Guia da Semana

Muitos barcos fazem uma viagem pelo Nilo, mas em geral, todos costumam ser espaçosos e guardar um charme meio nostálgico, quase como os bistrôs franceses, em relação aos grandes transatlânticos pasteurizados. A viagem mais usual vai de Luxor a Assuan, ou vice-versa, mas existem cruzeiros mais longos por regiões menos turísticas como Abydus e Dendera.

Assuan é um local de veraneio, onde os europeus passam férias nos resorts espalhados pelas margens do Nilo. É um local aprazível e tranquilo. Desde de 1960, é conhecida por abrigar a chamada Represa de Assuan, feita para gerar energia e levantar a industrialização planejada pelo presidente Nasser. A represa criou o enorme Lago Nasser, que inundou o deserto até a fronteira com o Sudão, deixando muitos templos antigos submersos. Os mais importantes, como Abu Simbel e Philae, foram relocados em áreas mais altas com ajuda internacional.

Em Assuan localiza-se o Hotel Old Cataract, célebre pelo filme Morte no Nilo, baseado no livro homônimo de Agatha Christie. Por lá, há as chamadas felucas, que são barcos de passeio típicos da região, criam um clima que inspira descanso e reflexão.

Seguindo o Nilo, na direção norte, a paisagem é deslumbrante. A margem verdejante de tamareiras contrasta com o deserto árido e montanhoso e é emoldurada por um céu constantemente azul.

Como o rio é estreito, durante todo o percurso vai se tendo um desfile de vilarejos e ruínas, que podem ser visitadas em rápidas paradas. A população local usa o Nilo como meio de transporte e subsistência. Cenas insólitas de embarcações improvisadas divertem quem se detém a apreciá-las. Num passeio de feluca, um menino se agarrou a nosso barco e seguiu catando por um bom tempo e ganhou boas gojetas, mas até agora não sei dizer se deram dinheiro a ele pelo show ou para desistir da carreira artística.

Todos acenam para os barcos turísticos, que são uma atração para os egípcios, mesmo já fazendo parte da paisagem. Nesta viagem que fiz, de verdade, o que mais importou não foi o destino final, mas sim o percurso. Lembrar de toda a antiguidade desta civilização sobre a qual o historiador grego Heródoto chegou a dizer: "O Egito é uma dádiva do Nilo", com suas cheias, que fertilizavam as margens permitindo que o país fosse o celeiro do mundo antigo.

Deslizar na cadência da correnteza e desfrutar de uma paisagem milenar, nos faz quase delirar ao ver uma construção que poderia ter servido de manjedoura de Jesus. Nela, havia até os burrinhos perfilados.

Um mico que todo mundo tem que pagar é comprar uma roupa egípcia e participar da festa à fantasia promovida pelos navios. Na primeira vez que estive no Egito, no barco em que viajei, havia praticamente europeus e foi quase um velório, de tão desanimado! Já nas duas vezes que fui com grupos de brasileiros, todos entraram no clima e se produziram para o evento. Diversas versões de Cleópatra surgiram e foi muito divertido. A tripulação do barco se encantou principalmente com os "cabelos" das brasileiras, objeto de desejo na cultura árabe, sempre coberto por lenços em público.

Curtir o entardecer navegando no Nilo, só seria mais perfeito se fosse com um típico chimarrão! E não é que os gaúchos não esquecem da cuia e nem da bomba?

Brindemos ao Egito!

Fotos: Arquivo Pessoal

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A turquia encantada


Aventuras no Chile - parte 3


Quem é a colunista: Mylene Friedrich Rizzo.

O que faz: Fala sobre história no curso "Encontros com Arte" e acompanha grupos de viagens culturais.

Pecado Gastronômico: doce de ovos.

Melhor lugar do mundo: é o próximo para onde vou viajar.

Fale com ela: mrizzo@terra.com.br ou acesse seu blog Viajando com Arte.

Atualizado em 19 Set 2011.