exuberantes se espalham de norte a sul da sua pequena extensão territorial. Navegar em um dos lagos mais altos da Terra, ver neve, vulcão, lagoas multicoloridas ou, ainda, se impressionar com a sensação de infinito no maior deserto de sal do mundo são experiências únicas - e que podem ser vivenciadas desembolsando muito pouco.

A primeira regra para se aventurar em terras bolivianas é abrir mão do conforto e resgatar todo o espírito mochileiro que existe dentro de você. As infraestruturas de hospedagem e restaurante podem deixar a desejar a quem espera sofisticação. Desapegar-se de certas comodidades pode valer bastante a pena para quem quer uma experiência com inesquecíveis flashes mentais. Gringos de várias nacionalidades já perceberam isso e não são poucos os que incluem o país num roteiro de viagens pelo continente.

Nas redondezas da capital

Foto: Marjorie Ribeiro

Chola passando pelas ruas centrais de La Paz

Do Brasil, a maioria dos voos rumam à capital administrativa La Paz (a constitucional é Sucre) ou a Santa Cruz que, na maioria das vezes, acaba sendo somente uma cidade de passagem. Há ainda os que preferem fazer o trajeto terrestre, passando por Corumbá, no Mato Grosso, para experimentar a viagem pelo popular "trem da morte" (apelido - hoje mais assustador do que realista - do trem que liga Quijarro a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia).

La Paz é a cidade com a maior altitude da América do Sul, a cerca de 3.400m. Por isso, as dores de cabeça e de ouvido, principalmente para os que vão de avião, podem ser inevitáveis. Para aliviar, a dica é tomar um chá de coca assim que pisar na capital. O consumo da folha no chá ou pela mastigação é comum no país e faz parte da cultura e tradição dos povos andinos há séculos - e ainda hoje é confundido com os danos nocivos da cocaína. No Museu da Coca, é possível compreender melhor todo o misticismo e as variantes da planta.

Perto do museu, fica a Calle de las Brujas, parada obrigatória para quem quer fazer comprinhas baratas dos típicos vestuários e artesanatos bolivianos. Pelas ladeiras de pedras, caminham as cholas, mulheres com aquelas saias compridas e coloridas que carregam seus bebês nas costas. Qualquer tentativa de tirar foto delas pode ser mal-sucedida, já que elas detestam o assédio dos turistas - com exceção das que ficam propositalmente ao lado de pontos turísticos e cobram a cada foto tirada.

Próximo a La Paz está Chacaltaya, pico da Cordilheira dos Andes, onde neva durante os meses de inverno. Outro atrativo interessante são as ruínas de Tiahuanaco, onde há traços da civilização Inca deixados no país. Todos os passeios podem ser agendados nas próprias agências de viagens espalhadas pela capital.

Lago Titicaca

Foto: Marjorie Ribeiro

O Lago Titicaca pode ser contemplado tanto na Bolívia quanto no Peru

Um dos pontos famosos pelos mochileiros que fazem o percurso do país para Machu Pichu é o Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, que divide a Bolívia e o Peru. Na parte boliviana, o destino é a cidade de Copacabana, um pequeno e charmoso vilarejo, mas sem muitas atrações turísticas. Por isso, a dica é descer em Copacabana e pegar a primeira embarcação (com mala e tudo) para Ilha do Sol, esta sim deslumbrante e merecedora de pelo menos uma noite de estadia.

A viagem de barco já é impressionante por si só, por conta da imponência azulada daquelas águas vistas somente nas aulas de Geografia. Importante: não se esqueça de passar protetor solar, independente do frio que esteja e da quantidade de casacos de lã no seu corpo, pois o rosto fica bastante vulnerável devido à proximidade dos raios solares. A chegada a Ilha do Sol reserva uma paisagem extraordinária de montanhas, ruínas e o misticismo de um local que era conhecido como a terra do Pai Sol pelos incas.

A parte sul da Ilha é a mais próxima e em que melhor pode ser observada o nascer do Sol; já a norte, é a que têm a visão privilegiada do pôr do sol. Independente de qual seja a sua escolha, hospede-se em uma das pousadinhas e não perca por nada nesse mundo o fenômeno solar - será histórico! Os restaurantes localizados mais ao topo da Ilha oferecem pratos de pescados em mesas com uma vista abençoada do Titicaca.

Salar do Uyuni

Foto: Marjorie Ribeiro

Bandeiras de diversos países dão cor ao deserto de sal do Uyuni

Outro destino imperdível para quem for à Bolívia é o Salar do Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, que foi formado pela evaporação das lagoas de águas salgadas. Para chegar, é necessário ir até Uyuni, cidade que fica bem ao sul do país. Lá, várias agências de viagem organizam o tour de três a cinco dias, a bordo de um veículo 4x4, pelo deserto. Por mais desconfortável que possam parecer o clima e a viagem longa, o cenário que lhe espera compensará pelo fascínio, que inspirou nada menos que a pintura surrealista de Salvador Dali.

E surreal é exatamente o que você vai pensar ao se deparar com a sensação de infinito e o contraste fascinante de cores do tapete branco de sal e o céu azul - que aparenta ser o céu mais azul do planeta. Em alguns dias do verão, depois que a neve derretida alagar o Salar, uma película de água forma uma espécie de espelho sob o solo, onde o céu é refletido num verdadeiro espetáculo aos olhos.

O percurso inclui ainda paradas na extração de sal, Ilha do Pescado (porção de terras cheia de cactus), vulcões, Árbol de Piedra, além de lagoas verdes e rosadas, onde podem ser avistados flamencos em pleno deserto. Durante as noites, os turistas se hospedam em hotéis de sal. É isso mesmo, cama, mesa, cadeiras e paredes feitas de sal - o mais bonito deles é o Palácio de Sal, digno de flashes fotográficos e mentais.

Atualizado em 6 Set 2011.