Guia da Semana

Foto: Wanderlei Celestino/ site oficial da prefeitura


A manhã paulistana desponta na aurora em meio aos edifícios que parecem querer romper os céus cor de gris. É mais um dia frio e nublado, onde os olhares apressados se misturam ao meio de uma multidão que teima em não parar. Aqui o relógio é o alvo primordial daqueles que vivem correndo atrás de algo que jamais alcançarão, o tempo consumido.

Passo em frente a Praça Roosevelt, onde frondosas árvores estão espalhadas em meio à selva de pedra metropolitana. Horas atrás essa mesma região acobertara, na penumbra notívaga, a luz alegre e pulsante dos jovens, junto ao ruído de copos tilintando nas mesas, com conversas desconexas e obscenidades faladas ao bel prazer. Agora, num tom mais austero e sóbrio, resta somente as olheiras e o ar cansado dos que persistem em enfrentar a noite.

Caminho em sentido a Avenida São João. Um turbilhão de coisas acontece ao mesmo tempo, uma sinestesia de sons e cores atropela os pensamentos dos mais dispersos. Transeuntes abusam dos ipods em seus aparelhos auditivos - azar o deles - perdem a majestosa entoada do andarilho poeta trovador, abusando da arte do improviso para angariar um punhado de sorrisos, outro tanto de olhares gentis, garantindo o suficiente para nutrir a esperança de mais um dia e o alimento por algumas horas.

Não há nada de novo no velho centro da capital.

O ar carregado de fumaça dos carros e cigarros une-se ao tom melancólico e frio das calçadas do Viaduto do Chá. Uma vidente escolhe a próxima vítima de suas artimanhas. Em um átimo ataca, proferindo novas (falsas) esperanças de um amor que desponta ou uma antiga paixão que rejuvenesce.

O que dizer dos grandes artistas das ruas - eles mesmos, os camelôs - com um espetáculo curto e criativo, cativa o executivo de terno com risca de giz na Rua Direita, a doméstica de bordados e badulaques multicoloridos da XV de Novembro e a criança de jardineira que vai arrastada pela mão da senhora gorda e apressada da Ladeira Porto Geral. De uma hora para outra aparece à atração especial - o rapa - fazendo os produtos das barracas desaparecerem num segundo, para logo após surgirem nos mesmos lugares.

E dispensando a velocidade dos indivíduos com quem cruzo nas ruas, avenidas e alamedas, faço meu roteiro turístico. Consciente que há muito mais para conhecer no centro dessa cidade, uma beleza que está presente - não em construções ou lugares históricos - mas nos personagens que a forma.


Quem é o colunista: Leonardo Filomeno

O que faz: Pratico esporte e estudo jornalismo

Pecado gastronômico: Pizza e comida japonesa.

Melhor lugar do mundo: Ainda preciso conhecer

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.